Fabio Olivieri de Nobile – Doutor e professor – Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (Unifeb) – fabio.nobile@unifeb.edu.br
Maria Gabriela Anunciação – Graduanda em Engenharia Agronômica – Unifeb
As hortaliças folhosas fazem parte da alimentação diária do povo brasileiro, uma vez que fazem parte da composição de uma alimentação saudável e equilibrada. Existe uma série de olerícolas que podem ser classificadas dessa maneira, porém as de maior aceitação são alface, rúcula, repolho e agrião. Dentre as culturas citadas, inegavelmente o maior destaque fica com a alface. Dados da Associação Brasileira de Sementes e Mudas destacam que a maior parte da área cultivada por hortaliças do tipo folhosas estão ocupadas por essa cultura.
A busca por dietas pouco calóricas e livres de carboidratos causaram um aumento significativo na procura por hortaliças de qualidade, frescas e diversas, de forma que é necessário calcular o planejamento de produção e escoamento para que não haja depreciação dos produtos antes de chegar à prateleira do mercado.
Tendências
Existem vários mercados dentro da comercialização das hortaliças, desde os chamados orgânicos até pequenos produtores familiares. A questão é que, sejam pequenas ou grandes propriedades, o cultivo de hortaliças movimenta uma boa fatia de mercado e, por consequência, gera uma série de empregos.
A economia não mente: o aumento no consumo tem sido linear – apesar do aumento de renda, o consumidor teve que desembolsar maiores quantidades em dinheiro para comprar a mesma quantidade de fruta no ano de 2019, quando comparado ao ano de 2018. Sendo assim, é possível notar a rentabilidade do setor.
Não é surpresa que no ano de 2020 se espere um crescimento, mesmo que sutil, visto que o aumento do dólar irá acarretar aumento no preço dos insumos, o que pode refletir no bolso do pagador final. Por isso, espera-se um crescimento no setor de até 1,2%.
A área produzida, tomando como exemplo a alface, se retrai ou expande dependendo dos fatores de sazonalidade, portanto, no ano de 2019 os altos picos produtivos, como se é de esperar, foram na estação de verão, enquanto no inverno as áreas diminuem tanto pela menor demanda quanto pela dificuldade de produção.
Sabe-se, ainda, que independente da estação, as regiões produtoras são consolidadas e se estabelecem, ou seja, a região sudeste ainda supre grande parte do que é produzido no setor de hortaliça folhosa. Grande parte das áreas cultivadas com essa folhosa se encontram em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, sendo que a diminuição das áreas no inverno permanece em todos os Estados citados.
As estatísticas indicam que aproximadamente 75% das áreas cultivadas com hortaliças folhosas estão situadas nas regiões sul e sudeste, distribuídas em cerca de 40.000 células produtivas, de forma a gerar de três a nove empregos por hectare, dependendo do nível de produção, tecnologia e sistema de cultivo.
Expansão
O mercado de hortaliças está em constante expansão, basta só observar a variedade de produtos disponíveis no mercado, considerando, além da qualidade, a praticidade. É na correria do dia a dia, atrelada à necessidade de vida saudável, que entram os produtos minimamente processados. Ou seja, produtos que agregam valor, estando apenas lavados ou, muitas vezes, em porções que facilitam a vida do consumidor.
O crescimento do mercado exigiu novas técnicas de cultivo que permitissem melhores produtos no final. A partir dessa inserção de tecnologia temos cultivos protegidos, hidroponia e mulching, enfim, uma série de técnicas que permitem que o produtor otimize a área e consiga controlar eventuais adversidades climáticas.
Outro fator é o constante lançamento de materiais genéticos. O ramo das hortaliças, antes pouco pesquisado, tem sido alvo de muita inovação por parte do setor de pesquisa e desenvolvimento – é comum em eventos da área o lançamento de novos materiais resistentes.
Em relação à rentabilidade, é preciso levar em consideração o sistema utilizado na área e o canal de escoamento dos produtos. A forma mais comum de cultivo é a consorciada em faixas.
Muitos produtores notaram que a monocultura é menos interessante financeiramente. Assim, a ideia de disponibilizar mais de um tipo de cultivo é visivelmente mais agradável para o produtor, para o mercado e para a ponta da cadeia de mercado: o consumidor que tem maior variedade disponível para si na hora da tomada de decisões.
Critérios
Uma série de experimentos relacionados à eficiência agroeconômica descrevem que é preciso levar em conta três fatores: a eficiência de uso da área, a produtividade e a necessidade de mercado.
Quando os três vértices do triângulo estão devidamente fixados e balanceados, não há dúvida – o retorno econômico se tornará uma realidade viável. Alguns experimentos descrevem bons resultados, por exemplo, de cultivo consorciado de alface e cenoura, ressaltando boas respostas no uso dos recursos de solo, luz e água, não só na vertente sustentável, mas também na vertente econômica, sendo o retorno do sistema consorciado maior do que o sistema solteiro.
Outros experimentos, ao testar diversos tipos de consórcios de hortaliças, demonstram que a alface é uma opção muito vantajosa, visto que responde bem ao consórcio com uma gama enorme de outras plantas de interesse agrícola. Usualmente, ela tem respostas superiores quando consorciada em relação ao cultivo solteiro. Outras hortaliças folhosas, como rúcula e repolho, quando consorciadas, têm seus custos operacionais diluídos, sendo também mais eficientes economicamente quando consorciadas, podendo obter melhorias de até 45% na produtividade.
Retorno
Vale lembrar que as hortaliças folhosas possuem ciclo curto e permitem, quando bem executadas as técnicas de manejo, um retorno financeiro rápido, no entanto, o planejamento deve levar em consideração a sensibilidade das culturas ao transporte, sendo importante identificar, desde o princípio, os pontos de distribuição.
A tecnologia pós-colheita deve ser um fator levado a sério. O consumidor não paga por produtos que sofreram períodos de estresse e que não estão de acordo com sua análise visual considerada adequada. Vale lembrar que são plantas que desidratam com maior facilidade e não lidam bem com variações bruscas de temperatura.
A forma de contornar os intempéries pós-colheita é o planejamento, viisando oferecer o produto no momento certo para valorizar o preço. Além disso, é importante estar ciente das necessidades do consumidor. Sendo assim, ressalta-se que, antes de se programar para produzir um grande volume de folhosas é preciso saber para onde escoar, escolher pontos regionais que não causem estresse ao produto, não o desqualifiquem ou depreciem perante o consumidor.
Consumo
De forma geral, o mercado de hortaliças está em constante crescimento, o brasileiro consome as folhosas de diversas formas, seja in natura ou em fast food como integrante saudável de lanches. Por isso, é um bom setor inicial de investimento, no entanto, o retorno financeiro que cobre os custos operacionais só será possível quando todo o conjunto da obra for bem executado, desde a escolha da cultivar para as condições edafoclimáticas da região até a necessidade da população local, observando canais de distribuição e válvulas de escoamento.
Feito isso, o mercado sempre estará aberto para produtos de qualidade que proporcionem bem-estar ao consumidor final.