A técnica possibilita atingir até a profundidade de 60 cm ao longo dos anos, após a aplicação do calcário. Também, a decomposição dos resíduos vegetais depositados na superfície do solo deve originar compostos orgânicos hidrossolúveis, que complexam o cálcio, permitindo a sua percolação.
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Andréia MarcilaneAker
Engenheira agrônoma, mestra em Ciências Ambientais e bolsista da Embrapa Rondônia
Na atualidade, o setor agropecuário enfrenta um grande desafio: aumentar a produtividade das culturas, viabilizando a sustentabilidade do meio ambiente, ou seja, é necessário não só produzir em quantidade suficiente para atender a demanda alimentar da crescente população humana, mas também em qualidade, ou seja, produzir evitando a degradação dos solos e dos recursos naturais.
Dessa forma, os sistemas de produção conservacionistas permitem otimizar o uso da terra pelo não revolvimento do solo e a manutenção da camada de palhada sobre ele, reduzir perdas por erosão, aumentar a fertilidade e a matéria orgânica do solo, e pelo cultivo de diferentes espécies em uma mesma área, em consórcio ou sucessão.
Diante desse gargalo, busca-se por áreas agrícolas produtivas. No entanto, sabe-se que grande parte dos solos brasileiros se apresenta em condições naturais de baixa fertilidade, acidez elevada, altos teores de alumÃnio trocável e baixa reserva de nutrientes, necessitando de técnicas para correção e construção de sua fertilidade, visto que o potencial produtivo das plantas está limitado a um sistema radicular pouco desenvolvido e a um subsolo pouco explorado que não permite maiores incrementos de produtividade.
Importância da correção do solo
Considerando os atributos anteriores como as principais causas da baixa produtividade, a calagem (correção da acidez do solo) se mostra um dos melhores investimentos a serem realizados, pois contribui para o aumento da eficiência dos adubos e, consequentemente, da produtividade e da rentabilidade agropecuária, sempre levando em conta a análise do solo, as culturas e o sistema de cultivo em questão.
Em solos sob manejo convencional, a aplicação de calcário se dá pelagradagem, garantindo a incorporação uniforme do corretivo nas camadas superficiais. Já em sistemas consolidados, com culturas perenes ou áreas sob sistemade plantio direto, a aplicação é realizada apenas de forma superficial.
De todo modo, a calagem superficial tem propiciado melhorias no ambiente radicular e, ressalvadas as situações de impedimento físico por compactação ou selamento de poros, propicia alterações de atributos químicos em profundidade, comparáveis à calagem incorporada pelo revolvimento do solo, especialmente em solos menos argilosos e com menor acidez potencial.
Calagem superficial
A reaplicação superficial de calcário em solo já corrigido por meio da calagempode facilitar a movimentação dos produtos da reação do calcário para as camadas subsuperficiais, proporcionando melhorias ainda mais acentuadas na acidez do perfil do solo.
A técnica possibilita atingir até a profundidade de 60 cm ao longo dos anos, após a aplicação do calcário.Também, a decomposição dos resíduos vegetaisdepositados na superfície do solo deve originarcompostos orgânicos hidrossolúveis, que complexamo cálcio, permitindo a sua percolação.
A presença dealumÃnio provoca troca com o cálcio, por causa damaior afinidade daquele, diminuindo a fração dealumÃnio fitotóxico e aumentando o teor de cálcio na solução.
Esta operação é realizada com base na análise de solo, buscando elevar o Ãndice de saturação de bases (V%) conforme a necessidade de cada cultura em campo. Quando o solo encontra-se com a saturação de bases adequada, ocorre o melhor aproveitamento dos macro e micronutrientes, já que com ele haverá poucas reações antagônicas.
Como funciona
A correção do pH do solo consiste na neutralização dos íons de hidrogênio (H+) livres e de alumÃnio (Al3+), por meio de um ânion hidroxila (OH–). Dessa forma, na prática são utilizados produtos que são adicionados ao solo, aptos a realizar tal processo, pois apresentam o elemento necessário para tal função.
Atualmente, no mercado, estão disponíveis diversos corretivos que podem ser empregados no solo, como substâncias atuantes da neutralização da acidez, como os óxidos, hidróxidos, carbonatos, silicatos como fontes de cálcio e magnésio.
Tais materiais podem ser representados por calcáriodolomÃtico, calcáriocalcÃtico; óxido de cálcio e magnésio (cal virgem); hidróxidos de cálcio e magnésio, calcário calcinado e outros.
Qual escolher?
O processamento do calcário para fins agrícolas depende da aplicação agrícola pretendida, e frequentemente envolve a aplicação do calcário na forma de cal. Nesse caso, o calcário é calcinado a temperaturas em que ocorre a dissociação do carbonato de cálcio, ou carbonato de magnésio, nos calcários magnesianos.
A cal virgem agrícola é um produto provindo da calcinação de rochas (rochas carbonáticas). É produzida pelo aquecimento do calcário em grandes fornos industriais, sendo aquecido de 800 a 1.000°C, em que ocorre emissão de gás carbônico (CO2), e com a hidratação dos óxidos são formadas as chamadas bases fortes, apresentando em seu teor 60% de óxido de cálcio (CaO) e 30% de óxido de magnésio (MgO).
Recentemente estão disponíveis vários tipos de óxidos com PRNT elevado (130 a 180%), apresentando reação mais rápida e eficaz. Sem bases técnicas científicas, algumas recomendações reduzem até a metade da dose de referência, quando se opta por tais fontes.