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Percevejos da soja: Alerta para os produtores de grãos

Autores

Anderson Gonçalves da SilvaDoutor e professor – Universidade Federal Rural da Amazônia e coordenador do Grupo de Estudos em Manejo Integrado de Pragas – GEMIP/UFRAagroanderson.silva@yahoo.com.br

José Fernando Jurca GrigolliDoutor e pesquisador de Proteção de Plantas – Fundação MS e membro do GEMIP

Percevejo – Crédito: Jovenil da Silva

Os percevejos da soja (semelhantes a marias-fedidas) são insetos da ordem Hemiptera que se caracterizam por apresentar o aparelho bucal sugador (estiletes ou “agulhas” que usam para sugar partes da planta) e que causam grandes prejuízos a cultura.

Dentre as principais espécies encontradas no polo Paragominas de grãos destacam-se o percevejo marrom (Euschistus heros), o percevejo verde (Nezara viridula) e o percevejo verde-pequeno (Piezodorus guildinii), sendo que estudos na região mostram que o percevejo-marrom (E. heros) é o que apresenta maior população, representando mais de 80% dos indivíduos coletados nas áreas que vêm sendo monitoradas desde 2014.

Características

Tanto ninfas quanto adultos trazem problemas para a cultura, e identificar bem o estágio correto é importante para definição do produto, dose e tecnologia de aplicação adotados. No geral, os adultos apresentam tamanho de 1,0 cm, coloração escura, voam e são mais móveis na lavoura e na própria planta.

Já as ninfas apresentam tamanhos variados (menores que 1,0 cm), são de cores mais claras, comparadas ao adulto, não voam e são menos móveis, muitas vezes restritas aos terços médio e inferior (baixeiro) da cultura.

O ciclo de vida é de aproximadamente 28 dias (de ovo a adulto), com a fase de adulto durando cerca de 116 dias, cada fêmea coloca cerca de 400 ovos (dados de outras regiões, sendo necessários estudos para a região do polo Paragominas), ficando evidente o surgimento de surtos (elevado crescimento populacional em curto espaço de tempo), caso nenhuma ação seja tomada.

O pior cenário acontece quando são observadas diversas gerações (insetos de várias idades) na lavoura, principalmente nas semeaduras mais tardias, com o percevejo sendo difícil de ser controlado e várias ações de manejo articuladas e planejadas se fazem, por vezes, necessárias.

Danos

Os principais danos são decorrentes de sua alimentação diretamente nas vagens e grãos, de adultos e ninfas a partir do terceiro instar (ninfas de percevejos passam por cinco estágios de crescimento até chegar à fase adulta), reduzindo o potencial produtivo das lavouras, tanto em massa quanto em qualidade dos grãos (e sementes), com podendo chegar a 40% de perdas na produção (realmente o lucro do produtor sendo sugado!).

Também trazem problemas fisiológicos à cultura, o primeiro chamado de “soja louca”, fenômeno que interfere na maturação fisiológica da cultura, comprometendo a produtividade e também a colheita. Lembrando que não se pode confundir com a “soja louca” provocada por nematoides (esse tema fica para outra conversa).  

Monitoramento e níveis de controle

O monitoramento da lavoura se dá por inspeções frequentes nas lavouras, principalmente a partir do R3 (início do desenvolvimento de vagens ou canivete) e estende-se até o estágio de maturação fisiológica da cultura (R7), observando a presença da praga, seu estágio de desenvolvimento (ovos, ninfas e adultos) e sua intensidade de infestação (população na área).

Para tal, se faz uso do bom e velho pano de batida, em quantidades tais que tenhamos uma boa representatividade na área. Para o monitoramento é importante que se faça as “batidas de pano” de preferência/sempre que possível em horários mais amenos, quando os percevejos estão mais “tranquilos” (menos móveis) na cultura e mais expostos (parte de cima das plantas), já que quando o clima está desfavorável alguns migram para palhada.

Trabalha-se com níveis variáveis para adoção de controle (Nível de Ação (NC) = número de insetos necessários para se adotar alguma medida de controle), que vão de acordo com a instituição e órgãos de pesquisas.

Estudos da Embrapa recomendam dois percevejos por pano de batida para lavouras de grãos e um percevejo para lavouras de sementes (recentemente a Embrapa lançou a tecnologia Block, com cultivares que toleram o dobro de percevejos).

Já a Fundação MS trabalha com um percevejo, de média, para ambas. É comum ver produtores adotando 0,5 percevejo por pano de batida. Independente do NC adotado, o importante é fazer algum tipo de monitoramento visando entender a infestação que sem tem na área.

Essa informação populacional do inseto será a base para a tomada de decisão mais assertiva. Importante deixar claro que estudos mostram que para cada percevejo observado de forma visual na lavoura, temos na realidade quatro percevejos na área se fizermos a batida de pano.

Recomenda-se que o controle de percevejos na soja siga os princípios do Manejo Integrado de Pragas (MIP), buscando um manejo efetivo, com redução de custos e com baixa contaminação do ambiente.

Manejo em início de safra

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Nesse período, é importante avaliar se a área a ser plantada apresenta restos de cultura ou plantas daninhas que são hospedeiros do percevejo (buva, capim-amargoso, leiteiro, carrapicho-de-carneiro, guandu, etc.), e avaliar se precisa fazer algum tipo de controle prévio.

Também é interessante observar percevejos migrantes das áreas de matas próximas, local que ficam abrigados durante a entressafra. Um bom manejo nos plantios iniciais vai evitar altas infestações e dores de cabeça para a soja que virá depois.

Além disso, destaca-se a importância do manejo de plantas daninhas na área, uma vez que toda a fonte de abrigo e alimentação da praga durante o período em que a soja não estiver sendo cultivada virá dessas plantas daninhas. Assim, conforme apontado anteriormente, por ser um inseto de ciclo de vida longo, e pela capacidade da praga de sobreviver de uma safra para a outra, ações de manejo populacional e redução de pontes verdes são fundamentais para a redução da praga no campo.

Manejo no meio da safra

No meio da safra já temos no campo sojas de diferentes períodos fenológicos (idades). É importante intensificar o monitoramento, buscando um controle mais efetivo e certeiro na lavoura, com monitoramento nas áreas de bordadura, principalmente nas proximidades das matas. Pode ser que o controle se justifique só nessas áreas, evitando aplicação em área total, reduzindo os custos de produção e contaminação ambiental.

Manejo no final de safra

O final da safra é o período mais crítico, já que várias gerações de percevejos já estão na área, além dos migrantes que veem de outras lavouras (inseto não respeita cerca). Se foi feito um bom manejo no início e meio de safra, a tendência é ter menos problemas nesse momento.

Pense duas vezes ao fazer alguma aplicação desnecessária, já que não tem mais soja “para” frente (nem sempre aquele “cheirinho de veneno” é interessante). Vale ressaltar a grande importância do monitoramento nesse momento. Com a colheita avançando, as áreas semeadas mais tardiamente irão sofrer grandes fluxos migratórios, e esse comportamento pode causar danos severos à cultura.

Assim, é fundamental o monitoramento das lavouras até o final do ciclo da cultura em todos os talhões cultivados.

Métodos de controle

O controle químico é, de longe, o mais adotado e, nesse cenário, como bem fala o doutor e pesquisador Fernando Jurca: “o pior produto do mercado pode ser eficaz, e o melhor pode não ter eficiência nenhuma, dependendo da forma e do momento de utilização”.

Para percevejo encontramos alguns problemas de falta de moléculas disponíveis para uso, o que torna o momento certo de aplicação crucial. Hoje, no sistema MAPA/AGROFIT (registro de produtos recomendados para uso na cultura), temos disponíveis 56 produtos (pensando no percevejo marrom, atualmente nosso maior problema e que encontramos em maior quantidade na região).

Em destaque estão os organofosforados (46% dos produtos), piretroides (43% dos produtos) e neonicotinoides (34% dos produtos), estes isolados e/ou a mistura deles, constando apenas o Etiprole (Fenilprirazol) (como molécula isolada) (1,8% dos produtos) e o ingrediente ativo Sulfoxaflor (Sulfoxaminas) (em mistura com lambida-cialotrina (piretroide)), como moléculas alternativas aos demais, o que dificulta a rotação de modos de ação, induz à resistência de populações, complicando ainda mais o manejo da praga por falta de opções dentro dessa ferramenta de controle.

Ressalta-se, mais uma vez, que para alta eficiência de controle, o mais importante é o conhecimento da população do inseto, e a partir disso, comparar com o potencial de controle da ferramenta adotada.

Controle biológico

Para o complexo de percevejos, hoje já temos disponível no mercado o parasitoide de ovos Telenomus podisi, que apresenta controle interessante, apesar da incompatibilidade com os inseticidas atualmente utilizados. Precisamos de estudos mais precisos para a região. Seus benefícios acerca de atrasar a infestação são comprovados e requerem o monitoramento para determinação do início da liberação desse agente de controle biológico.

Alguns fungos entomopatogênicos possuem certo potencial de uso, como Beauveria bassiana¸ mas ainda carentes de informação, especialmente sua compatibilidade com as aplicações de fungicidas e os impactos das condições climáticas na dinâmica de infestação dos insetos pelo fungo.

Além disso, em condições de laboratório, resultados interessantes foram observados com a utilização de cromobactéria. Entretanto, de forma similar aos fungos entomopatogênicos, ainda em fase de validação e de registro de produtos.

Tecnologia de aplicação

O bom monitoramento e tomada de decisão agora serão refletidos na aplicação correta do produto. Importante atentar para o período do dia ideal para pulverização – a recomendação é que seja em condições de temperatura (de 25 a 30°C), umidade relativa do ar (mínima de 60%) e velocidade do vento (entre 2,0 e 10 km/h), condições essas encontradas na maioria das vezes nos horários mais frescos do dia, como o início da manhã e final do dia.

As questões de volume de calda e ponta de pulverização são muito variáveis em função do equipamento, do estágio de desenvolvimento da cultura e do nível técnico de cada agricultor, mas apresentam grande impacto na qualidade da aplicação.

Vai plantar milho safrinha?

Se a projeção for plantar milho após a soja (safrinha), é importante nos monitoramentos finais da soja atentar na área à presença dos percevejos barriga-verde (Dichelops furcatus e Dichelops melacanthus), que apesar de não acarretarem muitos problemas para a soja, são altamente prejudiciais para o milho.

Nesse cenário, o controle eficaz da praga se faz necessário, buscando começar o plantio do milho livre, na medida do possível, desse problema. Nesse sentido, em função do comportamento do barriga-verde se localizar na palhada e na superfície do solo, no momento da amostragem, recomenda-se a inspeção visual para complementar a informação obtida no pano de batida.

O que vem por aí?

Existem novas moléculas em fase de desenvolvimento, inclusive de novos modos de ação. Entretanto, há um grande período para a chegada desses produtos ao mercado, o que reforça ainda mais a necessidade de monitoramento. As ferramentas que temos hoje terão que ser efetivas nos próximos oito a 10 anos. Assim, utilizar com sabedoria e consciência é fundamental para evitar resistência da praga e danos às plantas.

Além disso, estamos vivendo um momento muito positivo para o controle biológico, de forma que fungos e bactérias capazes de contribuir para o manejo do percevejo estão sendo desenvolvidas e, certamente, virão para somar no controle da praga.

Onde a pesquisa precisa avançar?

A pesquisa deve avançar rumo à implementação do MIP na região, avanço em novas moléculas, inseticidas seletivos aos inimigos naturais e polinizadores, cultivares mais tolerantes, avanço no monitoramento da praga e de populações resistentes aos agrotóxicos utilizados, uso de drones para monitoramento, liberação de inimigos naturais e pulverização de produtos fitossanitários, estudos de ciclos biológicos, dentre outros.

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