A tecnologia de aplicação, seja ela de inseticidas ou de fungicidas, deve atingir o alvo. Portanto, para cada tipo de alvo há uma estratégia de aplicação – isso porque há doenças que preferem a parte de baixo da planta e outras que estão mais localizadas no terço médio ou no terço superior. Por isso, explica o professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), João Paulo Rodrigues da Cunha, a pulverização deve ser dirigida principalmente para a região em que a praga se encontra, embora seja de conhecimento geral a dificuldade de se chegar à parte inferior das folhas.
Segundo ele, o produto só alcançará o interior das plantas se for utilizada a técnica certa, e dependerá também da cultivar e do arranjo espacial das plantas. “O produtor precisa ainda ter conhecimento do modo de ação do produto. No caso de fungicida, é preciso saber se ele é sistêmico ou se é de contato. Se ele for de contato, significa que não transloca na planta e por isso é preciso fazer de fato com que o produto chegue ao alvo“, esclarece.
Por outro lado, se o produto for sistêmico, ele translocará na planta, alguns menos outros mais, alguns de baixo para cima e outros de cima para baixo, o que ajuda em casos na estratégia para atingir o alvo. “Uma vez que o produtor sabe as características do seu produto, ele já sabe da importância da tecnologia de aplicação“, destaca o professor.
O segundo ponto ressaltado por ele é que na instalação da cultura o produtor se atente à seleção da população de plantas e espaçamento entre as linhas, ou seja, quanto maior o número de plantas por hectare, mais difícil será atingir o baixeiro. Quanto mais a cultura fechar, mais difícil será chegar ao seu interior, porque as folhas de cima funcionam como uma barreira à penetração da calda na parte inferior.
Assim, é importante evitar espaçamentos muito reduzidos entrelinhas, o que também dificulta a penetração do produto.
O próximo passo
ConcluÃdas as etapas anteriores, é importante associar a tecnologia de aplicação, o que está ligado ao volume de aplicação e à escolha da ponta de pulverização, a qual deve oferecer uma facilidade de pulverização maior, com tamanho de gota adequado aliado também ao volume de calda que permita a chegada do produto no baixeiro.
“De forma geral, sabemos que gotas grossas têm mais dificuldades de cobrir o alvo. No entanto, elas têm como vantagem o menor risco de deriva.Para a aplicação adequada, deve-se levar em consideração a necessidade de atingir o alvo no baixeiro e a questão de segurança ambiental da aplicação. Ou seja, queremos um tamanho de gota que não vá sofrer deriva e que também proporcione uma cobertura adequada no baixeiro“, assinala.
O bico certo
Existem muitos modelos de bicos de aplicação disponíveis no mercado o que, por um lado, ajuda o agricultor, mas por outro lado dificulta a escolha. “É mais fácil comprar um avião do que escolher uma ponta de pulverização devido a tantas possibilidades existentes“, brinca João Paulo Rodrigues.
“E muitas vezes o produtor quer uma ponta de pulverização que sirva para tudo, o que não é possível. O produtor precisa de, no mÃnimo, um tipo de ponta para aplicação de herbicida e outra para aplicação de fungicida e herbicida. É importante lembrar que não existe bico de pulverização milagroso. Existe aquele que é mais adequado para determinada situação. Em caso de ventos, por exemplo, é preciso trabalhar com gotas de tamanho médio a grande“, recomenda.
Se o objetivo for reduzir deriva, o ideal são gotas mais grossas, mas se o objetivo for a melhor penetração, deve-se trabalhar com gotas médias a finas. Por isso, o professor ressalta a importância de entender que não será possível conseguir tudo com uma única ponta de pulverização.
Erros fatais
Ao errar na aplicação, o que tende a acontecer é o produtor não ter o controle esperado. “E com isso, o que temos observado no campo é o aumento da frequência de aplicação. Ou seja, um produto que era pra ter um efeito residual de 20 a 30 dias, passa a ser aplicado a cada 10 ou 15 dias por não ter atingido o alvo da forma adequada, elevando o custo de produção.Observamos, inclusive, o aumento do número de produtos aplicados. Antes se aplicava um fungicida relacionado a determinado fungo, mas agora aplicam-se dois ou três, que muitas vezes não estão relacionados a determinado fungo, para corrigir problemas que não estão relacionados ao produto, mas à forma que ele tem sido aplicado“, avalia João Paulo Rodrigues.
Ainda segundo ele, sempre que o alvo estiver posicionado no terço médio ou no terço inferior, é preciso se preocupar. Como exemplo, há a ferrugem asiática da soja e algumas doenças de final de ciclo que ficam mais localizadas no terço médio e inferior da soja, e nesse caso deve-se aplicar o produto pensando sempre em atingir o baixeiro da cultura.
“No início da cultura esse problema não é tão grande porque a cultura ainda não fechou, e nesse caso atingir o baixeiro é relativamente simples.O problema começa quando a cultura começa a crescer e fecha as ruas, e então as folhas de cima impedem a chegada das gotas do produto nas folhas inferiores. Pensando nesse ano, que não teremos um volume de chuva elevado, o crescimento das plantas será dentro do normal, ou seja, em janeiro começa a ocorrência de doenças, com o fechamento das culturas“, alerta o professor.