Tatiane Cheila Zambiasi
Engenheira agrônoma, mestra em Agricultura Tropical e conselheira fiscal – Sociedade Brasileira de Nematologia
tatiane@agromax.agr.br
De acordo com a Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN), o agronegócio brasileiro perde anualmente cerca de R$ 35 bilhões devido aos nematoides. Na produção de soja, as perdas são estimadas em R$ 16,2 bilhões.
Os nematoides são vermes microscópicos que parasitam as plantas, prejudicando o seu desenvolvimento e produtividade. Eles podem atacar o sistema radicular das plantas, causando lesões que facilitam a entrada de fungos e bactérias, que podem causar necroses e podridões.
São difíceis de identificar a olho nu e não podem ser erradicados do solo. Por isso, o controle e o manejo são imprescindíveis. Uma forma de prevenir a ocorrência dos nematoides é não utilizar mudas contaminadas na implantação da lavoura.
Manejo
Atualmente, felizmente, temos muitas opções de manejo, mas já há previsão de lançamento de novos produtos químicos e biológicos. Esperamos por materiais com resistência genética a Pratylenchus.
O Brasil é o país que mais utiliza o manejo biológico de nematoides, com muito sucesso.
Eficácia no controle
A rotação de culturas é um excelente manejo, por rotacionar as preferências alimentares dos nematoides e também ajudar no sistema. Porém, no Cerrado essa prática não é utilizada, não porque o agricultor não quer, mas porque não temos ‘janela’ de chuva para isso. No caso dos produtos biológicos, os resultados atuais são excelentes – o que limita o uso e a eficiência são as condições ambientais na hora da aplicação. Esse fator é o mais importante para o sucesso da tecnologia, pois estamos trabalhando com organismos vivos.
Regiões afetadas
As regiões brasileiras mais afetadas pela presença dos nematoides são o Sul, Centro-Oeste e Norte, em especial áreas do Cerrado.
O Cerrado como um todo tem um ambiente climático mais propício (temperatura e água), porém, os nematoides atacam quase todas as plantas no Brasil inteiro.
Confira os principais:
- Nematoide do cisto (Heterodera glycines);
- Nematoide das galhas (Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica);
- Nematoide das lesões (Pratylenchus brachyurus);
- Nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis);
- Nematoide da haste verde (Aphlenchoides besseyi).
Os nematoides também podem parasitar animais, causando prejuízos significativos às criações. As infecções por nematódeos gastrintestinais podem causar desnutrição, avitaminoses, distúrbios gastrintestinais, entre outros.
Segundo os pesquisadores, os nematoides podem viver em diversos ambientes, dos oceanos ao microscópico filme de água que cobre as partículas de solo. Com base nos diferentes hábitos alimentares, podem ser divididos em parasitas de plantas, parasitas de animais e de vida livre (fungívoros, bacteriófagos, carnívoros e onívoros).
Tanto em plantas como em animais, possuem extrema importância econômica. Um dos mais importantes grupos funcionais é o de nematoides parasitas de plantas que habitam o solo ou estruturas vegetais, como folhas, caules e, principalmente, raízes. Já os nematoides que parasitam animais podem ser encontrados no sistema gastrointestinal, além de outros órgãos.
Não plante nematoides
Os nematoides podem atacar o sistema radicular de diversas plantas, causando impactos em culturas anuais ou perenes, como o café. Por viverem no solo, o controle desses organismos é muito difícil, por isso, a maior eficiência é alcançada por aqueles produtores que previnem a ocorrência deles, não utilizando mudas contaminadas na implantação da lavoura.
“O agricultor não deve ‘plantar nematoides´, ou seja, utilizar mudas contaminadas em sua propriedade. Para isso, precisa adquirir mudar certificadas, comprovadamente isentas de nematoides.
O produtor precisa entender que não é gasto extra adquirir mudas certificadas, mas sim, a garantia de sucesso da sua produção. O controle preventivo de nematoides tem 100% de eficiência, enquanto o uso de produtos químicos para combatê-los tem eficiência limitada em plantas perenes, como café.
Casos de sucesso
São Paulo tem legislação referência para evitar a produção de mudas contaminadas com esses organismos. O Estado mantém o Programa Fitossanitário de Defesa Vegetal para produção, armazenamento, exposição e comercialização de material de propagação de café, citros e seringueira isentos de nematoides e foi reconhecido como exemplo pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em 2019.
O rigor da legislação paulista se deve aos trabalhos científicos desenvolvidos por instituições como o IB, que subsidiaram a legislação fitossanitária estadual. Na década de 1970, 70% das mudas de citros produzidas em São Paulo eram contaminadas por nematoides. Hoje, após a nova legislação, 100% das mudas de citros são produzidas sem contaminação.