João Victor Sabino Alves – joaovictor._sabino@hotmail.com – Graduando em Agronomia – Faculdade de Ensino Superior e Formação Integral (FAEF – Garça – SP)
Marcelo de Souza Silva – mrcsouza18@gmail.com – Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia/Horticultura pela FCA/UNESP e professor do curso de Agronomia – FAEF – Garça
A cafeicultura brasileira apresenta inúmeras particularidades que contribuem com uma variabilidade espacial elevada nas áreas de cultivo, sejam nos parâmetros ligados às condições edáficas, climáticas, culturais ou operacionais.
O que o cafeicultor precisa entender é que a planta de café, por ser perene, necessita da aplicação das práticas agronômicas eficazes sobre todos estes parâmetros produtivos supracitados, visto que o manejo errado da lavoura, sobretudo na fase inicial de exploração, poderá perdurar por vários anos, diferentemente das culturas anuais, que com o encerramento de seu ciclo são removidas, têm o solo preparado, e no ano seguinte uma nova lavoura é implantada.
Deste modo, a busca elevada por tecnologias que garantam uma boa implantação da lavoura é justificada, principalmente considerando uma maior facilidade de aquisição de tecnologias de plantio mais modernas, que além de otimizarem o processo de plantio, garantem um maior controle sobre as etapas futuras de exploração da lavoura, podendo acarretar aumento de produção e reduzindo ao máximo as perdas ocasionadas por falhas ou até mesmo por pragas e ervas daninhas.
Sendo assim, o cafeicultor necessita aproximar seu sistema de produção com o que está sendo praticado em termos de avanço tecnológico, para garantir um fortalecimento da sua atividade agrícola.
Benefícios proporcionados
Os benefícios da tecnologia de precisão são mais comuns no momento da colheita, do manejo produtivo, adubação e pós-colheita do café, sendo menos comum tratar deste assunto no momento da implantação da lavoura.
A operação de plantio com alta tecnologia irá refletir positivamente sobre todas as demais operações, culminando em ganhos de produtividade e em ritmo de trabalho da colhedora de café.
Assim, o produtor acaba ganhando em série, não só no intervalo de mudas, mas no conjunto de plantador e preparador de sulco, que permite também um alinhamento satisfatório da colhedora, com mais qualidade operacional, o que irá resultar em ganho de escala.
Como implantar a técnica
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Na implantação do cafezal, os produtores devem se atentar a alguns cuidados para que esta operação seja realizada da melhor forma, tais como o conhecimento da tecnologia e respeitar os detalhes de cada equipamento, que farão a diferença na obtenção de bons resultados.
Um dos primeiros detalhes refere-se à velocidade máxima de deslocamento do equipamento de preparo de sulco, que deve operar a 700 m h-1, visto que em velocidades maiores podem prejudicar o trabalho, levando-o à não liberação das mudas com qualidade.
Este preparo e adubação inicial pode ser realizado de acordo com a elaboração de mapas prévios de expectativa de produtividade, com base na fertilidade e tipo de solo. Essa descrição da área de plantio auxiliará na melhor tomada de decisão quanto à correção da fertilidade e manejo nutricional das plantas, fornecendo dados concretos para manejos futuros do cafezal.
Tecnologias
Atualmente, com a utilização de drones, o levantamento e mapeamento da área ficou mais preciso, garantindo maior ajuste e perfeição da projeção das ruas e linhas de cultivo, surtindo efeito benéfico em todos os demais tratos culturais, como manejo de pragas, doenças, maior eficiência no controle de plantas daninhas, favorecimento da solarização das plantas que garantirá maior taxa fotossintética e, consequentemente, melhorias na qualidade do café produzido, além de facilitar a colheita mecanizada.
Para assegurar essa precisão na projeção das linhas de cultivos, os plantios mecanizados, além de mais rápidos e seguros, devido ao uso de mapas de altimetria e de GPS, garantem também a economia de mão de obra, aumentando exponencialmente a eficiência de plantio e de manejo da cultura, refletindo até no menor número de manobras dos maquinários em campo, o que gera outros tipos de economias.
Vale destacar que o uso dos mapas e GPS devem ser utilizados desde as primeiras operações, ou seja, no preparo de solo. Como o deslocamento dos tratores são orientados por GPS, facilitará o uso das demais tecnologias, como pulverização, colheita e tratos culturais, devido ao uso dos mesmos sinais de GPS, gerando economia e grande eficiência ao produtor.
Produtividade
Quando falamos em plantio mecanizado ou agricultura de precisão, isso está diretamente ligado à produtividade da cultura. Além da grande economia que a mecanização oferece, a produtividade projetada para o momento da colheita está diretamente ligada ao preparo de solo e execução das demais operações de cultivo, que na ocasião são beneficiadas pelo uso da tecnologia.
Com o semeio bem sincronizado, alinhado e uniforme, a lavoura terá um crescimento e uma arquitetura que suportará uma grande produtividade. Se o plantio for efetuado de forma inadequado, ou seja, com plantas muito perto umas das outras, ou espaçamento de ruas estreito, essa lavoura terá grandes problemas futuros, como competição entre plantas por nutrientes e luz, comprometendo a absorção de nutrientes e fotossíntese líquida, diminuindo o desenvolvimento e produção.
Quando a mecanização e a precisão são empregadas no planejamento da lavoura, os erros são reduzidos, com precisão entre espaçamentos que podem chegar a até três centímetros. Deste modo, a planta conseguirá desenvolver um sistema radicular e uma boa arquitetura, facilitando a absorção de nutrientes e a fotossíntese.
Vale destacar que o uso de maquinários de alta precisão favorece todas as operações, assim, uma operação como o plantio pode surtir efeito positivo no momento da adubação de cobertura e produção, controle de pragas e doenças, além de tratos culturais, como podas e colheita.
O principal benefício da mecanização de precisão na fase de plantio é a exatidão, a precisão do preparo da lavoura, desde o preparo do sulco, que vai permitir um bom desenvolvimento radicular, possibilitando um desenvolvimento muito superior ao das lavouras plantadas com os preparos convencionais.
Atualmente, já é possível adotar também o uso de imagens com sobreposições anteriormente definidas, de forma que estas imagens formem um ortomosaico, produto do processamento em um software especializado e com auxílio de outros programas, podendo perceber a vetorização das linhas de plantio e de falhas. O mais importante é ter em mente que o uso destes dados pode quantificar as falhas em cada um dos talhões plantados.
O caso do café
Nos últimos anos, tem-se observado o crescimento do uso da tecnologia de precisão no cultivo de café, com avanços mais recentes no momento do plantio, contudo, percebe-se a ocorrência de problemas que comprometem a eficiência desta técnica, sobretudo quanto à tecnologia aplicada à correção de solos em taxa variável.
É importante deixar claro que a persistência de insucesso em qualquer uma das etapas de produção pode levar ao desperdício de recursos, à perda de tempo e a um processo de desânimo em relação à técnica que, se aplicada corretamente, torna-se um pilar importante para impulsionar a produtividade do cafezal.
É muito comum, em grandes áreas de produção, o uso de uma gestão convencional, em que ocorrem aplicações desuniformes de fertilizantes, irrigação, mudas, entre outros, ou mesmo a distribuição de recursos sem considerar a divisão dá área destinada ao cultivo em zonas de gestão, aplicando-se a mesma quantidade de investimentos, independente da variação do tipo de solos, declividade, histórico de manejo, dentre outros.
Acertos
Para reduzir a possibilidade de erros decorrentes da tecnologia de precisão, é preciso, em um primeiro momento, que o cafeicultor tenha domínio sobre a tecnologia e/ou recorra à assistência técnica especializada, para que seja possível refinar as práticas de manejo e avaliar os efeitos dessa tecnologia, tornando possível conhecer a variabilidade espacial que existe na lavoura e como manejar corretamente um sistema de produção que visa à sustentabilidade por meio do uso racional de recursos.
Ferramenta-chave
Diferentes trabalhos comprovam que a agricultura de precisão tem um grande potencial para ser aplicado à cafeicultura e tornar-se uma ferramenta-chave para o desenvolvimento desta cultura. O produtor precisa entender que a aplicação desta técnica, sobretudo na instalação da lavoura, requer o conhecimento de várias áreas ligadas às ciências agrárias.
Deste modo, além de acompanhar os trabalhos práticos em campo de produção, deve-se recorrer à assistência técnica especializada. A computação do valor a ser investido está ligada aos custos operacionais relativos à amostragem e à análise do solo, à geração de mapas, aplicação à taxa variável, bem como aos custos dos insumos usados para melhoria da fertilidade da área e de máquinas e equipamentos.
Vale destacar que a tecnologia de precisão pode ser vista como uma alternativa para redução de custos, sobretudo a longo prazo, uma vez que sua aplicação pode otimizar a realização de inúmeras operações subsequentes ao plantio da muda no campo, ou seja, esse investimento deverá ser compensado a médio e longo prazo.