Por Danilo Storti*
A cultura da cana-de-açúcar (Saccharum spp.), no Brasil, merece destaque por gerar empregos e renda às famílias, e impactar de forma positiva na balança comercial ao país. Dentre os fatores de expansão da cultura, a versatilidade de uso é o principal. Pode-se produzir energia renovável, tanto pela produção de etanol hidratado ou através do etanol anidro que é adicionado a gasolina, quanto pela cogeração de energia através da incineração do bagaço e ou da palha recolhida no campo. Além é claro da produção de açúcar destinado a alimentação humana e animal. Sob o ponto de vista de conservação dos solos, a transformação de pastagem degradadas em área de cultivo de cana-de-açúcar caracteriza uma estratégia sustentável para melhorar as características químicas do solo, como a redução da acidez efetiva dos solos devido a correção com calcário ou óxidos e hidróxidos de cálcio e magnésio.
Outra caraterística alterada é a fertilidade de solo. Para uma nutrição assertiva da cana-de-açúcar deve-se ter em mente a interação solo-planta e os fatores que interferem nessa dinâmica. Logo, para atender as necessidades da cultura é preciso aplicar os nutrientes na forma correta e época certa. No caso do nitrogênio para que haja um bom desenvolvimento dos perfilhos se faz necessário aplicar a dose de 30 a 90 Kg ha-1 N, sendo que no caso, 30 Kg ha-1 N deve ser fornecido via sulco de plantio e de 30 a 60 Kg ha-1 N complementados em cobertura, maiores doses para áreas com solos argilosos ou preparo reduzido/plantio direto, ou com maiores expectativas de produtividade. Essa adubação complementar deve ser aplicada na operação de quebra-lombo, antes da formação de colmos.
O fósforo, por sua vez, é o nutriente que as plantas requerem em menor quantidade. Apesar disto, é um dos elementos aplicados em maiores quantidades nos solos brasileiros, devido à grande afinidade da fração mineral dos solos e indisponibilização deste nutriente. Em média, o aporte necessário, mediante ao teor do elemento disponível no solo, varia de 140 a 200 Kg ha-1 P2O5. Em solos com teores P muito baixos (<7 mg/dm3) a fosfatagem é recomendada e deve ser feita após a calagem e gessagem, com aplicação de fosfato natural reativo a lanço, em área total seguida de incorporação superficial 10-20 cm. Para fosfatagem, aplicar 120 Kg ha-1 P2O5 para solos com até 25% argila e 150 Kg ha-1 P2O5 para os demais solos, considerando o teor total de P2O5 da fonte utilizada.
Já no caso do potássio, mediante ao teor do elemento disponível no solo, a dose recomendada oscila entre 60 a 200 Kg ha-1 K2O. Este nutriente por estar envolvido em mais de 60 reações enzimáticas, promover o armazenamento de açúcar e regular a abertura e fechamento dos estômatos tem sido cada vez mais estudado e o Boletim 100 (2022) recomenda o aumento das doses deste elemento. No entanto, a fonte mais comum de K é o cloreto de potássio e traz risco de excesso de salinidade se aplicado em doses altas no sulco de plantio, em especial em solos arenosos e em períodos secos. O recomendado é aplicar no máximo 80 Kg ha-1 K2O na forma de adubo formulado no plantio e o restante durante a operação de quebra-lombo, ou aplicação em área total a lanço em pré-plantio. É dispensável a aplicação de adubo potássico em solos com teores acima de 6,0 mmolc dm-3.
Outros nutrientes são fundamentais durante plantio da cana-de-açúcar como é o caso do enxofre, zinco e boro. Quando não for feita a gessagem, aplicar 50 Kg ha-1 de S se o solo apresentar teor de S inferior a 15 mg dm-3 na camada de 25-50 cm. Estudos recentes têm mostrado respostas consistentes na suplementação com Zn na dose 3 a 5 Kg ha-1, sugerisse que parte deste nutriente pode ser incorporado em formulações NPK ou utilizando uma terceira caixa na operação de sulcação/adubação) e o restante na operação de quebra-lombo.
O B é outro elemento que se aplicado tem resultado em incrementos significativos de produtividade, o ácido bórico ou octaborato de sódio podem ser diluídos em água e a ulexita misturada em formulações NPK, recomendasse a aplicação de 1 a 2 Kg ha-1 de B.
É sabido que a adubação no momento da implantação da cultura é uma das principais estratégias para aumento de produtividade. Mas a adubação só é eficiente quando entendemos a relação solo/planta e empregamos algumas práticas que maximizam a eficiência deste manejo. Com isso, para se obter canaviais altamente produtivos é de suma importância entender os momentos de maior absorção pela cultura de cada nutriente (figura) e levar em consideração o seu fornecimento na dose certa, no local e época correta.