Paula Almeida Nascimento
Engenheira agrônoma e doutora em Fitotecnia/Produção Vegetal – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
paula.alna@yahoo.com.br
Há muitos anos cultivada no sul do Brasil, o cultivo da soja recebeu implantação de novas tecnologias juntamente com o melhoramento genético com cultivares mais adaptadas as condições climáticas do restante do país.
Além disso, a utilização de plantio direto nas áreas agricultáveis ocasionou uma expansão de produção de grãos de soja para outras regiões brasileiras como centro-oeste, nordeste, sudeste e norte.
Alerta
O mofo-branco é uma doença preocupante na cultura da soja, causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum. A doença fúngica apresenta maior severidade em anos chuvosos, temperaturas amenas e constante umidade do solo.
A principal forma de infecção das plantas de soja ocorre pelos ascósporos do fungo, que são produzidos nos apotécios, decorrentes da germinação carpogênica dos escleródios. Esses ascósporos colonizam preferencialmente as pétalas de soja, que servem de substrato para o fungo no início da infecção nas hastes e nos pecíolos.
Manejo
O controle com produtos químicos é necessário com aplicação de fungicidas foliares e visa a proteção das plantas da infecção pelo patógeno, no período de maior vulnerabilidade da soja, que compreende o início da floração ou fechamento das entrelinhas até o início de formação de vagens.
Desta forma, a eficiência na aplicação de fungicida no alvo biológico é essencial porque tem que priorizar a rotação ou a associação de produtos com diferentes modos de ação, para atrasar o aparecimento de resistência do fungo e obter níveis mais eficientes de controle.
O vento e os insetos polinizadores contribuem para a dispersão dos ascósporos. Os escleródios podem ser dispersos por solo infestado, água de irrigação e misturados às sementes. Também podem acontecer em áreas livres do patógeno onde sementes contaminadas internamente pelo micélio dormente do fungo ou escleródios associados ao lote de sementes, podem iniciar epidemias do mofo-branco.
Além disso, Sclerotinia sclerotiorum, agente etiológico do mofo-branco, é considerado um dos fitopatógenos mais devastadores e cosmopolitas do mundo. O patógeno é muito agressivo e com vários hospedeiros.
Eficácia dos biológicos
Atualmente, a aplicação de fungicidas é a medida de controle mais eficiente do mofo-branco e há vários impactos advindos do grande número de aplicações como problemas de resistência do fungo, desequilíbrios ecológicos e efeitos tóxicos dos resíduos a seres humanos e animais.
Há vários microrganismos potenciais agentes de biocontrole do mofo-branco como Bacillus subtilis, Coniothyrium minitans, Streptomyces lydicus, Bacillus amyloliquefaciens, Clonostachys rosea e várias espécies de Trichoderma.
O sucesso de Trichoderma spp. se deve à sua capacidade de reprodução e sobrevivência sob condições adversas, eficiência no uso de nutrientes, antagonismo a fungos fitopatogênicos e eficiência na promoção de crescimento das plantas.
Em vista dessa capacidade, Trichoderma spp., constitui a maior parte dos produtos usados no biocontrole de fitopatógenos.
O controle biológico é a redução de inóculo ou das atividades determinantes da doença provocada por um patógeno. A integração do controle biológico com outros métodos de combate a doenças vem trazendo resultados satisfatórios no manejo fitossanitário.
Estudos
Desta forma, existem várias pesquisas sobre controle biológico do mofo-branco e mais de 30 espécies de fungos e bactérias são descritas como antagonistas a Sclerotinia spp.
Há vários relatos do antagonismo de Trichoderma spp. a S. sclerotiorum. Como exemplo, Trichoderma harzianum T-22 reduziu o número de escleródios de S. sclerotiorum no solo em 70,8% e a severidade da doença em campo de produção de soja em 38,5% e em ambiente controlado, o isolado T-22 também reduziu a sobrevivência de escleródios em 80,5% e a produção de apotécios de S. sclerotiorum em 31,7%.
Trichoderma spp. é potencial agente de biocontrole de S. sclerotiorum em soja e também em feijão. O sucesso de isolados de Trichoderma spp. se deve à sua capacidade de reprodução e sobrevivência sob condições adversas, eficiência na utilização de nutrientes, antagonismo a fungos fitopatogênicos e eficiência na promoção de crescimento das plantas.
O uso destes antagonistas no manejo da doença pode possibilitar a redução do número de aplicações de fungicidas ou mesmo sua eliminação, dependendo das condições ambientais e severidade da doença na área.