Fernanda Lourenço Dipple
Engenheira agrônoma, mestra e professora – Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat)
fernanda.dipple@unemat.br
A cultura da soja é acometida por diversos insetos-praga. Dentre eles, o percevejo e a mosca-branca preocuparam os produtores na safra 2023/24. Estes insetos têm potencial de causar diversos danos e alcançar prejuízos assustadores de mais de 50% na produção.
O percevejo marrom (Euschistus heros) é a principal espécie, devido a sua adaptação e nível populacional, sendo considerado o principal causador dos danos e prejuízos à cultura da soja.
Outra praga que está dando dor de cabeça para muitos produtores é a mosca-branca, que nesta última safra teve sua população aumentada, causando sérios prejuízos às lavouras brasileiras.
Estes insetos-praga foram favorecidos por condições ambientais, como a desuniformidade na pluviosidade. Em muitas regiões, o ciclo da soja foi estendido e os produtores tiveram que esperar para semear, ou até perderam a lavoura, tendo que fazer mais de uma semeadura. Tudo isso favoreceu o desenvolvimento destes insetos, aumentando suas populações e os prejuízos.
Dor de cabeça
Os dois insetos são classificados dentro da ordem dos hemípteros, com aparelho bucal tipo picador-sugador, apresentando as mandíbulas e as maxilas transformadas em estiletes filiformes.
Eles possuem capacidade de se alimentar por sucção e causam diversos prejuízos à soja, como perfurar o grão ou a vagem, diminuindo seu tamanho, causando vagens murchas, abortamento de vagem, redução de peso dos grãos e diminuição significativa da produtividade.
Além destes danos, estes insetos têm a capacidade de causar prejuízos indiretos, como inserir toxinas, transmitir viroses nas plantas, afetando o desenvolvimento e a maturação da soja. O hábito de alimentação é um canal de abertura para infecção de patógenos, causando doenças e podridões dos grãos.
Causas da infestação
Esta safra de soja foi desafiante para muitos produtores. Há previsão de redução da produção em 6%, comparada ao ano anterior. O principal fator foi a variação climática, com redução e falhas na distribuição da pluviosidade e ondas de calor.
Assim, a má distribuição das chuvas, intercalada com períodos de seca, afeta a semeadura e o desenvolvimento da soja. Estes fatores ambientais favoreceram o desenvolvimento de percevejos e da mosca-branca.
Medidas de controle
O manejo para percevejos já é algo comum dos produtores de soja, pois esta praga pode causar danos em todas as fases da cultura. Porém, a mosca-branca está sendo novidade para muitos sojicultores.
O manejo integrado de pragas (MIP) é a principal ferramenta para controle destes insetos-pragas, bem como a redução do uso de agroquímicos e aliar a redução do custo de produção.
Infelizmente, muitos produtores só fazem o controle químico com calendário programado, sem realizar o levantamento e monitoramento de pragas para tomada de decisão.
Notícia positiva é que o controle biológico de pragas está aumentando no Brasil nos últimos anos, como o uso de microrganismos como os fungos entomopatogênicos para controle de percevejos e mosca-branca.
Este aumento do uso do controle biológico de pragas se deve à ineficiência do controle químico sob altas populações de alguns insetos-praga, bem como a ser uma alternativa mais eficiente e segura para manejo de pragas, mostrando aos sojicultores a importância do MIP (Manejo Integrado de Pragas) e outras estratégias de controle.
Soluções
Os percevejos podem ficar em diapausa escondidos entre a safrinha de milho até a safra de soja, assim o manejo entre safra é fundamental. Assim, é importante manejar as plantas daninhas, pois muitas podem ser abrigos para percevejos e moscas brancas.
Outras estratégias são: utilizar cultivar ou material tolerante; fazer rotação de mecanismos de ação de inseticidas; utilizar inseticidas seletivos para reduzir morte dos inimigos naturais, produtos biológicos para manejo de percevejos e mosca-branca; e fungos entomopatogênicos, como Beauveria bassiana e Metharhizium anisopleae.
Deve-se soltar e preservar inimigos naturais dos insetos-praga, bem como fazer uso de 0,5% v/v de sal nas caldas com inseticidas, para auxiliar no manejo de percevejos. Outro ponto importante é utilizar armadilhas e realizar amostragens constantes para identificar o nível populacional das pragas, bem como o MIP, para uma lavoura mais produtiva e segura.
Medidas preventivas
Como a principal medida preventiva é a realização do manejo integrado de pragas durante todo ano, recomenda-se utilizar armadinhas, fazer monitoramento e manejos assertivos para impedir elevadas populações de insetos, controlar os abrigos das pragas, como as plantas daninhas, milho tiguera, fazer uso de inseticidas biológicos, planejar e rotacionar os mecanismos de ação de inseticidas.
O MIP consiste em diversas estratégias para um controle de pragas assertivo e eficiente.