Plantas daninhas: controle antes da emergência. Confira nesse artigo dicas de manejo, resistência e de ferramentas úteis no controle contra plantas daninhas.
Por Emerson Trogello
Professor – IF Goiano, campus Morrinhos
emerson.trogello@ifgoiano.edu.br
Giovana Cândida Marques
Mestranda em Agronomia – Unesp
giovana-candida.marques@unesp.br
Ana Caroline de Araújo
Mestranda em Proteção de Plantas – IF Goiano, campus Urutai
carolagro0@gmail.com
Plantas daninhas competem por espaço e, consequentemente, por luz, água e nutrientes com as plantas de interesse agrícola. Além disso, elas podem ser hospedeiras de doenças e pragas que aumentam o custo da produção, ou mesmo ser um entrave no ato da colheita reduzindo a eficiência operacional ou depreciando o produto colhido.
Elas estão presentes desde o início da agricultura. Neste contexto, elas eram aquelas que não podiam ser aproveitadas como fonte de alimento, forragem e fibra. Do aspecto botânico, as plantas daninhas são consideradas pioneiras, ou seja, são as primeiras a germinar quando o habitat é alterado.
Já podemos aqui afirmar que, quanto mais mobilizado/alterado o ambiente de cultivo, maior será o problema com as plantas daninhas em suas áreas.
Competição acirrada
Este aspecto de planta altamente competidora resulta em redução significativa na produtividade das plantas de interesse, podendo chegar a mais de 70%. Isto representa, em alguns casos, maiores danos a atividade agrícola do que pragas e doenças.
Em geral, quanto maior o período de convivência com as infestantes, maior é o grau de interferência, a depender da época do ciclo da cultura em que ocorrer a competição.
Alerta: plantas daninhas tem diferentes espécies
As espécies de plantas daninhas variam de acordo com as características climáticas, de solo e de manejo da área/região, no entanto, cerca de 40% das plantas daninhas existentes se dividem entre a família das Poaceae e Asteraceae.
As principais espécies de plantas daninhas que afetam as lavouras do Brasil são: caruru (Amaranthus spp.), apaga-fogo (Alternanthera ficoidea), tiririca (Cyperus spp.), buva (Conyza spp.), guanxuma (Sida spp.), corda-de-viola (Ipomoea spp.), beldroega (Portulaca oleracea), capim-amargoso (Digitaria insularis), losna branca (Parthenium hysterophorus), carrapicho de carneiro (Acanthospermum hispidum), erva-quente (Spermacoce latifolia), capim-pé-de-galinha (Eleusine indica), trapoeraba (Commelina spp.), vassourinha-de-botão (Spermacoce verticillata), erva-de-santa-luzia (Chamaesyce hirta), entre outras.
Manejo contra plantas daninhas
É importante salientar que dispomos de algumas ferramentas que visam reduzir o potencial de infestação da planta daninha. Entre elas destacamos o manejo cultural, que implica em buscar maneiras de privilegiar sempre a cultura de interesse.
Se formos pensar neste sentido, o próprio controle de insetos na cultura de interesse é um manejo que impacta no controle de plantas daninhas, pois controlando o inseto a minha planta-cultura mantém maior vigor e, consequentemente, tende a ter maior capacidade competitiva frente às plantas daninhas.
O agricultor deve agir sempre em favorecimento da cultura, se atentando à escolha correta do arranjo de plantas, fomentando uma correta adubação do solo que atenda a cultura, escolhendo material genético altamente adaptado ao ambiente de cultivo, definindo a época ideal de plantio, etc.
Até mesmo uma adubação localizada pode ser um fator que atribui maior potencial competitivo à cultura, em detrimento da planta daninha. Desta forma, pensemos sempre em otimizar o máximo potencial produtivo da cultura com os manejos empregados.
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Pela característica ecológica da planta daninha, observamos que a mesma é a primeira a colonizar o espaço, entretanto, com um ambiente pouco alterado, a mesma perde importância com o tempo. Desta forma, a adoção de técnicas que revolvam o mínimo possível o solo e mantenham palhada sobre o mesmo, e desta forma não exponha o banco de sementes de plantas daninhas, tem impacto extremamente positivo na redução da infestação de daninhas.
Da mesma forma, a planta daninha tende a ocupar sempre os espaços ociosos. É comum, assim, verificar nas bordaduras da área, perto a cercas, estradas, etc., uma alta infestação. É extremamente importante que o agricultor controle as plantas daninhas até mesmo nestes locais, uma vez que o potencial de produção de sementes por indivíduo de planta daninha é sempre muito elevado, e a propagação destas sementes pode rapidamente causar uma recolonização da área.
Como exemplo temos o capim amargoso, que pode facilmente produzir mais de 100 mil sementes por indivíduo, tendo ainda uma alta facilidade de dispersão. Ainda pensando em espaços ociosos, é importante manter a minha área de cultivo sempre ocupada com plantas de interesse, sejam elas com a finalidade de colheita ou de ciclar nutrientes, ser fonte de alimento a animais, etc.
Mesmo a janela de junho (pós segunda safra) até outubro (início de safra para muitas regiões) deve ter plantas ocupando a área, reduzindo assim a janela de oportunidades para a planta daninha pioneira.
Ferramentas úteis
Dentre as inúmeras ferramentas, não podemos esquecer da utilização de herbicidas, entretanto, sem denotar a ele a única forma de controle. Dessa forma, os herbicidas são parceiros dos produtores, devido à capacidade de inibir o crescimento ou matar determinadas plantas daninhas, sendo, por vezes, seletivo à cultura de interesse.
Há diversos tipos de herbicidas, como os sistêmicos não seletivos, que suprimem qualquer tipo de planta daninha, sem distinção; sistêmicos seletivos, que suprimem a planta daninha sem causar redução de produtividade da cultura de interesse, herbicidas de contato, herbicidas pré-emergentes, pós-emergentes, enfim, seu uso deve ser definido de acordo com o tipo de planta invasora, abundância, tipo de cultura, tipo de ambiente e o estádio da planta daninha e da cultura de interesse.
É importante salientar que o complexo de plantas daninhas apresenta alta variabilidade, tanto de espécies como na espécie. Ou seja, um indivíduo se difere do outro. Junte-se a isto a alta produção de indivíduos e temos um caminho aberto para uma alta adaptação ao ambiente e ao manejo empregado.
Esta característica é importante para que nunca esqueçamos que, no conjunto de plantas daninhas presentes na área, pode ocorrer que naturalmente um indivíduo seja tolerante a um tipo de manejo ou mecanismo de ação de herbicida.
Desta forma, é imprescindível que o agricultor lance mão de diferentes ferramentas de controle, e principalmente, que dentro da ferramenta do controle químico o mesmo foque sempre na diversificação de mecanismos de ação de herbicidas.
Resistência
Está nítido a campo que a resistência de plantas daninhas a herbicidas, seja ela simples, cruzada (resistência a mais de um herbicida, do mesmo mecanismo de ação) ou múltipla (resistência a herbicidas de diferentes mecanismos de ação) vem aumentando dia após dia, dificultando o controle de plantas daninhas e reduzindo o leque de herbicidas com potencial de uso.
O Brasil possui, atualmente, 28 espécies de plantas daninhas apresentando resistência a mecanismos de ação largamente utilizados. Destaca-se neste cenário as espécies de capim amargoso, capim pé-de-galinha, buva, azevém, entre outras.
Dependendo da complexidade de resistência presente na sua área, o custo de controle, incorporando diferentes mecanismos de ação de herbicidas, pode se elevar em até 400%. A média, no entanto, fica entre 40 e 200% de elevação de custos. Fica claro aqui que devemos buscar alternativas para minimizar o impacto da resistência de plantas daninhas na perda de produtividade e/ou na elevação dos custos.
A primeira alternativa, como já mencionado, é trazer para o sistema outras ferramentas de controle e supressão de daninhas. Manter a área sempre com plantas de cobertura, talvez seja a principal delas.
É extremamente importante não dar oportunidade a uma planta oportunista, como a daninha. Além disso, é necessário cada vez mais pensarmos de fato em um sistema de rotação de culturas. A sucessão soja/milho nos força a utilizar sempre mecanismos de ação pouco diversos.
Conclusão
À medida que incorporarmos no sistema outras opções de culturas, também incorporaremos ao mesmo outras opções de mecanismos de ação. Esta rotação, no entanto, esbarra sempre no fator econômico de curto prazo.
Além disso, é importante buscar a diversidade de mecanismos de ação, mesmo com pouca diversidade de culturas na área. Incorporar ao seu manejo herbicidas pré-emergentes é fundamental – os mesmos são diversos quanto a mecanismos de ação e controlam a planta daninha em seu estádio fenológico de menor potencial de resistência, ou seja, na hora da germinação/emergência.
Utilizar os pré-emergentes diminui a pressão sobre os herbicidas de pós-emergência, podendo assim diversificar os mesmos quanto ao seu uso. O posicionamento destes pós-emergentes deve ser sempre no controle de plantas daninhas novas, uma vez que estas ainda não detêm estruturas de agressividade, facilitando absorção, translocação e controle efetivo da planta daninha.
Ocorre que, muitas vezes, o mal posicionamento do herbicida, seja por fator de dose, mistura de tanque, ambiente ou estádio de desenvolvimento da planta daninha, é confundido com resistência do complexo de plantas daninhas.
Plantas de cobertura, rotação de culturas, uso de pré-emergente, pós-emergentes iniciais e rotação de mecanismos de ação são algumas das chaves para iniciarmos a batalha contra a resistência de plantas daninhas no Brasil.