Tainá Josefa Bezerra
Graduanda em Agronomia – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)
Fernanda Lourenço Dipple
Kethelin Cristine Laurindo de Oliveira
Engenheiras agrônomas, mestres em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola e professoras de Agronomia – UNEMAT
Os microverdes são plantas comestíveis colhidas logo após o surgimento das primeiras folhas e antes de atingir estádio vegetativo avançado. Possuem origem norte americana e começaram a ganhar espaço nos restaurantes a partir da década de 1980.
Com características diversas, os microverdes passaram a ter maior notoriedade devido às colorações atrativas, sabores intensos, fácil cultivo e seu alto valor nutritivo. Geralmente são plantados por sementes de hortaliças, legumes ou ervas conhecidas e seu período de crescimento pode variar de acordo com a espécie.
Demanda
Os microverdes têm ganhado espaço no mercado financeiro aos poucos, principalmente no Brasil, que ainda não se tem muito conhecimento a respeito dessas plantas jovens. O mercado exterior, por ser percursor dessa novidade, já vem se destacando anualmente nesse ramo.
Países como Estados Unidos, Canadá, México, Austrália e alguns países da Europa e Ásia aderiram facilmente ao ramo de produção e passaram a lucrar rapidamente com o cultivo de microverdes. A maior demanda de microverdes vem dos restaurantes, principalmente os gourmets. Há, também, hotéis que já oferecem em seus cardápios refeições com esta iguaria.
Importância econômica
Existem levantamentos de dados econômicos da produção no mercado exterior que citam a variância de 90 kg de microverdes para uma área de 400 m2 no período de uma semana, podendo garantir emprego para três a quatro pessoas. Os resultados de produção podem ser diferentes, dependendo de fatores como temperatura, umidade, qualidade das sementes, luminosidade e época de plantio.
No Brasil, os produtores se adaptaram melhor ao uso de bandejas para realização da produção dos microverdes, dessa forma, a medição de área plantada pode variar de acordo com o tamanho e quantidade de bandejas utilizadas para o cultivo.
As regiões sul e sudeste do País foram as primeiras precursoras dessa novidade. Há iniciantes que chegam a produzir mais de 200 kg de microverdes ao ano. Por estarem nesse ramo há mais tempo, essas regiões acabaram se tornando as maiores produtoras do País.
Muitos produtores já começaram a buscar outras variedades de microverdes e novidades, como as panc’s (plantas comestíveis não convencionais), mesclando a venda de flores comestíveis com os microverdes.
A empresa brasileira Isla Sementes, de Porto Alegre (RS), tem investido no ramo de sementes de microverdes há alguns anos e agora traz a novidade dos microverdes voltados para pets, especificamente as aves domésticas, como as calopsitas.
Dicas para iniciar a atividade
Para os interessados nesse ramo de produção, o plantio pode ser iniciado com cultivares de tempo de germinação mais rápida, como rabanete e repolho roxo, até se adaptar à forma de cultivo. Posteriormente, pode-se investir em outras sementes de ciclo mais longo. Caso o objetivo seja a comercialização, o produtor deve levar em conta a demanda da sua região e escolher as variedades que mais atendem aos critérios do público.
Um fator relevante e que deve ser considerado em ambos os tipos de produção, para consumo próprio ou comercial, é a importância do cultivo orgânico. Deve-se sempre procurar por sementes livres de qualquer defensivo químico. Por serem plantas jovens, os microverdes absorvem com mais facilidade os compostos que lhe são agregados, podendo causar problemas de saúde ao consumidor.
Os itens básicos necessários para o cultivo são as sementes, podendo ser específicas para os microverdes ou não, as bandejas, com e sem furos embaixo, e o substrato. Os mais comuns no Brasil são a fibra de coco e a vermiculita, mas o produtor pode fazer uso de algum substrato que já utiliza ou combinações de substratos.
Em alguns países, a turfa é a mais utilizada como substrato, mas vem sendo substituída pela fibra de coco devido ao valor econômico alto da turfa.
Custo de produção
O custo inicial de produção de microverdes pode variar pela quantidade que se deseja obter e o valor que está disposto a investir, lembrando que quanto maior a estrutura e o número de bandejas, mais alto será o investimento. Para um cultivo simples, com utilização de uma ou duas bandejas, o valor a ser investido pode chegar a ser menor que R$ 100,00.
A rentabilidade é relativa – em muitos casos o tempo de retorno do investimento é mínimo. Os microverdes são geralmente comercializados em bandejas, com peso em gramas variando de 30 até 100 g.
Cada empresa acaba se adaptando a uma determinada quantidade e personalizando suas próprias embalagens. O valor de cada bandeja pode chegar a próximo a R$ 20,00, dependendo da quantidade de gramas.
Dicas valiosas
Com o surgimento da pandemia de covid-19, muitas pessoas passaram a se preocupar mais com a saúde, levando à busca por alternativas saudáveis de alimentação. Os microverdes acabaram por ganhar um impulso. Pessoas do Estado da Bahia passaram a demonstrar grande interesse na produção de microverdes, onde muitos cultivos começaram a ser feitos em domicílio.
O cultivo de microverdes é extremamente simples, mas requer atenção constante. Saber escolher os materiais a ser utilizados pode facilitar em muitos aspectos. As bandejas, por exemplo, não devem ter altura superior a 5,0 cm, pois pode desfavorecer o crescimento do microverde.
Dicas: optar por sementes de boa qualidade, dentro do prazo de validade e com boas taxas de germinação, se utilizar mais de um pacote, dar preferência ao número de mesmo lote. Atentar à quantidade de sementes em cada pacote, melhor época de plantio e o tempo de germinação de cada cultura.
Antes de iniciar o plantio, cada material a ser utilizado deve ser higienizado da maneira correta. As bandejas, por exemplo, devem ser lavadas com sabão e posteriormente higienizadas com álcool 70%. A fibra de coco, se for utilizada como substrato, deve passar pelo processo de fervura, o que pode reduzir em até três dias a propagação microbiana.
Bandejas
Uma bandeja com furos é posta sobre outra sem furos – é nela que será adicionada água. O substrato é posto na bandeja com furos, deixando um centímetro antes de atingir a borda. As sementes são colocadas sob o substrato, não sendo necessário cobri-las, mas se preferível pode ser coberta. Com o auxílio de um borrifador, umedeça a superfície, lembrando de sempre utilizar água limpa e sem resíduos.
Após o plantio, é feito o monitoramento diário do crescimento dos microverdes e reposta a água da bandeja sem furos até alcançar um tamanho ideal para consumo. Microverdes em hidroponia podem ser cultivados em estufas já utilizadas pelo produtor, lembrando de ser feita a higienização antes de ser usado o sistema.
Na fase de broto, as plantas não devem receber muita luz, enquanto na fase inicial de microverdes algumas horas de luminosidade beneficiam a planta. Há produtores que fazem uso de luzes artificiais para melhor controle, mas o custo é mais elevado.
Nutrição e adubação
Por serem plantas em desenvolvimento, os microverdes não necessitam de muita adubação. Os nutrientes provenientes da própria semente e substrato já são capazes de suprir a necessidade da planta, mas pode-se utilizar água com adição nutritiva para aumento de produtividade ou suprir a falta de algum nutriente. Em caso de hidroponia, a água é enriquecida com solução nutritiva na concentração de 25%.
Os microverdes, por serem consumidos sem raízes, devem ser cortados próximo ao substrato e podem ser comercializados na mesma bandeja em que foram produzidos, sendo que a própria pessoa faz o corte antes do consumo ou podem ser colhidos e colocados em potes, bandejas ou em outras embalagens.
Há muitas desvantagens nesse segundo método de colheita. Por serem extremamente frágeis e necessitando ser consumidos frescos, os microverdes têm uma vida de prateleira curta, podendo durar sete dias em ambientes refrigerados após o corte.
Colheita
Para realização da colheita, o responsável deve estar habilitado para evitar lesões nos microverdes. As tesouras devem estar higienizadas e o local da colheita deve ser distante do local de produção, para que não ocorra contaminação cruzada.
O transporte dos microverdes até seu local de comercialização deve ser feito em ambiente refrigerado, sendo sugerida a temperatura de 5ºC. As embalagens mais indicadas são a de atmosfera modificada para microverdes já colhidos, que mantém a taxa de umidade do produto e a respiração ideal, mas no Brasil, devido ao alto custo da máquina embaladora e à falta de mão de obra qualificada, as mais utilizadas são as de plástico com tampas articuláveis.
Controles fitossanitários
Os microverdes não sofrem com plantas indesejáveis, já que seu cultivo é feito de maneira monitorada. Mas, para o livre crescimento deles é necessário evitar sobreposição de sementes. Lembrando que cada cultivar deve possuir sua própria bandeja, pois tratam-se de plantas com hábitos diferentes e ambas podem não coincidir com a necessidade da outra.
Em relação às pragas, não há relatos de ataques em microverdes, mas para evitar tais acontecimentos, eles devem ser cultivados em locais distantes de áreas de cultivo habitual. Também não há relatos de surtos alimentares em microverdes, muitos estudos já foram feitos em relação a isso, devido a casos relacionados à Salmonella spp, Escherichia coli O157: H7 e Listeria monocytogenes em brotos. Nesse sentido, os microverdes demonstram ser mais seguros que os brotos.
Mesmo sem a preocupação de bactérias em microverdes já desenvolvidos, há riscos relacionados à contaminação de sementes que podem se propagar, principalmente em cultivo hidropônico. As sementes devem receber tratamento, podendo ser o mesmo utilizado em brotos e é indicado ser feito um teste de germinação antes.
Se houver contaminação, por ser um cultivo orgânico, é limitado o uso de tratamentos, como os fungicidas. Além disso é impossível a remoção do patógeno devido a sua rápida propagação. Por isso, o principal meio de tratar essas plantas em desenvolvimento é o saneamento.
Há estudos em andamento que visam buscar uma alternativa de manejo com o uso de controle biológico usando o fungo Trichoderma e bactérias do gênero Herbaspirillum.
Erros
Os principais erros no cultivo de microverdes estão na escolha das sementes e da irrigação. Por não estar familiarizado com esse tipo de cultivo, o produtor acaba primeiramente escolhendo sementes que lhe chamam a atenção, sem verificar o tempo de germinação da semente e suas necessidades básicas.
Quanto à irrigação, muitas vezes os microverdes deixam de se desenvolver por receberem água em excesso – os turnos de rega devem ser feitos uma vez ao dia e nunca diretamente na planta, por isso, faz-se uso de duas bandejas sobrepostas, para facilitar o controle da água pelo processo da capilaridade. Essa água deve ser trocada diariamente para evitar proliferações de patógenos, ainda mais por estar em ambient