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Nutrição do tomate em cultivo protegido

O cultivo do tomateiro é dividido em três fases: produção de mudas, fase vegetativa e reprodutiva. Cada uma delas exige uma solução nutritiva específica.

Foto: Shutterstock

Rafael Campagnol
Doutor em Fitotecnia – ESALQ/USP e professor adjunto – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
rafael.campagnol@ufmt.br

O cultivo de tomate em ambiente protegido, como as estufas agrícolas, oferece diversas vantagens, incluindo a proteção contra chuva e intempéries, melhor controle de pragas e doenças e a possibilidade de manipular o ambiente para otimizar o crescimento das plantas e aumentar a produção.

No entanto, o manejo adequado da nutrição do tomate é crucial para garantir uma produção economicamente viável e de alta qualidade.

Meio de cultivo

Primeiramente, se deve saber qual será o meio de cultivo das plantas, que pode ser o solo ou substratos. O cultivo do tomateiro em substrato facilita o manejo nutricional, uma vez que esse meio interfere menos na disponibilização e/ou fixação de nutrientes para as plantas, ou seja, sua nutrição pode ser feita de forma mais fácil e precisa.

Outra vantagem dos substratos em relação ao solo é a maior uniformidade na composição química e física, melhor manejo de água e redução de problemas fitossanitários e com ervas daninhas.

Substratos, de maneira geral, proporcionam excelente drenagem e aeração, favorecendo o desenvolvimento radicular, além de permitir uma aplicação mais eficiente de fertirrigação.

Atualmente, há vários tipos de substratos agrícolas adequados para o cultivo de tomate, inclusive comerciais. Os mais utilizados são aqueles compostos por turfa, casca de pinus, de arroz carbonizada, fibra de coco, vermiculita e/ou areia.

Lembrando que eles podem ser compostos por um único material ou uma mistura de vários deles. O importante é apresentar uma boa retenção de água e aeração, baixa condutividade elétrica, pH neutro ou ligeiramente ácido (5,5 a 7,0) e serem isentos de pragas, doenças e substâncias nocivas às plantas, ao meio ambiente, produtores e consumidores.

Recipiente de cultivo

O tipo e tamanho dos recipientes de cultivo influenciam consideravelmente a disponibilidade de água e a dinâmica dos nutrientes no meio radicular, afetando, consequentemente, o desenvolvimento das raízes e a absorção de água e nutrientes pelas plantas.

O volume de substrato recomendado por planta deve ser de cinco a 12 litros, sendo que volume menores exigirão uma atenção maior dos produtores quanto às condições físicas e químicas do meio.

Em contrapartida, volumes maiores demanda um investimento mais elevado em substrato. Os recipientes mais usados para o cultivo de tomateiro são vasos, jardineiras, calhas e sacolas (slabs). Um ponto importante dos recipientes é que eles permitam uma boa drenagem do substrato.

Necessidades nutricionais do tomate

Para viabilizar uma produção economicamente rentável e de alta qualidade, as plantas de tomate devem ser bem adubadas. Para isso, o produtor deve saber quais são as necessidades nutricionais das plantas, que pode variar de acordo o estádio de crescimento da planta, condições climáticas do ambiente e com o material genético selecionado para o cultivo.

Essas recomendações nutricionais podem ser obtidas de publicações especializadas sobre o assunto, como livros e artigos técnicos e científicos, de empresas especializadas (como aquelas que desenvolveram o material genético) ou de outros produtores da cultura.

Independente da fonte da recomendação nutricional, alguns ajustes nessa recomendação podem ser necessários, uma vez que o ambiente de cultivo pode influenciar a demanda nutricional das plantas.

Por isso, o acompanhamento da cultura por um profissional ou produtor experiente é fundamental para realização desses ajustes. Algumas cultivares de tomate são mais exigentes em certos nutrientes, como cálcio (Ca), por exemplo.

Assim, sabendo-se dessas exigências, o produtor deve atuar de alguma forma (ajuste da solução nutritiva ou pulverização foliar do nutriente) para evitar que ela ocorra e prejudique a produção.

O cultivo do tomateiro pode ser dividido em três fases: produção de mudas, fase vegetativa (do transplante da muda para os vasos até o início da maturação dos primeiros frutos) e reprodutiva (da maturação dos primeiros frutos até a finalização do cultivo). Cada uma delas exige uma solução nutritiva específica.

Elaboração e aplicação de solução nutritiva

Conhecendo as exigências nutricionais do tomate escolhido para o cultivo, o produtor deve elaborar e fornecê-la para as plantas. A elaboração é geralmente feita com fertilizantes mineiras solúveis.

Há diversos tipos desses fertilizantes no mercado, inclusive alguns elaborados especificamente para cultivo de tomate. Eles podem ser simples, como nitrato de cálcio e sulfato de potássio, por exemplo, ou compostos, os quais fornecem um número maior de nutrientes em relação aos fertilizantes simples.

Independentemente do tipo de fertilizante utilizando, o importante é fornecer todos os nutrientes essenciais às plantas em quantidades adequadas.

Elaborada a solução, ela deve ser aplicada às plantas. Em ambiente protegido como as estufas agrícolas, a principal forma de aplicação de soluções nutritivas às plantas é através da irrigação por gotejamento, técnica conhecida como fertirrigação.

O sistema de irrigação deve ser bem dimensionado e contar com um bom sistema de filtragem para evitar entupimentos e, consequentemente, problemas no fornecimento de água e nutrientes para as plantas.

Obstáculos

Uma das principais dificuldades dos produtores é definir a quantidade (volume) e frequência de aplicação de solução nutritiva às plantas. O ideal é manter a umidade na faixa de 60 a 80% da capacidade de retenção de água.

Contudo, essa tarefa pode ser desafiadora, especialmente para produtores iniciantes. Para contornar essa dificuldade, alguns equipamentos podem ser utilizados, com os tensiômetros, lisímetros e sensores de umidade.

Uma sugestão para o fornecimento de solução nutritiva é: irrigar os cultivos quando a tensão de água no substrato atingir entre 4 a 5 kPa. Atingido esses valores, o volume de solução nutritiva aplicado deve ser o suficiente para que ocorra uma drenagem de 5 até 20% do total de solução aplicada.

Volumes de drenado menores (5%, por exemplo) reduz o desperdício de solução nutritiva, contudo, pode acelerar a salinização do meio. O uso de volumes maiores, por sua vez, irá reduzir problemas com a salinização do meio, contudo, poderá gerar um grande desperdício de solução nutritiva, especialmente se o sistema de cultivo não tiver uma forma de coletar a solução drenada pelos recipientes.

Monitoramento e ajuste da solução nutritiva

O monitoramento das condições do meio radicular é de grande importância para garantir uma boa nutrição das plantas e evitar que ocorram situações prejudiciais ao cultivo, como a salinização do substrato e problemas nutricionais.

Uma sugestão para um manejo adequado do substrato para o cultivo de tomate é analisar o pH e a condutividade elétrica da solução do meio radicular de forma frequente (pelo menos uma vez por semana). Há várias formas de se coletar essa solução. Uma das mais comuns é a técnica do Pour Thru.

Passos da técnica de PourThru

Irrigação prévia: antes de realizar a coleta, as plantas devem ser irrigadas até a capacidade de campo (até que a água comece a drenar pelo fundo do vaso). Isso garante que o substrato esteja uniformemente úmido e os nutrientes estejam em solução.

Tempo de espera: após a irrigação, aguarde cerca de 30 minutos para que o excesso de água seja drenado e a solução do substrato esteja equilibrada.

Coleta da solução

Posicionamento do vaso: coloque o vaso sobre uma superfície que permita a coleta do lixiviado (água que escoa do fundo do vaso), como uma bandeja limpa ou um suporte com um recipiente coletor.

Adição de água: adicione uma quantidade de água destilada ou desmineralizada na superfície do substrato. Geralmente, adiciona-se 50 a 100 ml de água por litro de substrato. A água deve ser adicionada suavemente para evitar a perturbação do substrato.

Coleta do drenado (lixiviado pelo vaso): a água adicionada irá percolar através do substrato, fazendo com que a solução do meio radicular escoe pelo fundo do vaso. Recolha essa solução lixiviada em um recipiente limpo.

Foto: Shutterstock

Análise da solução

Medição de pH e CE: utilize um phmetro e um condutivímetro para analisar a solução coletada. Registre os valores de pH e CE para monitorar a nutrição e salinidade do substrato.

Os valores de referência de pH e condutividade elétrica (CE) são cruciais para o cultivo eficiente de tomates em substrato. Manter esses valores dentro das faixas ideais garante uma absorção adequada de nutrientes e um desenvolvimento saudável das plantas.

Valores de referência de pH

pH Ideal: 5,5 a 6,5. Manter o pH nessa faixa assegura que os nutrientes essenciais estejam disponíveis para as plantas e evita problemas de toxicidade ou deficiência nutricional.

Valores de Referência de Condutividade Elétrica (CE)

CE Ideal: 1,5 a 3,5 mS/cm. Valores menores são usados principalmente nas primeiras fases de produção, enquanto os valores maiores favorecem a qualidade dos frutos e são usados especialmente na fase reprodutiva (ou produtiva).

A manutenção da CE adequada para cada fase garante uma nutrição equilibrada. Valores elevados de CE podem indicar excesso de sais, causando problemas de salinidade, e valores baixos podem indicar deficiência nutricional.

O ajuste do pH do meio radicular pode ser feito através da alteração do pH da solução nutritiva aplicada às plantas por meio de ácidos (como o ácido fosfórico) ou base (com o hidróxido de potássio).

Outra forma de ajuste é a alteração da forma como o nitrogênio é fornecido às plantas, uma vez que diferentes formas de nitrogênio podem influenciar o pH do substrato.

Nitrogênio na forma de nitrato (NO₃⁻)

O uso predominante de nitrato de cálcio ou nitrato de potássio tende a aumentar o pH do substrato, pois a absorção de nitrato pelas plantas é acompanhada pela liberação de íons hidroxila (OH⁻) pelas raízes.

Nitrogênio na forma de amônio (NH₄⁺)

O uso de fontes de nitrogênio na forma de amônio, como o sulfato de amônio ou MAP (fosfato monoamônico), pode diminuir o pH do substrato. A absorção de amônio é geralmente acompanhada pela liberação de íons hidrogênio (H⁺), o que acidifica o meio radicular.

O ajuste da condutividade elétrica (CE) no cultivo de tomate pode ser realizado de duas formas principais: alterando a CE da solução nutritiva aplicada às plantas ou controlando o volume de solução nutritiva drenada pelos vasos.

Alteração da CE da solução nutritiva aplicada

Redução da CE: se a análise da solução drenada pelo substrato indica valores elevados de CE, o produtor deve reduzir gradualmente a CE da solução nutritiva aplicada às plantas. Isso evita variações bruscas no potencial osmótico do meio radicular, prevenindo problemas como rachaduras nos frutos ou deficiências nutricionais.

Aumento da CE: se a CE do meio radicular estiver abaixo do valor ideal para a cultura, a CE da solução nutritiva deve ser aumentada gradualmente. Isso garante que a planta receba a quantidade necessária de nutrientes sem causar estresse osmótico.

Controle do volume de solução nutritiva drenada

• Redução do volume drenado: diminuir o volume de solução nutritiva drenada aumentará a CE do meio radicular, concentrando os nutrientes e sais no substrato.

• Aumento do volume drenado: aumentar o volume de solução drenada provoca uma maior lixiviação dos sais acumulados, reduzindo a CE do meio radicular e prevenindo a toxicidade por excesso de nutrientes.

Controle do ambiente de cultivo

O tomateiro é uma planta muito exigente em luz, sendo o uso de telas de sombreamento recomendado com cautela, para situações específicas. A luminosidade afeta diretamente o manejo nutricional do tomateiro, pois influencia a fotossíntese, o crescimento e a saúde geral da planta.

A temperatura e a umidade do ambiente de cultivo também impactam significativamente a nutrição do tomateiro, pois influenciam a taxa de transpiração e a absorção de nutrientes pelas plantas.

Temperaturas ideais (em torno de 20 – 25°C) promovem o crescimento vigoroso e a absorção eficiente de nutrientes pelas plantas. Temperaturas extremas (altas e baixas) podem causar estresse térmico, prejudicando a capacidade das plantas de absorver e utilizar nutrientes.

A umidade relativa do ar adequada, mantida entre 60 – 70%, é essencial para evitar o estresse hídrico, garantindo o equilíbrio hídrico da planta e a absorção eficiente de nutrientes.

Práticas culturais

Uma das principais práticas culturais realizadas no cultivo do tomateiro é a poda de ramos. Essa prática deve ser feita com frequência e ajuda a direcionar nutrientes para os frutos, melhora a entrada de luz e a fotossíntese, reduz a umidade do dossel e previne doenças.

Ela também mantém um equilíbrio entre o crescimento das folhas (fontes) e dos frutos (drenos), facilitando outros cuidados como irrigação e aplicação de defensivos, garantindo uma nutrição mais eficiente e um crescimento saudável das plantas.    

Monitoramento do crescimento das plantas

O monitoramento do crescimento das plantas e a ocorrência de deficiências nutricionais no cultivo de tomateiro envolve várias práticas e ferramentas. Contudo, a observação visual das plantas é a mais usada dentre os produtores de tomate no Brasil.

Eles devem observar as folhas quanto a mudanças de cor, forma e tamanho. Deficiências nutricionais frequentemente se manifestam como clorose (amarelecimento), necrose (morte do tecido), manchas e deformações.

Também devem acompanhar outros parâmetros de crescimento das plantas, como altura, vigor e produção de frutos. Plantas com crescimento irregular podem indicar problemas nutricionais.

Ferramentas úteis

Além da observação visual, o monitoramento nutricional pode ser feito por análise foliar feita em laboratório, o que pode fornecer uma visão mais precisa do estado nutricional da planta, permitindo identificar deficiências antes que se tornem visíveis, possibilitando intervenções precoces.

O uso de medidores de íons específicos é uma das técnicas mais avançadas de nutrição do tomateiro e que permite um manejo mais preciso e rápido. Esses dispositivos medem diretamente a concentração de íons específicos, como nitrato (NO3), potássio (K+), cálcio (Ca2+), entre outros, na solução nutritiva ou na seiva do pecíolo das folhas.

Outro equipamento moderno que pode ser usado no manejo nutricional do tomateiro é clorofilômetro. Esse equipamento, na verdade, mede a intensidade da cor verde das folhas, que é um indicador da quantidade de clorofila presente. Como a clorofila contém nitrogênio, níveis mais altos de clorofila geralmente indicam uma boa nutrição nitrogenada das plantas.

Ambos os equipamentos (medidores de íons específicos e clorofilômetro) necessitam de parâmetros de referência para serem eficazes no manejo nutricional do tomateiro. Esses valores podem ser obtidos em publicações científicas, manuais técnicos, literatura especializada, recomendações de profissionais ou de cultivos anteriores feitos pelo produtor, desde que sejam cultivos produtivos. Esses parâmetros ajudam a comparar a situação atual das plantas com as condições ideais, permitindo ajustes precisos na nutrição para garantir um crescimento saudável e alta produtividade.

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