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Produtores rurais precisam travar custos

Crédito Shutterstock
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O desconhecimento dos reais custos da produção de soja na safra 2016/17 foi um dos pontos constatados durante a segunda semana do Circuito Tecnológico Etapa Soja. A rodada é realizada pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) em parceria com o Sistema Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).

No roteiro, os grupos realizam questionários para entender as expectativas dos produtores quanto à safra. “Percebemos um início de semeadura mais precoce em relação à safra passada. No Norte, por exemplo, a abertura de semeadura ocorreu por volta de 20 de setembro, favorecida pela ocorrência de chuvas mais cedo. Por outro lado, nos espantou o desconhecimento dos reais custos de produção pela maior parte dos produtores. São poucos que demonstram ter um bom controle de custos, conseguindo afirmar com segurança quanto é o seu real custo de produção“, avalia o pesquisador da Embrapa, Osmar Conde.

Além disso, de acordo com Conde, pode ser constatado menor percentual de venda antecipada de soja em relação à safra passada. “Isso é atribuído à redução do preço ofertado no momento“, completa o pesquisador.

Devido a esse desconhecimento, a Aprosoja alerta para a necessidade de “travar o custo“. “Os produtores devem começar a negociar a soja para cobrir o custo da produção. É importante que eles busquem, para tal, gerenciar de forma mais organizada seu negócio. A Aprosoja fornece de forma gratuita, por exemplo, o Projeto Referência“, explica o diretor técnico da Aprosoja, Nery Ribas.

O Referência foi desenvolvido pela Aprosoja em 2007 e é uma plataforma na qual o produtor insere dados da produção agrícola e possibilita criar uma rede de difusão de informações gerenciais a partir da análise de indicadores de gestão de propriedades de associados à Aprosoja. “Além de ter o controle de suas próprias atividades, o projeto possibilita que o produtor faça um comparativo com produtores da região ou do Estado“, diz Ribas.

Colocando em prática

Emerson Zancanaro, vice-presidente da Aprosoja Mato Grosso, também éprodutor rural em Nova Mutum (MT). Ele conta que, ao fazer a compra dos insumos para a próxima safra, ele ainda não vendeu a produção atual. Por isso, opta pela modalidade de ‘venda futura’, para que seu custo dele não fique oscilando no mercado, seja de soja, milho, ou em função do próprio dólar.

“Os produtores estão em plena compra de insumos para a safra de soja 2017/18, que começou em outubro e é concluída em maio. Em 30 de abril é o vencimento das compras de fertilizantes e sementes, e em 30 de agosto e 30 de setembro vencem os pagamentos dos defensivos agrícolas e de micronutrientes“, relataEmerson.

Segundo ele, quando chega a colheita, por volta do mês de março e abril, já iniciam as vendas futuras da safra seguinte. “Travar os custos é: comprar, e quando tiver a somatória dos custos, partir para o mercado para se proteger, vendendo a produção mais cara do que gastou para produzir.Digamos que o custo por hectare dos insumos tenha sido de R$ 1.200. Sabendo disso, o produtor deve esperar o melhor momento do mercado de soja futura para se proteger da oscilação do mercado. Se a soja subir muito, não haverá problema para o produtor, e se cair muito, ele não terá prejuízo“, esclarece o especialista.

O termo travar custos nada mais é do que ter o custo definido, de acordo com Emerson. “A safra de soja 2016/17 tem o custo médio de R$ 3.200 por hectare no Mato Grosso. Assim, calculando o preço futuro da soja de R$ 66 a saca, o custo total ficará em 50 sacas por hectare.Dividindo os R$ 3.200 por R$ 66, que é o preço futuro, chega-se a 48,5 sacas por hectare de travamento. Quer dizer que se eu vender a R$ 66, produzir 50, 52 ou 60 sacas por hectare já é lucro“, calcula.

Opções

Para a compra de insumos, o produtor tem algumas alternativas. “Estando capitalizado, a melhor opção é a compra à vista.Uma parcela dos produtores costuma comprar parte dos insumos à vista e outra parte ele capta recursos, que pode ser em banco, com o custeio agrícola, ou através de troca ou barter,que é quando ele compra o insumo e paga com grãos.O custo de produção variável é que não tem como ser travado, porque o produtor não saberá exatamente o que ele gastou de combustível, por exemplo. Mas o custo fixo tem que ser travado“, recomenda Emerson, acrescentando que o travamento tem que ser feito na mesma moeda de compra (dólar ou real).

No Mato Grosso, a média de custo está em 28 sacas por hectare, e naquela região o produtor ainda está caminhando apara a tecnificação do travamento dos custos, fazendo uso de ferramentas de controle, saindo das anotações em agenda e calculadora e partindo para controles eletrônicos, como aplicativos e programas mais completos, que reduzem ou eliminam margens de erros.

Auxílio ao produtor

O Referência, desenvolvido pela Aprosoja, auxilia o produtor no travamento dos custos. “Neste projeto se faz um levantamento e um diagnóstico de como está a lavoura como um todo. Os indicadores impactam diretamente na gestão da propriedade. Com o abastecimento de dados nesse projeto, o produtor consegue ter seu custo de produção, o que auxiliará na estratégia de travar o custo e poder calcular a margem de lucro em cima desta informação. Qualquer produtor que esteja associado à Aprosoja MT pode aderirao projeto“, relata Emerson Zancanaro.

O Projeto Referência tem dois pontos fundamentais, que são abastecer o produtor de informações e coletar informações sobre o nível de qualidade da gestão da propriedade. A partir desse diagnóstico, o projeto pode orientar sobre as melhorias no contexto total da produção, o que pode acontecer a curto ou longo prazos. “O produtor, inclusive, terá um histórico, a partir do Projeto Referência, dos seus custos, dos seus preços de venda, com um mapeamento completo da atividade dele.A Aprosoja ainda copila todos os dados e devolve aos produtores com uma análise para que eles fiquem mais bem preparados para a tomada de decisões, as quais se tornam muito mais estratégicas e fáceis“, conclui Emerson.

Essa matéria você encontra na edição de janeiro 2017 da revista Campo & Negócios Grãos. Adquira já a sua.

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