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Pesquisa desenvolve mandiocas biofortificadas nas cores creme, amarela e rosada

article-1Mais nutritivas, de maior produtividade, colheita precoce e manejo mais fácil em comparação às convencionais. Essas são algumas características de seis cultivares de mandioca de mesa, conhecida também como macaxeira ou aipim, recém-lançadas pela Embrapa e adaptadas para a região do Distrito Federal e Entorno. O desenvolvimento do material contou com a participação de produtores rurais e técnicos extensionistas.

 As novas cultivares são resultantes do programa de melhoramento genético de mandioca de mesa da Embrapa Cerrados (DF). Após dez anos de pesquisa, a Empresa lançou três cultivares de coloração da polpa da raiz amarela (BRS 396, BRS 397 e BRS 399), uma cultivar com a coloração da polpa da raiz creme (BRS 398) e duas cultivares com a coloração da polpa da raiz rosada (BRS 400 e BRS 401). As rosadas são enriquecidas com licopeno, o mesmo nutriente presente no tomate e na melancia e que se mostrou eficaz na prevenção do câncer de próstata.

 Os novos materiais possuem características que atendem demandas tanto de agricultores quanto de consumidores. São precoces, ou seja, produzem a partir de oito meses, enquanto as cultivares precoces disponíveis no mercado geralmente começam a produzir dez a doze meses após o plantio. As novas variedades também possuem elevado potencial produtivo, arquitetura favorável aos tratos culturais, facilidade na colheita, resistência às principais pragas e doenças, baixo teor de ácido cianídrico (HCN) nas raízes, boa qualidade culinária, teor mais elevado de carotenoides além de características de importância agronômica e tecnológica.

 Participação de produtores familiares

 Um dos grandes diferenciais deste trabalho de pesquisa é que ele foi conduzido de forma participativa e envolveu diretamente os agricultores familiares da região, que testaram no campo os novos materiais. “Sabíamos que nosso trabalho teria que atender às exigências do mercado produtor e consumidor. Essas novas variedades passaram por testes preliminares dentro da Embrapa Cerrados, mas tínhamos o desafio de avaliar esses clones biofortificados com os produtores. Foi quando lançamos mão dessa pesquisa participativa. Ela não preconiza levar pacote tecnológico para o produtor, mas sim permitir um intercâmbio, uma troca de experiência constante entre o produtor, o pesquisador e o extensionista”, explica o pesquisador Josefino Fialho.

 Os primeiros clones de polpa amarela e rosada biofortificados, gerados na Embrapa Cerrados, começaram a ser avaliados de forma participativa em 2011, tendo sido analisados 13 amarelos e oito rosados. Um dos agricultores que participou do projeto de seleção participativa foi Paulo César Gonçalves, cuja propriedade está localizada no Município de Planaltina de Goiás (GO). “Essas variedades são fora de série, só cultivando mesmo para saber. Elas aceitam bem a irrigação, produzem muito mais rápido”, conta.

Já especificamente as cultivares de polpa rosada representam uma nova opção para o mercado de mandioca de mesa. A coloração diferenciada está relacionada à presença de uma quantidade maior de carotenoides nas raízes, como o licopeno, que apresenta importantes propriedades antioxidantes. Sendo assim, são mais nutritivas do que as demais variedades de mandioca de polpa branca e creme. “As pessoas acham estranho num primeiro momento, mas acabam acreditando que é mesmo mandioca e se interessam ainda mais quando explicamos que ela é  mais nutritiva do que as demais. Tenho certeza de que o mercado dessa variedade vai crescer muito”, conta o agricultor Raimundo Lúcio da Silva, que também participou do projeto.

De acordo com o pesquisador Eduardo Alano, a ideia agora, depois do lançamento dos materiais, é fazer uma pressão de seleção muito mais forte nas gerações seguintes. “Os próximos materiais terão que ser melhores que os nossos, que, por sua vez, já são melhores que os materiais-testemunha  usados”, explica. “Estamos utilizando o Distrito Federal e o Entorno como nosso padrão. É o melhor mercado do Brasil para trabalhar com mandioca de mesa. O DF tem o maior consumo per capita e é onde estão os produtores mais profissionalizados”, aponta o pesquisador. A partir daí, a equipe vai ampliar a área de testes, encaminhando os clones para que sejam avaliados em outras regiões do Brasil por parceiros estratégicos.

A pesquisa participativa

Segundo o pesquisador Eduardo Alano, para que a pesquisa participativa funcione, ela precisa seguir alguns critérios: material genético para levar para os produtores, interesse dos produtores em testar esses materiais, mecanismo de extensão rural ágil e eficiente e, também, um financiador que acredite na ideia. “Ou seja, tínhamos todas as condições para que o trabalho fosse executado de forma eficiente”, ressalta.

O estudioso conta como a pesquisa efetivamente ocorreu no campo. “Depois de um trabalho árduo de visita aos produtores de praticamente todos os núcleos rurais do DF e Entorno, foram selecionados alguns deles para participar do projeto. Tínhamos que selecionar bons produtores para alcançar o resultado que gostaríamos”, lembra o pesquisador. Para uma boa abrangência no DF, foram escolhidos agricultores de diferentes núcleos rurais e com distintos sistemas de produção, inclusive orgânico, para que os resultados fossem os melhores possíveis, explica Alano.

Os produtores selecionados tinham a mandioca como carro-chefe da propriedade, ou seja, já se relacionavam com o mercado, vendendo o produto. Após essa fase inicial, foi feito, em conjunto com os produtores, o plantio das novas variedades. E, a cada dois meses, os pesquisadores visitavam os locais para acompanhar o desenvolvimento da cultura. “Estávamos sempre junto com os produtores, assim eles valorizam mais o trabalho. Não é plantar e só voltar para colher”, ressalta. Após a colheita, eram feitas as avaliações finais. Nessa oportunidade, pesquisadores e produtores se reuniam e os agricultores ranqueavam as variedades, de acordo com a ordem de preferência deles.

Os trabalhos de pesquisa foram conduzidos pela Embrapa Cerrados e Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em parceria com os produtores rurais, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), Fundação Banco do Brasil e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Resultados

Para mandiocas amarelas, foram 23 unidades avaliadas em diferentes pontos do DF. O pesquisador salientou a eficiência do trabalho, pois apenas cinco unidades (20%) foram perdidas, sendo apenas uma por falta de cuidado por parte do produtor ” as outras foram prejudicadas por motivos como excesso de chuva, falta de água e ataque da broca-da-raiz da mandioca. O destaque entre os agricultores foi a BRS 399, eleita o melhor material em oito das 23 unidades. Nove agricultores a escolheram como segundo melhor material. “É o nosso campeão de produtividade”, aponta. 

A cultivar IAC 876-70, conhecida como “Japonesinha”, é hoje a variedade mais plantada na região (detém 80% do mercado no DF) e participou da pesquisa como testemunha, obtendo posição intermediária no ranking. A tabela de probabilidade acumulada de classificação mostra que a BRS 399 ficou entre os quatro primeiros colocados em 86,96% das avaliações dos produtores, enquanto a IAC 576-70 ficou até o quarto lugar em 30,43% das vezes.

As vantagens destacadas pelos produtores quanto ao melhor clone foram arquitetura, já que a ramificação alta facilita o plantio mecanizado e a cobertura do solo; disposição das raízes; cor da polpa mais amarela que o material encontrado no mercado decorrente de maior teor de carotenoides nas raízes (10,88 µg/gms contra 6,40 µg/gms); produtividade média de raízes de 40,98 toneladas/ha, superando a média nacional e do DF (16 t/ha), bem como a média obtida com o cultivo da japonesinha (30,30 t/ha); a maior e a menor produtividade entre os produtores (69,79 t/ha e 16,46 t/ha, respectivamente) foram superiores ao maior e ao menor rendimento obtidos com a japonesinha (62,55 t e 11,46 t/ha).

Também destaque na classificação dos produtores, a BRS 397 tem arquitetura ainda melhor que a da BRS 399, retém as folhas mesmo no período seco, com  produtividade média de 36,61 t/ha, produtividade máxima de 78 t/ha e teor de carotenoides nas raízes de 10,7 µg/gms. Já a BRS 396 tem a primeira ramificação um pouco mais baixa que a BRS 397, raízes mais curtas, com padrão mais comercial; produtividade média das raízes de 35,84 t/ha e pico de produtividade de 50 t/ha.

“É um material com raízes padronizadas. Deve ganhar espaço na região do DF”, aposta Alano. E o material BRS 398, que se esperava ficar em último lugar na avaliação em razão de apresentar polpa das raízes creme, chamou a atenção dos produtores que comercializam a mandioca em caixa, em virtude do padrão comercial das raízes.

Com relação às mandiocas rosadas, foram avaliados oito clones em 13 unidades. Somente cinco dessas unidades foram perdidas, sendo somente uma em razão da falta de cuidado por parte do produtor. Da mesma forma, foi feito o ranqueamento dos materiais, revelando dois com potencial: BRS 400, que ficou até a quarta posição em todas as propriedades, e BRS 401, que ficou até o terceiro lugar em todas as propriedades. “Esse tipo de situação é importante, pois nos dá mais confiança para recomendar esses materiais”, diz o pesquisador.

Apesar de a arquitetura da variedade BRS 400 ter ramificação baixa e necessitar de um bom manejo de espaçamento para a cobertura de solo, a produtividade média de raízes é elevada (28,58 t/ha), sendo que o topo foi de 45,79 t/ha. O teor de carotenoides nas raízes foi de 35,37 µg/gms. Já a BRS 401 apresenta arquitetura melhor, próxima à dos materiais amarelos, com média de produtividade 29,10 t/ha e pico de 59,88 t/ha. Um pouco mais claro que a BRS 400, apresenta teor de carotenoides de 22,15 µg/gms.

Perspectivas

A equipe de pesquisa agora espera dar continuidade às ações de melhoramento genético, com a geração e seleção de clones específicos para o bioma Cerrado, e também continuar o trabalho de melhoramento participativo. Diante da possibilidade de lançamento de mais materiais, será preciso investir em áreas de multiplicação de clones promissores. Estudos sobre adubação e calagem devem ser intensificados, bem como sobre irrigação em mandioca de mesa.

A utilização da mandioca na alimentação animal também é uma possibilidade, principalmente a parte aérea da planta, que não é usada após a colheita, e as raízes, que não serão comercializadas pelo produtor. “Já fizemos o levantamento da composição nutricional da parte aérea e das raízes de todos os materiais lançados”, explica Alano.

Outra área que já está sendo estudada é a da pós-colheita da mandioca, com agregação de valor por meio do processamento mínimo de raízes. E são perspectivas de estudo a realização da análise de processamento da mandioca açucarada para a produção de etanol; o estabelecimento de parcerias estratégicas para a introdução de clones em outras regiões; e o controle da broca da mandioca, trabalho recém-iniciado na Embrapa Cerrados com o objetivo de descobrir a época da chegada do inseto às lavouras e a melhor forma de controle da praga.

Serviço:

Produtores rurais interessados em obter mais informações devem procurar o Serviço de Atendimento ao Cidadão da Embrapa Cerrados. Os contatos são (61) 3388 9933 ou por meio do site www.embrapa.br/fale-conosco/sac.

Informações sobre o sistema de produção de mandioca podem ser encontradas na publicação Mandioca no Cerrado: orientação técnicas, disponível gratuitamente no site: www.embrapa.br/cerrados.

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