Renato Passos Brandão – Gerente Executivo do Deptº Agronômico do Grupo Vittia
A cana-de-açúcar é uma das principais culturas brasileiras. O Brasil é o maior produtor mundial de cana e é líder em programas de substituição de combustíveis fósseis por biocombustíveis (etanol).
Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab, 2020), a área ocupada com a cultura da cana-de-açúcar na safra 2019/20 é de 10,04 milhões de hectares. O Estado de São Paulo possui a maior área plantada de cana, com 5,083 milhões de hectares, representando 50,63% da área cultivada no Brasil, seguido por Goiás e Minas Gerais com 1,137 milhão de hectares e 984 mil hectares, respectivamente.
O Mato Grosso do Sul e o Paraná também possuem área expressiva de cana-de-açúcar (Tabela 1).
Tabela 1. Principais Estados produtores de cana no Brasil.
Estados | Área cultivada, ha | % da área de cana |
São Paulo | 5.083.000 | 50,63 |
Goiás | 1.137.000 | 11,32 |
Minas Gerais | 984.000 | 9,80 |
Mato Grosso do Sul | 809.000 | 8,06 |
Paraná | 605.000 | 6,02 |
Total | 10.040.000 | 100,00 |
Fonte: Conab (2020).
Questão de produtividade
A produtividade da cana está aquém do potencial genético das variedades atuais. Atualmente, muitas variedades de cana ultrapassam a produtividade de 200 t/ha nas primeiras colheitas. Na safra 2020/21, a produtividade esperada de cana situa-se entre 76 a 77 t/ha e um ATR médio de 137 kg/t (Conab, 2020).
Um dos fatores que contribui para a produtividade da cana não atingir três dígitos é a expansão da cultura em solos de baixa fertilidade. Além disso, nas regiões tradicionais com solos de melhor fertilidade, há a necessidade de realizar o manejo nutricional visando a manutenção do equilíbrio nutricional nos canaviais.
Além da calagem, gessagem, adubação com NPK e rotação de culturas, nestes ambientes de produção os micronutrientes adquirem importância cada vez maior para o aumento na produtividade da cana (Orlando Filho et al., 2001; Mellis et al., 2008).
Dentre os micronutrientes, a deficiência de cobre é generalizada em cana em solos sob vegetação de Cerrado, principalmente nos solos com menor teor de argila e nos tabuleiros costeiros do Nordeste, Norte fluminense e Espírito Santo (Orlando Filho et al., 2001).
Cobre – elemento químico
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O cobre é um elemento químico metálico, com número atômico igual a 29 e massa molar de 65,55 g/mol. O cobre é um metal de coloração avermelhada, maleável e facilmente moldável, com a formação de filamentos. É oxidado apenas superficialmente.
O elemento químico forma uma série de compostos, tais como óxidos, sulfetos, sulfatos e carbonatos. Em soluções com pH mais alto, o cobre é insolubilizado como hidróxido [Cu(OH)2] (Raij, 1991).
Cobre em cana
A essencialidade do cobre às plantas foi demonstrada em 1931, por Lipman e McKinney (Malavolta, 1991; Dechen e Nachtigall, 2018). O cobre é um dos micronutrientes mais limitantes à produção da cana nos tabuleiros costeiros do Nordeste e Espírito Santo, e em solos sob vegetação de Cerrado.
Para a produção de 100 t de cana-planta e cana-soca é necessário 287 e 389 g de cobre, respectivamente. Na média, cerca de 233,5 g do cobre são exportados pelos colmos da cana-planta e cana-soca, representando 69,1% do cobre absorvido (Tabela 2).
Tabela 2. Quantidade de micronutrientes absorvidos e exportados pela cana-planta e cana-soca.
Micronutrientes | cana-planta | cana-soca | ||||
colmos (c) | folhas (f) | c + f | colmos (c) | folhas (f) | c+ f | |
– – – – – – – – – – – – – – – – – – g/100 t de colmos – – – – – – – – – – – – – – – – – – | ||||||
Boro (B) | 195 | 116 | 311 | 102 | 55 | 157 |
Cobre (Cu) | 194 | 93 | 287 | 273 | 116 | 389 |
Ferro (Fe) | 2.378 | 6.512 | 8.890 | 1.207 | 4.538 | 5.745 |
Manganês (Mn) | 1.188 | 1.651 | 3.838 | 916 | 1.189 | 2.105 |
Zinco (Zn) | 440 | 282 | 722 | 298 | 163 | 561 |
Fonte: Orlando Filho (1993).
Cobre no solo
O teor total de cobre na crosta terrestre é de, aproximadamente, 55 mg/kg. Normalmente, os solos oriundos de rochas basálticas possuem os maiores teores totais de cobre (Krauskopf, 1972).
Em solos do Estado de São Paulo, o teor médio de cobre total variou de 8,1 a 190 mg/kg, respectivamente, em solos derivados de sedimentos modernos e de rochas básicas (Valadares, 1975).
A mobilidade do cobre no solo é baixa. A difusão é o principal mecanismo de transporte do cobre às raízes da cana, sendo absorvido na forma iônica de Cu2+ (Dechen e Machtigall, 2018).
Fatores que afetam a disponibilidade do cobre à cana
A análise química de solo para a determinação da disponibilidade de cobre é uma prática amplamente utilizada pelas usinas e fornecedores de cana. Entretanto, isoladamente não é suficiente para a avaliação da disponibilidade de cobre em solos (Adorna, 2011).
A disponibilidade do cobre para a cana é afetada por diversos fatores do solo, dentre os quais o material de origem, textura, pH, teor de matéria orgânica e as interações com outros nutrientes, principalmente o fósforo e o zinco (Borkert et al., 2001).
a. Material de origem e textura do solo
O material de origem é o fator predominante nos teores do cobre nos solos. Os solos provenientes de basalto, rocha básica ígnea, normalmente, são argilosos e possuem os maiores teores de cobre. Os solos oriundos de rochas sedimentares, dentre as quais os arenitos e os calcários, possuem menores teores de argila e baixos teores de cobre (Valadares, 1975).
b. pH do solo
O pH do solo é um dos principais fatores que controla a disponibilidade do cobre à cana. Quanto maior é o pH do solo, menor é a disponibilidade do cobre para as plantas e, dependendo do teor do micronutriente no solo, pode causar deficiência na cana (Figura 1) (Abreu et al., 1998; Abreu et al., 2001).
Figura 1. Efeito do pH na disponibilidade de cobre e demais nutrientes às plantas.
Fonte: Malavolta (2006).
c. Matéria orgânica
A matéria orgânica do solo é constituída por uma fração húmica e não-húmica, predominando a primeira fração. Os compostos orgânicos são responsáveis pela formação de complexos orgânicos com o ferro, zinco, manganês e cobre.
Dentre os micronutrientes, o cobre é aquele que interage mais fortemente com os compostos orgânicos do solo, formando complexos estáveis, especialmente com os grupos carboxílicos e fenólicos dos ácidos húmicos (Abreu et al., 2007; Adorna, 2011).
d. Interações do cobre com outros nutrientes
O cobre interage no solo com outros nutrientes, tais como o fósforo e zinco. A interação do cobre com o fósforo é uma das mais importantes. Adubações com altas doses de fósforo podem reduzir a disponibilidade do cobre às plantas, diminuindo a concentração deste nutriente na parte aérea das plantas, muitas vezes devido ao efeito de diluição (Abreu et al., 2001).
A interação do cobre e zinco é antagônica. As adubações de solo com o zinco reduziram o teor de cobre nas folhas das culturas, dentre as quais o milho e o arroz, sendo mais acentuado em solos com baixos teores de cobre (Motta et al., 2007).
Funções do cobre
A função principal do cobre está relacionada com a ativação de enzimas, polifenoloxidase, fenolase, lacase e a oxidade do ácido ascórbico. Participa da fotossíntese, atuando no transporte de elétrons pela via plastocianina (Orlando Filho, 2001; Casarin et al., 2006).
O cobre atua na defesa das plantas contra as doenças via síntese de lignina e redução no acúmulo de compostos fenólicos (Prado, 2008). Ele tem efeito tônico nas folhas, inibindo a síntese de etileno que, por sua vez, está envolvido no processo de senescência, deixando as folhas ativas por mais tempo.
Sintomas de deficiência de cobre
O cobre é um micronutriente com baixa mobilidade no floema da cana. Portanto, os sintomas de deficiência do cobre ocorrem inicialmente nas folhas mais novas da cana (Orlando Filho et al., 2001; Prado, 2008), que se tornam cloróticas e murchas, porém, sem manchas necróticas. Há envergamento excessivo das lâminas foliares, inclusive com quebra. Os colmos e meristemas perdem a turgidez e apresentam o topo caído (Orlando Filho et al., 2001).
Figura 2. Deficiência do cobre em cana-de-açúcar.
Crédito: Anderson e Bowen (1992).
Respostas da cana à aplicação de cobre
As maiores respostas da cana ao cobre ocorrem em solos sob vegetação de Cerrado e nos tabuleiros costeiros do Espírito Santo, no Norte fluminense e Nordeste. Deficiências de cobre também foram constatadas na região do Noroeste do Estado de São Paulo e no Vale do Paranapanema (Orlando Filho et al., 2001).
Em solo de Tabuleiro em Pernambuco, foi verificado que 5,0 kg/ha de Cu, como sulfato de cobre, foram suficientes para a elevação da produtividade média (cana-planta e duas soqueiras) em 13 t/ha (IAA-Planalsucar, 1984). Orlando Filho et al. (2001) verificaram aumento na produtividade da cana-planta em dois experimentos com o quelato-Cu (Tabela 3).
Tabela 3. Efeito da adubação de solo e foliar com o cobre em cana-planta.
Tratamento 1/ | Modo de aplicação | Usina Nova América/SP | Destilaria Debrasa/MS | Produtividade média |
– – – – — – – – – – – – – t/ha – – – – – – – – – – – – – – – – – – | ||||
Testemunha | – | 99 | 94 | 96,5 |
4 L/ha do quelato-Cu | Solo | 107 | 111 | 109 |
2 L/ha do quelato-Cu | Foliar | 112 | 106 | 109 |
Fonte: Orlando Filho et al. (2001).
Mellis et al. (2009) verificaram que o cobre aplicado no sulco de plantio da cana proporcionou aumento na produtividade da cana-planta e na 1ª soqueira em distintos ambientes de produção no Estado de São Paulo (Figura 3).
Figura 3. Resposta do manganês em cana-planta e 1ª soqueira em distintos ambientes de produção do Estado de São Paulo.
Fonte: Mellis et al. (2009).
Recomendações de uso
A recomendação de cobre para a cana deve levar em consideração quatro informações: análise química do solo, análise foliar da cana, diagnose visual e histórico do canavial. O cobre pode ser fornecido para a cana de duas formas: via solo e via foliar.
- Adubações no solo
O fornecimento do cobre via solo para a cana pode ser realizado via adubação sólida ou via líquida.
a.1. Adubação sólida
As doses e as fontes de cobre para a adubação sólida em cana-planta e cana-soca em função dos teores no solo estão na tabela 4.
Tabela 4. Adubação sólida com cobre em cana-planta e cana-soca.
Teor de Mn no solo | Dose recomendada kg/ha de Cu 1/ | Fonte |
Cu (DTPA): <0,3 mg/dm3 | 2,00 a 3,00 | Oxi-sulfatos |
Cu (DTPA): 0,3 a 0,8 mg/dm3 | 1,00 a 1,50 | Oxi-sulfatos |
Fonte: Adaptado de Vitti et al. (2006).
a.2. Adubação líquida
A adubação líquida é uma das formas mais eficientes para o fornecimento de cobre à cana. Uma das vantagens desta forma de fornecimento de cobre à cana é a uniformidade da aplicação. Para a realização dessa prática, deve-se verificar a compatibilidade química das fontes de cobre com os defensivos, biodefensivos agrícolas e demais fertilizantes.
As doses e as fontes de cobre para a adubação líquida no solo em função do seu teor no solo estão na Tabela 5. Em cana-planta, pode ser aplicado na cobrição dos toletes e em cana-soca no corte de soqueira.
Tabela 5. Adubação líquida no solo com cobre em cana-planta e cana-soca.
Teor de Cu no solo | Dose recomendada kg/ha de Cu | Fonte 1/ |
Cu (DTPA): <0,3 mg/dm3 | 0,50 a 1,00 | Metis® (suspensão com carbonato de cobre e enxofre) |
Cu (DTPA): 0,3 a 0,8 mg/dm3 | 0,25 a 0,50 |
1/ Evitar o uso de sais (sulfatos). São corrosivos.
Adaptado de Vitti et al. (2006).
A quantidade de cobre aplicado nos solos via adubação líquida é menor que a adubação sólida.
b. Adubações foliares
A adubação foliar é a forma mais eficiente e econômica para o fornecimento de cobre para a cana. Em soja cultivada em solo com baixo teor de cobre (Cu = 0,1 mg/dm3 – Mehlich-1), Galrão (1999) verificou maior eficiência da aplicação do cobre: 1,0 kg do cobre via foliar equivale a 10 kg do nutriente aplicado no sulco de plantio da soja.
Em canaviais em solos com teor de cobre abaixo do nível crítico (Cu < 0,8 mg/dm3 – DTPA), realizar duas adubações foliares com 0,30 L/ha de Metis. Realizar as adubações foliares com o Metis® antes do fechamento do canavial, com intervalo de 30 dias. A segunda adubação foliar pode ser realizada após o fechamento do canavial via pulverização aérea.
Considerações finais
O uso de cobre em solos com baixo teor do nutriente (solos sob vegetação de Cerrado e tabuleiros costeiros do Nordeste, Norte fluminense e Espírito Santo) constitui uma importante ferramenta no aumento de produtividade.
Em muitos experimentos, as respostas da cana-de-açúcar ao cobre têm sido baixas ou nulas, causando uma descrença na utilização em escala comercial. É importante mencionar que muitos experimentos foram realizados em solos com boa fertilidade natural com teores adequados de cobre.
Entretanto, nas condições atuais de cultivo da cana-de-açúcar, com a expansão dos canaviais em solos com baixa fertilidade natural (solos arenosos e sob vegetação de Cerrado, esgotamento das reservas dos micronutrientes dos solos e o uso de variedades com alto potencial produtivo e mais exigentes em nutrientes), a adubação com este micronutriente torna-se cada vez mais necessária.
A deficiência de cobre pode ocasionar distúrbios metabólicos na cana, diminuindo a produtividade. Em situações extremas, pode ocasionar um acentuado decréscimo no desenvolvimento das plantas, comprometendo seriamente a produtividade da cana.
O Grupo Vittia vem pesquisando a utilização do Metis® e Metis® Nutri em cana. Até o presente momento, os resultados são extremamente positivos, com aumento na produtividade da cana.
Quer saber mais?
Para mais informações, consulte o site do Grupo Vittia – www.vittia.com.br, nossos representantes comerciais ou os profissionais do Departamento Agronômico.