Depois de um verão marcado pela seca, agora é o excesso de chuva que entra em cena e preocupa a agricultura com a chegada do El Niño. Os efeitos causados pelo fenômeno podem afetar não apenas as culturas de inverno, mas também o início do plantio do verão, que deve atrasar.
Episódios ocasionais de geadas de intensidades moderada e forte podem ocorrer durante este inverno e afetar as fases de florescimento e espigamento de cereais como trigo, aveia, canola e cevada, comprometendo a produtividade, segundo previsões do Simepar.
Sensível à geada e à alta umidade, o trigo é a principal cultura de inverno, que prefere climas frios a temperados e moderadamente secos. Por esse motivo, o momento ideal para a realização da colheita mecânica do cereal é quando os grãos apresentam teor de umidade apropriado, para que as perdas sejam mínimas. Na prática, isso ocorre quando os grãos atingem aproximadamente 13% de umidade. Nesse percentual, o preço do produto não sofre desconto devido ao teor de umidade, e não há necessidade de secagem.
Entretanto, caso a colheita ocorra com umidade superior à indicada, os grãos devem passar pelo processo de secagem até chegar a ordem de 13%. Outro aspecto que o produtor deve observar é que, com a secagem, podem ocorrer alterações significativas na qualidade do grão.
De acordo com o engenheiro agrônomo Roney Smolareck, da Loc Solution, empresa que detém a marca Motomco de medidores de umidade de grãos, para garantir uma melhor produtividade da lavoura e assegurar a qualidade final do grão, o produtor deve tomar alguns cuidados. “Esse processo da safra favorece um melhor planejamento da colheita, e o emprego mais eficiente de equipamentos para manter a qualidade do produto”, afirma Smolareck.
Ele explica que em uma cultura, é de extrema importância analisar os padrões de umidade desde o plantio até a comercialização, passando por etapas como, colheita, secagem, armazenagem e expedição. “O maior benefício de se utilizar um medidor de umidade homologado, é que o equipamento fornece uma porcentagem de umidade muito mais confiável, com precisão e dentro dos índices oficiais, indicando o momento certo da colheita.”, enfatiza.
A questão do armazenamento também é outro fator que deve ser levado em conta, pois influencia na qualidade do grão se não for feita a secagem adequada. A estimativa de perdas quantitativas de grãos armazenados corresponde a médias anuais de 10%.
Os principais fatores que contribuem para a deterioração e a contaminação dos grãos são a alta umidade e a alta temperatura, as quais favorecem a proliferação de insetos-praga e fungos, que podem ser prejudiciais à saúde de humanos e de animais.
Cooperativa – A Cotrijal Cooperativa Agropecuária e Industrial, de Não Me-Toque, no norte gaúcho, tem 88 unidades espalhadas pelo Estado e atua em uma área de 1,3 milhão de hectares, onde concentra suas atividades na produção de soja, milho, trigo, cevada e canola.
As expectativas do Gerente de Armazenagem da Cotrijal, Gabriel Daniani, são as melhores possíveis para este ano, apesar de que nos últimos três anos o Estado foi castigado pela estiagem. “Esperamos ter uma safra de trigo tão boa quanto a do ano passado. Tivemos produção recorde, boa produtividade e bons preços”, afirma Daniani.
Segundo ele, o frio é melhor para a cultura produzir bem, desde que não haja geada e chuvas intensas, principalmente na época da colheita. “Na fase inicial pode até chover para o desenvolvimento da planta, mas depois que o grão já estiver maduro, a umidade seria muito prejudicial, porque ela afeta a qualidade do grão e, consequentemente, haverá a redução no preço”, comenta Daniani.
Não só o trigo está suscetível às intempéries climáticas, a produção de aveia, cevada e canola também podem oscilar no Sul do País em relação ao último ciclo, influenciada, também, pelo fenômeno El Niño, que costuma causar chuva acima da média.
Os prognósticos para os próximos meses indicam precipitações volumosas. Além disso, a umidade trazida pelo El Niño tem efeito nas temperaturas, que tendem a ser mais elevadas para o período, já que as massas de ar frio têm duração menor com a predominância do fenômeno climático.