Samuel Henrique Braga da Cunha
Doutorando em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
samuelhbraga@gmail.com
Alex Oliveira Borges
alexob2019@gmail.com
Lucas Emidio Maia
lucasemidiomaia@gmail.com
Graduandos em agronomia – UFLA
Atualmente, a nutrição do cafeeiro é feita em sua maioria via solo, baseada em recomendações já existentes que definem quantidades ideais dos nutrientes a serem utilizadas.
Portanto, de acordo com análises de solo, é possível verificar a necessidade da lavoura. No entanto, ainda são poucos os produtores que investem em nutrição via foliar para correção da adubação do solo, sendo que a eficiência dessa técnica pode ser maximizada pelas análises foliares.
No campo
A adubação via solo é uma prática comum e bem aceita, pois existe uma grande quantidade de fontes que podem ser utilizadas na cafeicultura, todas elas com alta eficiência. Porém, quando se trata de micronutrientes, torna-se difícil a aplicação via solo, uma vez que são exigidos em pequenas quantidades.
A adubação via solo desses nutrientes é dificultada, uma vez que existe uma menor quantidade de fontes disponíveis e também a distribuição uniforme do fertilizante é inviabilizada, por ser em quantidades mínimas.
Vale ressaltar que é de grande importância que os nutrientes estejam disponíveis para as plantas em quantidades equilibradas, seguindo as recomendações do que as plantas necessitam, para que assim possam desempenhar de maneira correta suas funções no metabolismo.
Essa adubação balanceada garantirá maior enfolhamento da lavoura, proporcionando maior período de maturação. Sendo assim, é importante o uso de adubações foliares para fornecimento de micronutrientes, como o potássio no momento do enchimento de grãos e maturação dos mesmos. Isso porque este nutriente atua no metabolismo no momento do amadurecimento dos frutos.
Opções
Atualmente, no mercado, existem diversas opções de fertilizantes foliares. Geralmente, as empresas de fertilizantes sólidos também possuem uma linha de fertilizantes líquidos para adubação foliar.
É bom ressaltar que a adubação foliar será eficiente quando utilizada de maneira correta. O principal ponto a ser levantado é com relação à tecnologia de aplicação dos fertilizantes foliares, que devem ser aplicados de forma a atingir o alvo principal, que são as folhas.
Maturação uniforme
A nutrição da lavoura de forma correta, visando a maturação mais uniforme, deve iniciar-se logo após a colheita, assim que começar o período chuvoso. Essa adubação deve ser realizada de acordo com a análise de solo, visando fornecer o que a lavoura necessita. Deve ser realizada também de forma parcelada, de três a quatro vezes.
Dessa forma, ocorrerá o maior aproveitamento dos nutrientes, pois se evitam perdas de nutrientes, quando aplicados de forma parcelada. Assim, a planta irá obter nutrientes disponíveis durante todo o processo, desde o florescimento até o amadurecimento dos grãos.
Após cerca de 30 dias da última adubação, é necessário fazer o monitoramento da situação nutricional por meio de análises foliares, e fornecer principalmente micronutrientes durante o período de granação dos frutos.
No momento da maturação, aplicar produtos à base de potássio, visando retardar a síntese de etileno e, com isso, uniformizar a maturação.
Vantagens da maturação uniforme
As vantagens da maturação uniforme do café vão desde a redução de custos com a colheita até melhoria na qualidade da bebida. Quando se obtém uma maturação desuniforme, a colheita é dificultada, uma vez que esta tem que ser realizada de forma manual seletiva, sendo muito onerosa, ou então entrar com a máquina na área mais de uma vez, visto que o ponto ideal de colheita é quando os grãos se encontram no estádio cereja.
Além disso, será obtida uma maior quantidade de frutos “passa”, que irão cair no chão ao serem colhidos.
No entanto, quando se tem uma maturação uniforme, é possível que a máquina entre na área para colheita apenas uma vez, pois os grãos estarão, em sua maioria, no estádio ideal para colheita. Além disso, a quantidade de frutos “passa” que vão cair no chão é bem menor, economizando, portanto, mais uma operação.
Outra vantagem é que no momento da colheita haverá menos frutos verdes também. Dessa forma, a qualidade da bebida será superior, uma vez que apresentará menos quantidade de frutos “passas” e verdes.
Resultado final da bebida
A qualidade do café é, na verdade, resultado de um conjunto de atributos físicos, químicos e sensoriais, frutos da interação de alguns fatores, como condições climáticas, adubações, estádio de maturação dos frutos, cuidados na colheita e pós-colheita.
Dentre os fatores que afeta a qualidade de bebida, um dos mais importantes é o grau de maturidade dos frutos, sendo a desuniformidade um dos grandes entraves na produção de cafés de qualidade. Isso porque ela pode levar à obtenção de frutos verdes, secos e no ponto ideal de colheita, os cerejas, no entanto, esta é uma característica intrínseca da planta.
Por isso, torna-se importante o uso de técnicas para uniformizar a maturação do café, prática que leva à produção de maiores quantidades de grãos no ponto ideal de colheita. O estádio de maturação cereja é considerado ideal, pois é quando os grãos apresentam o maior acúmulo de açúcares e substâncias favoráveis à qualidade de bebida.
Além disso, quando comparados com frutos verdes, os frutos cerejas apresentam maior teor de açúcares totais, sólidos solúveis totais e peso de grãos. Também apresenta maior integridade da membrana, o que evita a lixiviação de íons e potássio de dentro dos grãos.
Sendo assim, a maturação uniforme permite a colheita de uma maioria dos grãos do estádio cereja, o qual apresenta as características mais favoráveis à qualidade de bebida.
Pesquisas
Em uma fazenda no município de Presidente Olegário, no Cerrado Mineiro, foi utilizado fertilizante mineral em uma lavoura de Catuaí Vermelho IAC 144 de 8/9 anos e aproximadamente 3,8 metros de altura.
No terço superior da planta houve um incremento de 28,2% de frutos cereja com o uso do produto na dose de cinco litros por hectare. Observou-se, também, que no terço médio da planta houve maior quantidade de frutos cereja, e o retardamento na maturação dos frutos do terço superior, que normalmente amadurecem mais rapidamente.
Em outro experimento, também com Catuaí Vermelho IAC 144 de 12/13 anos na cidade de Cocos, na Bahia, com irrigação por pivô, também foram vistos resultados favoráveis do uso de fertilizante mineral. Houve aumento de 9% dos cafés cerejas no pé, e também de 3,1% de cafés verdes, porém granados. Ocorreu também a redução de cerca de 13% dos cafés de chão e cafés secos no pé.
Erros e acertos
Os erros mais frequentes no uso dos fertilizantes geralmente estão associados à tecnologia de aplicação, com a utilização incorreta dos equipamentos, como por exemplo, os bicos de aplicação, que devem ser compatíveis e permitir que a calda alcance o alvo, que são as folhas.
Outro fator importante é verificar se o equipamento utilizado está alcançando toda a planta, desde o terço superior ao inferior. Por fim, observa-se uso de dose não recomendada, seja para menos ou para mais. Dessa forma, pode-se subestimar ou superestimar a eficiência do produto.
Esses erros podem ser evitados seguindo-se as instruções obtidas pelo fabricante, como por exemplo, a aplicação de forma foliar e na planta inteira, a dose correta indicada e com equipamentos compatíveis.
A forma mais eficiente de agregar ao uso desses produtos é a manutenção da nutrição da lavoura equilibrada. É de extrema importância que os nutrientes sejam fornecidos em quantidades ideais, mesmo em anos de baixa produção.
Dessa forma, os nutrientes exercerão sua função no metabolismo da plantas. Outro fato importante é manter o equilíbrio, pois só assim haverá maior enfolhamento das plantas, e com isso otimização do período de amadurecimento.
Além de tudo isso, deve-se manter a sanidade da lavoura, sempre livre de pragas e doenças.