Autores
Henrique Gualberto Vilela Penha – Doutor e professor – Instituto Federal do Triângulo Mineiro, campus Uberlândia (MG) – henriquegualberto@iftm.edu.br
Camila de Andrade Carvalho Gualberto – Engenheira agrônoma, mestre e sócia-pesquisadora da KP Consultoria Ltda. – camila_carvalho03@hotmail.com
Gustavo Alves Santos – Doutor e sócio-diretor-pesquisador da KP Consultoria Ltda. – asgustavo@yahoo.com.br
A cana-de-açúcar é uma cultura de grande importância socioeconômica no Brasil, cuja produção de açúcar e etanol está diretamente relacionada ao acúmulo total de açúcares, de modo que, quanto mais açúcar presente nos colmos industrializáveis, maior será a rentabilidade econômica do processo industrial.
Dessa forma, o planejamento estratégico da colheita da cana-de-açúcar busca maximizar o retorno econômico da cultura, realizando o corte no período de pico de maturação do canavial, no qual os colmos apresentam máxima concentração de sacarose e, consequentemente, maior qualidade da matéria-prima.
No início da fase de maturação da cana-de-açúcar, observa-se a redução do crescimento vegetativo da cultura e o acréscimo no acúmulo de sacarose no órgão de reserva da planta, que é o colmo.
A maturação da cana-de-açúcar ocorre de baixo para cima, sendo que o entrenó que se forma primeiro acumula açúcar antes que os demais, até atingir o estado de maturação, quando estabiliza a concentração de sacarose. De modo geral, a maturação da cana-de-açúcar, vista pelo aspecto econômico da cultura, ocorre quando a planta atinge o teor mínimo de sacarose de 13% do peso do colmo, considerado viável industrialmente.
Influências
Os fatores climáticos são os mais importantes para a fase de maturação, principalmente a temperatura e a umidade, sendo que, para atingir alta produção de sacarose, a planta precisa de temperatura e umidade adequadas para permitir o máximo crescimento na fase vegetativa, seguida de restrição hídrica ou térmica para favorecer o acúmulo de sacarose no colmo.
De modo geral, o processo de maturação da cana-de-açúcar ocorre naturalmente no início de maio na região sudeste do Brasil, devido às condições climáticas existentes, com gradativa queda da temperatura e a diminuição das precipitações pluviais.
Entretanto, como a safra de cana-de-açúcar no Brasil ocorre em média de março/abril até meados de novembro, o índice pluviométrico e as condições de temperatura estão altas no início do ciclo, tornando-se necessária a utilização de maturadores (reguladores de crescimento), de modo a garantir que ocorra a máxima concentração de sacarose nos colmos.
Benefícios da aplicação de maturadores
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Na região sudeste, maior produtora de cana-de-açúcar do País, a maturação acontece normalmente de abril a outubro, período que varia de acordo com os ciclos dos materiais (precoce, médio e tardio). Assim, é economicamente viável antecipar a colheita da cana-de-açúcar de início de safra, para que ocorra antes de atingir o pico de maturação, bem como possibilitar a extensão da safra até novembro, sem, contudo, reduzir os teores de açúcar da cana de final de safra.
Dessa forma, na busca pela ampliação do período de moagem, aliada à obtenção de matéria-prima de elevada qualidade tecnológica à indústria, torna-se interessante o uso de maturadores na lavoura.
Os maturadores retardam ou inibem o desenvolvimento vegetativo, o incremento no teor de sacarose, a maturação precoce, os aumentos em produtividade de açúcar e o máximo potencial de exploração genético das variedades quanto ao acúmulo de sacarose.
Neste contexto, o uso de agentes maturadores no início da safra “forçam” a planta a acumular sacarose mais cedo, aumentando a janela de colheita. Além disso, os maturadores evitam a indução ao florescimento, pois paralisam o desenvolvimento da cultura e, consequentemente, promovem o aumento do teor de sacarose e a qualidade da matéria-prima.
Esses produtos também apresentam potencial de uso no final da safra, pois após atingir o pico de maturação (junho e agosto), as plantas retomam o crescimento vegetativo, visto que há aumento da temperatura e as chuvas retornam.
Dessa forma, uma nova aplicação dos reguladores pode ser realizada para conservar o ponto máximo de saturação e, assim, potencializar o período útil de industrialização. Em síntese, o grande benefício do uso de maturadores é aumentar o teor de sacarose na cana-de-açúcar de início de safra e manter os teores mais altos na cana-de-açúcar de final de safra.
Resultados de pesquisas demonstram que a utilização de alguns maturadores também podem promover uma melhor rebrota, com maior vigor e uniformidade, bem como o aumento no número e no peso de raízes da cana-de-açúcar.
Além disso, estudos mostram que o “palmito” da cana cresce menos quando se aplica o maturador e, como esta parte é descartada na colheita (desponte), desperdiça-se menos material. Somado a isso, a maturação promove um maior acúmulo de sacarose na parte superior do colmo, possibilitando maior altura de corte e, assim, mais material para as moendas, considerando-se que os últimos nós terão aumento de rendimento.
Por fim, é importante evidenciar que esses produtos diminuem o crescimento da planta, mas não a produtividade, bem como aumentam o açúcar total recuperável (ATR) da matéria-prima.
Como implantar a técnica
A implementação desta técnica depende, inicialmente, de um adequado planejamento da colheita junto à unidade de processamento. Para se obter uma janela de colheita satisfatória, as operações de campo devem estar em consonância com a usinagem.
A melhor época para a aplicação é no final do período de máximo desenvolvimento da cultura, ou seja, no final do período chuvoso, pois é a época que a matéria-prima está mais pobre em acúmulo de sacarose. Entretanto, aliadas à época de aplicação, as doses recomendadas, a época de colheita e a variedade cultivada devem ser consideradas para a escolha do produto mais adequado e a aplicação no momento correto.
Existem alguns produtos que podem ser utilizados como maturadores em cana-de-açúcar, os quais estão divididos basicamente em inibidores de crescimento (ex: Glifosato; Sulfometuron methyl; Fluazifop-p-butil) e em retardantes do crescimento (ex: Etil-trinexapac; Etefon).
Recomendações
Para obter o melhor manejo de utilização do maturador, deve-se atentar para as seguintes considerações:
ð Aplicação em início de safra: a aplicação deve ser realizada antes da indução floral para reduzir o chochamento e isoporização (desidratação do tecido e perda de peso final). Para a região sudeste, observa-se que, de modo geral, os produtos devem ser aplicados entre meados de fevereiro até abril, aproximadamente 45 a 60 dias antes da colheita, realizando-se uma única aplicação por ciclo.
ð Aplicação em meados da safra: essa aplicação costuma ser mais restrita às regiões chuvosas, o que permite explorar o máximo acúmulo de sacarose pela cultura.
ð Aplicação em final de safra: visa a manutenção do teor de sacarose, evitando o declínio devido ao início das chuvas. Essas aplicações têm sido feitas, normalmente, entre 45 a 50 dias antes da colheita, a depender do produto utilizado, sendo que alguns podem ser aplicados até 15 dias antes da colheita.
Ressalta-se, ainda, que os maturadores devem ser aplicados por meio de pulverização aérea, com um volume de aproximadamente 30 L ha-1, e as doses recomendadas variam de produto para produto e, portanto, devem ser respeitadas as recomendações dos fabricantes.
Mais produtividade
De modo geral, a utilização dos maturadores vegetais resulta em maiores ganhos em ATR e, consequentemente, em produtividade de açúcar, uma vez que os benefícios desses produtos estão relacionados às melhorias na qualidade da matéria-prima da cana-de-açúcar. Acréscimos ao peso dos colmos também têm sido observados com a utilização de maturadores, estando este fato associado à menor isoporização dos colmos.
O preço da cana-de-açúcar é definido em função da quantidade e da qualidade da cana-de-açúcar colhida. Portanto, quanto maior o peso de cana-de-açúcar e a concentração de açúcar no material, maior o preço da matéria-prima. Dessa forma, aumentar o ATR da cana-de-açúcar resulta em aumentos na liquidez do produtor.
A utilização de maturadores pode aumentar a produção de açúcar em até 25%, o que traria maiores rendimentos por hectare cultivado para o produtor.
Pesquisas
Resultados de pesquisa têm demonstrado que a aplicação foliar de nutrientes em pré-colheita, antes ou em conjunto com a aplicação do maturador, pode potencializar a produção de sacarose. Dentre os nutrientes comumente aplicados na fase de maturação, destacam-se o zinco, magnésio e o boro.
O Zn é um elemento constituinte de enzimas, o qual atua no metabolismo de carboidratos e proteínas e ajuda na fotossíntese. O Mg tem participação direta na fotossíntese e na atividade enzimática, enquanto que o B tem papel fundamental na estrutura da parede celular, na formação e no balanço de fitohormônios, bem como participa da síntese e transporte da sacarose, sendo, por isso, um dos principais nutrientes que ajudam na produção de açúcar.
Em experimentos conduzidos no munícipio de Tupaciguara (MG) com o objetivo de avaliar a eficiência da aplicação de um maturador, cujo ingrediente ativo é o trinexapaque-etílico, na qualidade da matéria-prima da cana-de-açúcar de início de safra, acréscimos nos valores de ATR de até 26 kg por tonelada de colmos foram obtidos em relação ao tratamento que não recebeu o maturador.
Em um outro estudo conduzido no município de Goianésia (GO), observou-se que a aplicação de um maturador, cujo ingrediente ativo é o etefom, resultou em acréscimos de 13% no peso de colmos (kg), devido, principalmente, à menor porcentagem de isoporização obtida nos tratamentos que receberam o maturador.
Resultados positivos também têm sido observados com a aplicação de ácido bórico na pré-maturação da cana-de açúcar, obtendo-se acréscimos médios de 13,44 kg t-1 nos valores de ATR de sete áreas em que esta fonte foi utilizada, cujos melhores resultados foram obtidos com a aplicação aos 47 dias antes da colheita.
Investimento x retorno
O custo-benefício depende diretamente do ganho em ATR obtido com a utilização do maturador. Por exemplo, ao se investir no uso de maturador, o produtor gastará em média R$ 100,00 (produto + aplicação) por hectare. Se a aplicação resultar em ganhos de 5,0 kg de ATR por tonelada de colmo, observa-se que, para uma produtividade de 100 t ha-1, haveria um ganho de 500 kg de ATR.
Dessa forma, um simples cálculo pode ser realizado: se o ATR estiver em torno de R$ 0,65 kg-1 (dados do Consecana-SP para o mês de março, com fechamento dia 17/04/20), o produtor teria um ganho bruto de R$ 325,00 e ganho líquido de R$ 225,00.
Portanto, a relação de investimento/retorno dependerá dos ganhos em ATR, que é consequência da eficiência do manejo do produto na lavoura, sobretudo no que diz respeito ao planejamento e à época de aplicação.