A incidência da broca-do-café em Minas Gerais está menor em 2018, se comparada ao mesmo período do ano passado. Segundo o pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) Júlio César de Souza, a redução se deu pela entressafra seca em 2017, pela colheita bem feita da safra anterior e também pela adoção do monitoramento da ocorrência da broca-do-café nas lavouras, resultando numa drástica redução do uso de inseticidas para controlá-la. “Em média, a porcentagem de controle determinada pela pesquisa é de 35%, e maior em lavouras irrigadas“, explica o pesquisador.
Quem é ela
A broca-do-café é uma praga originária da África, e desde 1922 já contabilizou grandes prejuízos à cafeicultura brasileira. O pesquisador Júlio César enfatiza que o objetivo do monitoramento é o controle e não a erradicação da praga, segunda em incidência nas lavouras de café arábica e a que mais ataca o café conilon. “O monitoramento deve ser feito talhão por talhão e, apenas se houver uma infestação superior a 3%, será necessário o controle químico. Se o monitoramento for feito no período adequado, não há risco de prejuízos para a lavoura”, argumenta Júlio.
Ciclo e controle da broca
A infestação inicia-se quando adultos fêmeas do inseto atacam e perfuram galerias em frutos verdes chumbões-aquosos, entre 80 e 90 dias após a primeira grande folhada, época em que deve ter início o monitoramento. Nessa fase, a galeria é escavada somente até certa profundidade, sem nenhum prejuízo.
O monitoramento permite identificar a real infestação da broca em cada talhão, para definir quais deles deverão receber o controle químico, evitando o uso desnecessário de inseticida. O monitoramento com a planilha, disponível para download no site da EPAMIG, deve ser feito mensalmente, até abril.
Segundo Júlio César, o controle químico tem como objetivo matar adultos fêmeas dentro da galeria dos frutos verdes chumbões-aquosos. Se nada for feito, após um período de aproximadamente 40 a 50 dias, a broca perfura os frutos até a semente e coloca ovos.
Neste estágio, os frutos, agora com sementes consistentes e duras, se tornam o alimento ideal para as larvas, causando os prejuízos que serão observados mais tarde no café beneficiado.
Depois de colhido, o café passa pelo beneficiamento, que é a separação das sementes e da casca. Logo após, o café é maquinado, com a separação das sementes não broqueadas e das broqueadas. O café com sementes perfeitas, sem broca, é vendido por um maior valor de mercado.Já o café broqueado compõe o ‘café escolha’, de menor cotação.
O controle cultural acontece por meio de uma colheita bem realizada em que não são deixados frutos nos cafeeiros e no chão. “Esse procedimento reduz drasticamente o aparecimento da broca, que se aproveita dos frutos remanescentes das colheitas para sobreviver e se multiplicar, atacando os frutos verdes chumbões-aquosos da safra seguinte, em sua ‘época de trânsito’“, alerta Júlio César.
Outra opção de controle da broca é a “safra zero“, que começa logo após uma grande colheita. Neste caso, o produtor, segundo orientação técnica, adota a poda do tipo ‘esqueletamento’. “O sistema visa o aumento da colheita depois de dois anos, quando volta a produzir sem broca nos frutos, uma vez que não restou nenhum café remanescente para atacar a nova frutificação. A partir daà é só realizar o monitoramento anualmente”.
Informações sobre o monitoramento e controle da broca-do-café podem ser encontradas na circular técnica 268 de janeiro de 2018 – Broca-do-café: monitoramento em função das floradas nas lavouras, disponível para download no site www.epamig.br.
Safra atual
Segundo o engenheiro agrônomo Rodrigo Ticle, do Projeto Educampo, os produtores auxiliados por ele economizaram cerca de R$ 1,2 milhão em produtos químicos por meio do controle da praga com a planilha e a técnica da EPAMIG. “A expectativa era que 2018 fosse um ano muito pior em relação à praga, já que em 2017 tivemos grandes problemas. Mas, com a ajuda do controle e a orientação do pesquisador Júlio Cesar, pudemos cancelar as compras de pesticidas. Com exceção de lavouras irrigadas, praticamente não encontramos broca atacando novos frutos ou frutos remanescentes“, atesta Ticle.
Para o técnico agrícola Diego Jonas dos Santos, que administra uma fazenda em Guapé, no município do Sul de Minas, com o monitoramento da broca é possível ter uma melhor noção dos talhões infestados, o que dá a ele segurança acerca do controle químico. Para esse ano ele espera uma safra alta, sem broca. “Não podemos chamar de supersafra, pois muitos frutos chumbinhos, seja pela seca ou problemas fisiológicos, acabaram secando e caindo, mas ainda assim será uma boa colheita“, completa Diego.
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), 2018 é um ano de bienalidade positiva, o que significa um aumento no número de sacas em relação ao ano anterior. A colheita deve começar entre os meses de abril e maio e a estimativa é de que entre 54,4 e 58,5 milhões de sacas sejam beneficiadas, crescimento entre 21,1 e 30,1%. Só em Minas Gerais, o número pode chegar a 30,63 milhões de sacas.