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sexta-feira, abril 18, 2025
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Micronutrientes impulsionam o café em bienalidade positiva

Fabio Olivieri de Nobile
Doutor e professor de Fertilidade do Solo – Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB)
fabio.nobile@unifeb.edu.br

A bienalidade no café é um fenômeno caracterizado pela alternância entre anos de alta e baixa produção de grãos. Em um ano de bienalidade positiva, como é o caso de 2024, as plantas de café produzem uma quantidade significativamente maior de grãos em comparação ao ano anterior, quando o ciclo foi de bienalidade negativa.

Inicialmente, as plantas apresentam uma floração mais abundante, resultando em um maior número de frutos. Esse aumento na produção é sustentado pelo acúmulo de reservas nutricionais e energéticas que a planta fez no ano anterior, durante o ciclo de baixa produção.

Reflexos nas plantas

A bienalidade positiva, além de aumentar a quantidade de grãos, também pode impactar a qualidade deles. Embora a produção seja mais elevada, a qualidade dos grãos pode ser afetada se a planta não receber uma nutrição adequada, já que o aumento na carga produtiva exige uma maior demanda de nutrientes.

Por isso, a suplementação nutricional, especialmente com micronutrientes como zinco, manganês, ferro, cobre e boro, são fundamentais para garantir que as plantas tenham os elementos necessários para sustentar a produção em quantidade e qualidade.

Esses nutrientes promovem processos bioquímicos vitais para o crescimento e desenvolvimento das plantas, auxiliando na minimização de estresses ambientais e a manutenção de altos índices produtivos.

O papel dos micronutrientes

O zinco é essencial para a síntese de proteínas e atua no funcionamento de diversas enzimas que regulam o crescimento celular e o metabolismo. Também participa da produção de hormônios vegetais, como o ácido indolacético (AIA), que estimula o desenvolvimento das raízes e da parte aérea da planta.

O manganês está diretamente relacionado à fotossíntese, pois é essencial para a ativação de enzimas que facilitam a conversão de energia luminosa em energia química. Além disso, desempenha um papel importante no metabolismo do nitrogênio, o que é vital para a síntese de aminoácidos e proteínas que são necessários para o crescimento da planta.

O ferro atua na formação de clorofila e respiração celular e, na sua ausência, as folhas perdem a cor verde devido à baixa produção de clorofila (clorose), comprometendo a eficiência da fotossíntese e, consequentemente, o crescimento da planta.

O cobre também está envolvido em processos de fotossíntese, além de ser crucial para a respiração das células vegetais e para a formação de lignina, um componente importante da estrutura celular.

O cobre atua no combate ao estresse oxidativo, protegendo-a contra danos causados por radicais livres. Já o boro desempenha um papel vital na formação das paredes celulares e no transporte de carboidratos, ajudando a planta a redistribuir os açúcares das folhas para outras partes, como os frutos. Ele também é fundamental para o crescimento das raízes e a formação de flores e frutos saudáveis.

Suplementação de micronutrientes

Em um ciclo de alta produção, como ocorre em anos de bienalidade positiva, a demanda nutricional da planta aumenta significativamente, e os micronutrientes desempenham um papel crucial para garantir que os processos bioquímicos necessários para o crescimento, desenvolvimento e resposta ao estresse ambiental ocorram de forma eficaz.

Os agricultores podem medir a eficácia da suplementação de micronutrientes por meio de várias estratégias. Uma das formas mais diretas é monitorar a produtividade das plantas ao longo dos anos, comparando a quantidade e a qualidade dos grãos produzidos em anos com e sem suplementação.

Os resultados podem ser avaliados em termos de peso dos grãos, uniformidade, tamanho e rendimento da colheita.

Outra forma de avaliar a eficácia é por meio de análises foliares periódicas, que medem os níveis de micronutrientes presentes nas folhas do cafeeiro. Esse tipo de análise permite aos agricultores ajustar a suplementação de acordo com as necessidades nutricionais reais da planta.

Além disso, o monitoramento da saúde geral da planta, observando o vigor, a coloração das folhas e a resistência a pragas e doenças também pode ser um indicador da eficácia da suplementação.

A absorção eficiente desses nutrientes depende de uma combinação de fatores, incluindo o tipo de micronutriente, o método de aplicação escolhido, o estágio de desenvolvimento da planta e as condições ambientais.

Recomendações de manejo

O primeiro passo é realizar uma análise detalhada do solo e das folhas do cafeeiro. Esse procedimento ajuda a identificar quais nutrientes estão em falta e permite ajustar a dose de maneira precisa, evitando tanto deficiências quanto excessos.

Em relação ao método de aplicação, os micronutrientes podem ser fornecidos à planta de diferentes maneiras, como via solo, pulverização foliar ou fertirrigação. A escolha do método adequado depende da situação específica da lavoura e da natureza do micronutriente em questão.

A aplicação via solo, por exemplo, é eficaz quando há uma deficiência crônica do nutriente no solo. Nesse caso, os micronutrientes são incorporados durante o preparo do solo ou aplicados diretamente ao redor da planta.

Para melhorar a eficiência da absorção, é comum o uso de adubos formulados ou de quelatos de micronutrientes, que são mais estáveis no solo e mais facilmente absorvidos pelas raízes.

A pulverização foliar, por outro lado, é uma técnica eficaz para corrigir deficiências de forma rápida, pois os nutrientes são aplicados diretamente nas folhas, onde são absorvidos de forma imediata.

Essa prática é especialmente útil em fases críticas do ciclo da planta, como a floração e a frutificação, quando as necessidades nutricionais são maiores. Além disso, em solos com alta fixação de nutrientes, a pulverização foliar pode ser uma maneira eficiente de garantir que os micronutrientes estejam disponíveis para a planta.

A fertirrigação, que consiste em aplicar os nutrientes por meio da irrigação, também pode ser uma alternativa interessante, especialmente em lavouras irrigadas. Esse método permite uma distribuição uniforme dos nutrientes ao longo da área cultivada e facilita o ajuste das doses conforme a necessidade das plantas ao longo do ciclo produtivo.

Atenção

Além de escolher o método de aplicação adequado, é importante que os agricultores considerem as condições ambientais durante a aplicação dos micronutrientes. Condições de estresse hídrico ou temperaturas extremas podem comprometer a absorção, reduzindo a eficácia da suplementação.

Por isso, é recomendado aplicar os nutrientes em momentos em que as condições climáticas sejam favoráveis ao crescimento da planta, como em dias nublados ou no início da manhã e fim da tarde, quando a evapotranspiração é menor.

Inovações

Uma das principais inovações na aplicação de micronutrientes é o desenvolvimento de fertilizantes de liberação controlada, que são formulados para liberar os nutrientes de maneira gradual, conforme as necessidades da planta ao longo do ciclo produtivo.

Essa tecnologia ajuda a reduzir perdas por lixiviação e volatilização, garantindo que os micronutrientes estejam disponíveis para a planta em momentos críticos, como a floração e a frutificação. A liberação controlada é especialmente vantajosa em anos de bienalidade positiva, quando a demanda nutricional do cafeeiro é maior e constante.

Encapsulamento de nutrientes

Outra inovação importante é o encapsulamento de nutrientes. Esse processo envolve a cobertura dos micronutrientes com materiais biodegradáveis ou polímeros que protegem os nutrientes de reações adversas no solo, como a imobilização ou precipitação. O resultado é a melhora a biodisponibilidade dos micronutrientes, permitindo que sejam absorvidos pelas raízes de forma mais eficiente, o que é crucial para a planta em anos de alta produção.

Outras ferramentas

A agricultura de precisão também tem transformado a forma como os micronutrientes são aplicados nas lavouras de café. Utilizando sensores de solo, drones e satélites, os agricultores podem mapear áreas da lavoura que apresentam maior ou menor necessidade de nutrientes, permitindo uma aplicação mais localizada e eficiente.

Essa abordagem evita o desperdício de insumos e garante que os micronutrientes sejam aplicados apenas onde são realmente necessários, maximizando a absorção pelas plantas.

Além disso, as ferramentas de fertirrigação automatizada e controlada por sistemas inteligentes oferecem uma aplicação precisa e uniforme dos micronutrientes por meio da água de irrigação.

Esses sistemas permitem que os agricultores ajustem a dose de micronutrientes conforme o estágio de desenvolvimento da planta e as condições ambientais, resultando em uma nutrição balanceada e contínua.

Estímulo à planta

Por fim, o uso de bioestimulantes combinados com micronutrientes tem ganhado destaque. Bioestimulantes são substâncias que melhoram o metabolismo da planta, promovendo uma maior eficiência na absorção de nutrientes e aumentando a resistência a estresses abióticos, como a seca ou o calor.

Quando usados em conjunto com micronutrientes, esses produtos podem potencializar os efeitos da nutrição, melhorando o desenvolvimento da planta e aumentando a produtividade em anos de alta produção.

Essas inovações oferecem aos agricultores uma série de ferramentas avançadas para melhorar a eficiência da aplicação de micronutrientes, reduzindo o desperdício e aumentando a produtividade do cafeeiro, especialmente em anos de bienalidade positiva.

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