Clarissa Melo Cogo
Engenheira agrônoma, mestre em Agronomia, mestrando em Ambiente e Sustentabilidade (UERGS) e doutora em Ciências – Universidade Federal de Pelotas(UFPel)
clarissa-cogo@uergs.edu.br
Frederico Vianna Kelber
Engenheiro agrônomo, MBA em Gestão Comercial, mestrando em Ambiente e Sustentabilidade (UERGS) e produtor de tomate orgânico
frederico-kelber@uergs.edu.br
A Lei 10.831, de 23 de dezembro de 2003, é o marco legal que rege a produção orgânica no Brasil, regulamentada pelo Decreto nº 6.323 de 27 de dezembro de 2007, pelo MAPA (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento).
Portanto, para a produção de tomate ser considerada orgânica, deve seguir esta normativa e estar certificada de acordo. Contudo, muitas são as dúvidas sobre este processo, desde produção de mudas até colheita.
Os produtores orgânicos devem atender a legislação e normas específicas, com fiscalização e monitoramento, sendo importante, tanto para a proteção dos consumidores na qualidade dos produtos quanto para o produtor orgânico, pois o diferencia dos demais produtores convencionais.
Produção de mudas
A obtenção de mudas de alta qualidade é fator determinante no sucesso da produção de tomate orgânico e a correta escolha do material genético é decisiva para o sucesso do cultivo.
As sementes são divididas em dois grupos: híbridos e variedades. Os híbridos são mais produtivos e encontrados com mais facilidade, o que favorece a escolha pelo produtor, já que o lançamento de variedades não é foco de empresas de melhoramento. Assim, restam poucas e antigas variedades de polinização aberta.
Escolha de substrato
Hoje existem diversas empresas no mercado que fornecem substrato pronto. A elaboração de substrato na propriedade requer quesitos, como manter as características desejadas, tais como leveza, alta porosidade, boa adesão, que seja nutricionalmente adequado, e, é claro, ter disponibilidade.
Semeadura
A qualidade das sementes é característica essencial para o sucesso, colocando-se uma por recipiente, as quais devem ser cobertas por substrato. Na produção de mudas de tomate, o número de células por bandeja é de 128 e de 450.
Os recipientes onde são produzidas as mudas são bandejas de isopor ou plásticas, e devem ser irrigadas, para uma melhor qualidade. Em bandejas, há vantagens como: ótima germinação, manejo facilitado, uniformidade de mudas e economia de água.
Caso a muda seja adquirida fora da propriedade, recomenda-se optar por produtores especializados e idôneos, a fim de assegurar sua alta qualidade, mas ainda são escassos. Admitem-se mudas externas apenas se oriundas de viveiros orgânicos certificados.
O mais indicado é que cada produtor faça seu próprio teste, utilizando substrato e composto mais comercializados na região.
Transplantio
O transplantio é feito quando as mudas possuírem de quatro a cinco folhas e altura de 10 a 15 cm, com diminuição de irrigação. Fazer em horário com menor transpiração, para correta absorção de água e nutrientes.
Manejo de plantas
O correto manejo da produção de tomate orgânico é uma tarefa difícil e que precisa ser planejado, para ter êxito. Inicia na época adequada do transplante, evitando altas e baixas temperaturas, com adequado espaçamento, tutoramento das plantas e desbrota, com intervalos máximos de três dias e desfolha.
A poda é fundamental no tomateiro, sendo realizada a primeira quando a planta estiver com 0,50 m de altura. Retiram-se as folhas velhas e mantém-se, em média, apenas um par de folhas adultas por cacho floral.
Outra tarefa importante do manejo é a rotação de culturas e plantas de coberturas, a fim de reduzir a incidência e severidade de pragas e de doenças que acometem o tomateiro.
Adubação
O tomate orgânico possui alta exigência nutricional devido ao seu rápido crescimento e produção de frutos, por isso, requer manejo intenso de adubação. Portanto, a escolha do local de plantio até a manutenção da fertilidade devem estar alinhados, para atingir uma boa produção.
Os adubos orgânicos têm baixa solubilidade, por esta razão, o local de plantio deve estar corrigido anteriormente ao transplantio, para que os nutrientes estejam prontamente disponíveis à exigência nutricional do tomateiro.
O plantio do tomateiro pode ser em sistema de plantio direto, baseado na mobilização mínima do solo, permitindo que os fertilizantes sejam incorporados pelo sulco de plantio das mudas ou aplicados sobre a superfície, ou em manejo convencional do preparo do solo, ou seja, na lavração.
No entanto, desta maneira há desvantagens, como solo descoberto, exposição à erosão, maior perda de água, diminuição de matéria orgânica, entre outras.
Nutrição e calagem
A correção do solo para produção orgânica de tomates deve ser realizada sempre com base na análise de solo, no mínimo a cada dois anos e, se possível, anualmente, para cada talhão/abrigo de cultivo.
Diversas fontes de adubos são permitidas na agricultura orgânica, tais como: composto orgânico, vermicomposto, bokashi, adubação verde, pó-de-rocha, torta-de-mamona, cinzas, cama de aviário, esterco bovino curtido, farinha de osso, vinhaça e calcário.
Recomenda-se o manejo diversificado de fertilizantes orgânicos para enriquecer a matéria orgânica do solo e as populações de microrganismos eficientes do solo, uma vez que contribuem para a mineralização e a solubilização dos adubos orgânicos.
Controle de pragas
As pragas do tomateiro mais frequentes são agrupadas em insetos transmissores de patógenos, em desfolhadores e broqueadores de frutos. Os insetos sugadores, como mosca-branca, pulgões e tripes transmitem viroses de difícil controle.
Vaquinha, gorgulhos e mosca-minadora atacam as folhas e reduzem a produtividade. Já a lagarta broca-grande-do-fruto causa danos aos frutos do tomateiro. A traça-do-tomateiro ataca folhas, ramos, brotações e frutos.
Devido à não utilização de inseticidas convencionais, o manejo de insetos-pragas é baseado no esforço preventivo, relacionado com a manutenção da estabilidade do agroecossistema.
Utilizam-se plantas aromáticas atrativas de insetos-predadores, como as joaninhas, besouros, tesourinhas, ácaros, percevejos e vespas que se alimentem de insetos-pragas. Aplica-se o controle biológico de pragas disponíveis no mercado: Bacillus thuringiensis, Beauveria bassiana, Metarhizium anisopliae, Cotesia flavipes e Baculovírus.
Controle de doenças
As principais doenças que acometem o tomateiro são: manchas foliares, requeima, murchas e nematoides. A prevenção é a melhor prática de controle de doenças com uso de sementes e mudas sadias, higienização dos rodados e ferramentas de poda, emprego de variedades resistentes, uso de microrganismos eficientes de solo, etc.
De forma curativa, empregam-se: controle biológico, controle mecânico e controle químico (calda bordalesa).
Controle de plantas daninhas
Deve ser feito de forma integrada e com medidas preventivas, tais como: escolha da sementes de empresa idônea, uso de substrato livre de contaminação, locais sem histórico de problemas com instalação.
Como métodos de controle, podemos citar: eliminação manual de planta invasora, eliminação mecânica (sendo esta mais difícil), solarização do solo, uso de coberturas plásticas nos canteiros, adubação verde, entre outros.
Colheita
Por ser um produto altamente perecível, influencia diretamente na comercialização. É feita manualmente e inicia 60 a 70 dias após o transplante das mudas, sendo realizada duas a três vezes na semana.
O período total de colheita vai depender da quantidade de cachos a serem colhidos. A escolha do estádio de maturação para colheita depende das preferências regionais, dos locais de comercialização e emprego culinário, podendo ser classificado o tomate de coloração vermelha em cinco subgrupos.
Ressaltamos que é difícil atender todas as condições e é importante consultar um profissional habilitado para uma consultoria adequada para cada caso e condição do produtor.