Fabio Olivieri de Nobile
Doutor e professor – Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (Unifeb)
Por muito tempo o selênio (Se) foi relatado apenas como elemento tóxico, perigoso, responsável pela toxicidade nas plantas e animais e pela inviabilidade de áreas agrícolas. Os registros sobre este elemento são muito antigos – sua classificação como um elemento químico, realizada pelo químico sueco Jöns Jacob Berzelius, é datada de 1817 –, mas sua presença na terra é rastreada desde a origem da crosta terrestre em formação geológica específica, e as informações sobre doenças e desordens metabólicas causadas pela baixa ingestão de Se, assim como as ocorrências de intoxicações em áreas seleníferas, são datadas muito antes de sua classificação química (Faria e Karp, 2015).
A nutrição mineral é um fator preponderante na produção agrícola, principalmente quando se consideram as quantidades de macro e micronutrientes adicionadas ao solo durante o plantio ou pulverização foliar.
Particularmente no caso do selênio, os níveis desse elemento em plantas, animais e humanos em uma determinada região estão diretamente relacionados ao conteúdo desse elemento presente no solo, que por sua vez está relacionado aos solos e a sua gênese.
Nesse sentido, cita-se, por exemplo, a função antioxidante do Se na eliminação de espécies reativas de oxigênio (ERO), que ocorre tanto na planta quanto no organismo humano.
Normas
Recentemente, a instrução normativa nº 39, de 8 de agosto de 2018, estabeleceu como teor mínimo de selênio para os fertilizantes mistos ou complexos, para os fertilizantes minerais mistos ou complexos mononutrientes, binários ou ternários com micronutrientes ou com micronutrientes e macronutrientes secundários, de 0,03%. E ainda indicando como fonte de fertilizante o selenato de sódio (Na2SeO4), com 40% de selênio.
Pensando numa ampla utilização do selênio em função de sua ação em plantas, algumas pesquisas vêm se desenvolvendo para quantificar a ação do elemento no combate às geadas, principalmente na cultura do café, já que dados divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 2021, mostram que a área total de café arábica no Brasil, em hectares, é de 1.806.584. Já a estimativa de área de café arábica coberta pelas geadas, em hectares, foi de 860.000, o que corresponde a 48% do total.
A planta de café é sensível à geada, assim como as demais culturas, e essa sensibilidade está relacionada com o rompimento da parede celular. O frio que antecede o congelamento já causa um retardamento no crescimento da planta e as bordas das folhas novas amarelecem, levando a um escurecimento.
Quando a geada atinge a planta, as partes de contato adquirem uma coloração escura, com aspecto de queima. No tronco, pode ocorrer a morte a partir de -2°C. Como sinais resultantes desse processo temos a desidratação das células, perda do potencial de turgescência, redução do volume celular e ruptura da membrana plasmática, podendo levar à morte da planta.
Nessa concepção, a aplicação de selênio poderia retardar ou até mesmo combater os efeitos ocasionados pelas geadas. O selênio pode controlar a superprodução de espécies reativas de oxigênio (ERO), atuando na regulação da atividade antioxidante, mecanismo fundamental para combater o estresse ambiental nas plantas.
Em condições normais, a produção de ERO em células de plantas é mantida em níveis baixos. No entanto, em condições de estresse os níveis de ERO são aumentados, afetando os processos metabólicos e, por fim, o crescimento e produção das plantas.
Visto por dentro
A aplicação de selênio em baixas concentrações em plantas submetidas a diversos estresses ambientais pode reduzir o excesso de ERO produzido na célula, especialmente das espécies superóxido (O2-) e/ou peróxido de hidrogênio (H2O2).
Esse processo oxidativo acontece quando há geada, por isso, o selênio foi pensado como uma alternativa para dar resistência à planta. A geada pode ser prevista com certa antecedência, então, trabalhando com essa ideia, pode-se aplicar o selênio na folha do café.
Sabendo que consegue proteger as pessoas e os animais, também consegue proteger as plantas. Ele desenvolve um aparato de proteção e resistência na planta.
Pesquisas
Estudos têm demonstrado que, em baixas concentrações, o Se exerce efeito benéfico sobre o crescimento das plantas e a tolerância a estresses ambientais (DIAO et al., 2014). Esses efeitos positivos provavelmente estão relacionados com o aumento da capacidade antioxidante, tanto em diminuir a peroxidação de lipídios quanto em aumentar a atividade de enzimas antioxidantes, como catalase (CAT), superóxido dismutase (SOD) e glutationa peroxidase (GPX).
Os efeitos positivos de baixas concentrações de selênio também contribuem com a eficiência do processo fotossintético, devido ao aprimoramento da atividade antioxidante nas células, o que afeta positivamente a fotossíntese e os pigmentos fotossintéticos.
Por outro lado, as concentrações de Se no solo são dependentes do intemperismo e da composição do material de origem, sendo que rochas ígneas e metamórficas contêm < 1,0 mg/kg e, por outro lado, nas rochas sedimentares, em geral, os teores variam de 1 a 100 mg/kg.
Teores totais de selênio em solos abaixo de 0,1 mg/dm3 são considerados deficientes. Sua disponibilidade no solo para as plantas é influenciada principalmente pelo regime hídrico, potencial de óxido-redução, pH, teor de matéria orgânica e teor de argila.
A deficiência de selênio no solo pode ser corrigida por meio da adubação de plantio, adicionando-se de 5,0 a 15 g de Se/tonelada de fertilizante NPK ou pela adubação foliar ou aplicação na semente na dose de 10 g de Se/hectare.