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Panorama de figos frescos e indústria

Rafael PioEngenheiro agrônomo, doutor e professor adjunto – Universidade Federal de Lavras (UFLA)rafaelpio@dag.ufla.br

Figo – Créditos Pixabay

Ficus Carica L., da família Moraceae, é o nome botânico da figueira cultivada comercialmente em todo mundo. No Brasil, tem-se explorado somente uma única cultivar, denominada de ‘Roxo de Valinhos’, que foi introduzida no Brasil por imigrantes italianos e que, mundialmente, é conhecida também como ‘Roxo’ e ‘Brown Turkey’.

Essa cultivar demonstrou boa adaptação às condições brasileiras, pois é cultivada em regiões de clima bem temperado, como Rio Grande do Sul, assim como em climas subtropicais quentes, inclusive no nordeste brasileiro, nos Estados da Bahia e Ceará, dentre outros.

O cultivo de figos teve início com a introdução dessa cultivar na região de Campinas (SP), principalmente no município de Valinhos, no ano de 1910, com estacas introduzidas pelo imigrante italiano Lino Buzatto.

Panorama de cultivo

A área cultivada no Brasil se mantém estável nos últimos 25 anos, em torno de 2.114 hectares, com a produção total brasileira de 19.602 ton. A figueira é cultivada comercialmente com grande expressão nos Estados da região sul e em São Paulo e Minas Gerais.

Porém, possui maior extensão, em áreas, no Rio Grande do Sul, que possui, atualmente, 1.278 ha em cultivo e produção total de 7.251 ton. No início dos anos 90 até o ano de 2016, houve aumento expressivo na área cultivada com figueiras em Minas Gerais, passando de 393 ha para 497 ha (produção total de 2.285 ton), mas hoje apenas 209 ha estão em cultivo.

Já em São Paulo, em 1990 eram cultivados 1.176 ha e atualmente apenas 473 ha, com uma produção total de 8.833 ton. Essa redução se deve principalmente a problemas fitossanitários, ocasionados, principalmente, pela seca-da-figueira, diversificação com outras fruteiras e, principalmente, pelo êxodo rural e a exploração imobiliária, visto que a principal área cultivada com figos está na região de Campinas, que detém 471 ha do total da área cultivada em São Paulo.

Produtividade

Apesar dessa drástica redução na área cultivada, a produtividade dos figueirais paulistas é a maior registrada nacionalmente (18 t/ha, em média). Isso se deve ao fato de a produção paulista ser destinada ao mercado de fruta fresca, onde se colhem figos com 90 g, em média, diferente do ocorrido nos Estados de Minas Gerias e Rio Grande do Sul, onde se colhem figos verdes com massa de 15 g, em média, destinados à produção de doces.

Por esse fato, a média da produtividade gaúcha é de 6,95 t/ha, porém, em Minas Gerais, fica em 11,60 t/ha, superior ao obtido no Estado do Rio Grande do Sul, devido à adoção do sistema de desponte durante a época produtiva da figueira.

Ressalta-se, ainda, que a produção paulista da região de Campinas é quase toda destinada à exportação, com a vantagem de alocar figos frescos na entressafra dos países do hemisfério norte.

Cerca de 80% dos cultivos localizam-se em áreas menores que 7,5 ha e destes, 38,9% em áreas menores que 0,7 ha, o que evidencia o cultivo em pequenas áreas, sendo de forma predominante uma atividade básica familiar.

Realidade

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A expansão das áreas cultivadas com figo se dá juntamente com outras fruteiras, como a macieira e a videira, com o declínio do cultivo do cafeeiro na região. Concomitantemente, com o aumento da população nas áreas urbanas das cidades de São Paulo e Campinas, que ficam próximas à região produtora, passou-se a demandar essas frutas com mais intensidade.

Entre as décadas de 50 e 60, pesquisas agronômicas realizadas pelo Instituto Agronômico (IAC), como poda drástica e tratos fitossanitários, como a aplicação de calda bordalesa, propiciaram manejos culturais que permitiram ampliar o período da safra e as primeiras exportações de figos para a Europa, realizadas via aérea, que permanece até hoje, com grande aumento do volume, tanto em quantidade como em valores financeiros.

Atualmente, a colheita é feita praticamente o ano todo na região de Campinas, com a adoção do manejo de podas tardias (novembro/dezembro) e uso da irrigação.

Evolução da pesquisa

Pesquisas realizadas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na década de 80 davam indícios de que seria possível cultivar a figueira em regiões tropicais, como o Nordeste.

No início da última década, produtores e exportadores tentaram produzir figos no semiárido, mais precisamente no Rio Grande do Norte, porém, em razão do tipo de solo, muito arenoso, que facilita a propagação de nematoides de galhas do gênero Meloidogyne, o cultivo da figueira não teve sucesso. Atualmente, produtores cultivam a figueira em outra região do nordeste, principalmente no Estado do Ceará, com relativo sucesso.

O cultivo da figueira também se expandiu para as regiões mais quentes dos Estados de Minas Gerais, Goiás e Paraná. Essa expansão se encontra mais voltada para frutos verdes para a industrialização, visando à produção de doces em caldas e figadas.

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