Emerson Trogello – Doutor em Fitotecnia e pprofessor – Goiano Morrinhos – emerson.trogello@ifgoiano.edu.br
Rodrigo Medina Lopes – rodrigo.lopes@facholi.com.br
Diego Coleta – diego.coleta@facholi.com.br
Giovana Cândida Marques – giovana-candida@hotmail.com
Engenheiros agrônomos
A propriedade rural é considerada uma fábrica a céu aberto, independente se na mesma produzimos grãos, proteína animal, fibras, celulose, entre outras, é certo que a mesma está sujeita a variáveis não controláveis, como as condições de clima, por exemplo.
Ainda, adicione a este cenário o fato de o produtor rural em si não controlar as variáveis de preço a serem pagos nos insumos necessários à produção, nem o preço de venda dos produtos ali produzidos. Podemos, assim, sem sombra de dúvidas, dizer que a produção agropecuária se reveste de alto risco.
Para não precisar contar com a sorte ou com a combinação de fatores, é essencial que o produtor diversifique suas atividades na propriedade, para que assim dilua seus riscos produtivos.
Uma das alternativas é trabalhar com os Sistemas Integrados de Produção Agropecuária, no qual destacamos a integração lavoura pecuária (iLP), pecuária-floresta (iPF), entre outras. O iLP, por exemplo, integra culturas anuais e pecuária no mesmo espaço e busca potencializar a sinergia entre estes componentes.
Esta integração de atividades em mesma área, e talvez em mesmo tempo, garante, caso bem feito, enormes benefícios, entre eles a diversificação de renda, otimização de maquinários, mão de obra e terra ao longo dos 12 meses do ano, melhor estrutura de solo, melhor ambiência animal e consequente menor custo por unidade produzida, independente se são grãos, carne, celulose, ou outras.
Não quer dizer, no entanto, que a produtividade esteja garantida nestes sistemas. É necessário ainda mais conhecimento empregado por unidade de área para que o sistema seja efetivo em seus benefícios.
Caso a caso
Uma lavoura de soja, do seu planejamento, implantação até colheita e comercialização, exige do produtor rural a tomada de mais de 2.000 decisões, e qualquer decisão equivocada impacta em redução da produtividade e/ou queda da rentabilidade para o produtor.
Não tenhamos dúvidas que sistemas integrados de produção exigem ainda mais tomadas de decisões, e que as mesmas devem sempre ser pautadas em conhecimentos técnicos do sistema.
A melhor estruturação do solo, manutenção constante de palhada sobre o mesmo, rotação de cultura, mínimo revolvimento do solo, entre outros benefícios proporcionados pelo iLP impactam diretamente no ciclo da água dentro do sistema produtivo.
Um solo bem estruturado, com palha constante, sistemas de rotação e mínimo revolvimento, fazem com que a água proveniente das chuvas tenha melhor infiltração, reduza a erosão, fique mais disponível às culturas, tenha menor evaporação, evapotranspiração, entre outras, ou seja, a água certamente será mais bem utilizada quando da implantação dos mesmos.
Mesmo com todos estes benefícios, a água ainda pode ser um limitante ao correto desenvolvimento dos sistemas, e é aí que a utilização de sistemas irrigados se faz uma alternativa viável na redução de riscos.
ILP
Os benefícios da iLP muitas vezes fazem com que o produtor permaneça em uma “zona de conforto”, não visualizando os benefícios que a agricultura irrigada pode proporcionar ao seu sistema produtivo, mesmo este apresentando uma maior estabilidade.
Dentre as inúmeras decisões a serem tomadas no processo, a utilização de sistemas irrigados pode impactar em menor risco; facilitar o planejamento da propriedade no curto e médio prazo; proporcionar um maior leque de integrações e opções ao seu sistema; melhorar a eficiência de utilização dos insumos a serem posicionados; elevar o potencial produtivo por unidade de área; melhorar a qualidade dos produtos gerados; entre outros.
É importante salientar que, pelos benefícios oriundos da iLP, a água certamente estará mais disponível e será melhor utilizada pelo componente vivo do sistema. Sendo assim, a necessidade de lâmina e frequência de irrigação tende a ser reduzida.
Poucos estudos, no entanto, fornecem dados concretos sobre a evaporação e evapotranspiração nestes sistemas integrados. É necessário, assim, que a observação seja mais uma vez constante. Mensurar a estrutura de solo (densidade, macro e microporos), velocidade de infiltração básica do solo, temperatura entre solo e palha, umidade do solo, entre outras, pode ser um balizamento para as lâminas de água a serem ofertadas.
Por onde começar
O planejamento do sistema irrigado deve começar na introdução do sistema iLP. Mas, caso o sistema já esteja a campo, é perfeitamente possível adequar a irrigação ao mesmo. Temos à disposição um leque amplo de empresas que atuam com irrigação por aspersão convencional, carretel, pivô central e localizada.
Sua propriedade e sistema produtivo irão nortear a escolha da melhor forma de irrigação. Regiões mais ao Sul do Brasil têm optado pela fertirrigação em carretel, por exemplo, uma vez que facilita o aproveitamento de dejetos de animais para promover a adubação, bem como é de custo acessível, não atrapalha o operacional da propriedade e é livre de tubulações.
Já em propriedades maiores, localizadas no Centro-oeste do Brasil, a irrigação por pivô central tem se mostrado mais eficiente, aproveitando-se da topografia das áreas e da facilidade de manejo.
Necessidade hídrica
Escolhido o sistema irrigado, é extremamente importante definir os estádios de maior necessidade hídrica, onde o produtor deve estar mais atento à utilização da irrigação suplementar. Lembramos, aqui, que a necessidade em si não é somente pelo volume de água exigido, mas também pelo risco que uma pequena falta de água pode ocasionar ao sistema.
Se pegarmos a cultura da soja, por exemplo, embora a necessidade hídrica para a germinação/emergência da semente pós-plantio não seja tão elevada em volume, a falta de água ocasiona a perda de população de plantas e, consequentemente, de produtividade.
Assim, a semeadura/emergência é um estádio critico em necessidade hídrica e deve ser constantemente monitorada pelo produtor. Da mesma forma, conforme a forrageira vai elevando seu índice de área foliar (IAF), eleva-se a evapotranspiração da cultura e, consequentemente, a necessidade hídrica do indivíduo e da área como um todo.
Pode ocorrer que, no momento de necessidade hídrica, o próprio ambiente forneça a quantidade de água necessária, mas é importante estarmos seguros que, caso necessite, possamos, por meio de um simples manejo, suprir a demanda e evitar perdas.
No máximo potencial
Estas intervenções suplementares de irrigação fazem com que a produtividade se mantenha mais próximo ao seu potencial, principalmente quando estamos trabalhando em condições mais adversas de solo e clima.
Somente como exemplo, o campeão em produtividade de soja na safra 2020/21 apresentou produtividades superiores em 7,3 sacas de soja por hectare, quando comparado ao concorrente não irrigado.
Aqui estamos falando em áreas com os melhores manejos de solo a nível Brasil e mundo. Já em estudo de Oliveira et al., (2020), a soja irrigada plantada em outubro apresentou produtividade 18,4% superior à soja de sequeiro.
Quando esta soja irrigada foi semeada em janeiro (semeadura no Rio Grande do Sul), em uma condição de clima mais adverso, a produtividade foi 57% superior. Isto demonstra que a irrigação é importante em qualquer sistema produtivo, mas se faz ainda mais importante em sistemas mais adversos.
Expandindo para outras atividades que possam estar presentes no iLP, fica claro que os problemas com vazios forrageiros agressivos ficam mais reduzidos, bem como a grande necessidade de “áreas bolsões” para época das secas do ano, e consequentemente a capacidade de suporte da área se eleva, aumentando o retorno ao produtor, reduzindo o risco e aumentando a lucratividade.