Julia França Guido
Graduanda em Engenharia Agronômica – Unesp – Campus de Registro/GEBAN
julia.guido@unesp.br
Leandro José Grava de Godoy
Doutor e professor – Unesp – campus de Registro/GEBAN
leandro.godoy@unesp.br
O mulching é uma cobertura morta adicionada ao solo, podendo ser feita com palhada, restos vegetais ou materiais sintéticos, como o plástico.
O objetivo do uso do mulching é reduzir as perdas de água por evaporação e manter a umidade do solo; aumentar a temperatura do solo no inverno e diminuí-la no verão; reduzir a erosão do solo e o escoamento superficial das águas; reduzir a compactação do solo; favorecer a diversidade funcional da comunidade microbiana do solo; reduzir as incidências solares e o aparecimento de plantas invasoras, podendo até aumentar a fertilidade do solo.
Vantagens da matéria orgânica
Quando se trabalha com restos vegetais ou palhada, o ideal é que possua uma camada de 5,0 a 10 cm de espessura na superfície do solo, para que haja os retornos esperados. Em algumas pesquisas, se afirma serem necessárias de 3,0 a 4,0 toneladas por hectare de palhada na superfície, em especial em locais com incidência massiva de plantas invasoras.
Para o uso do mulching orgânico, deve-se atentar para materiais com relação carbono/nitrogênio muito alto (>30), que podem favorecer a imobilização do N do solo.
Esses benefícios se aplicam também à bananicultura, uma vez que as mesmas produzem uma densa massa verde em decorrência de folhas retiradas ou plantas velhas cortadas, em reformas de bananais por exemplo.
Esses restos vegetais são deixados na propriedade e podem ser cortados em partes menores, acelerando o processo de decomposição, além de distribuir os restos com mais facilidade.
Esta é uma ótima opção para produções em que a disponibilidade de água é diminuta, pois com a presença de palhada, a água fica retida no solo por mais tempo, evitando a evapotranspiração, além de fornecer nutrientes contidos nessa matéria orgânica para o bananal instalado, principalmente o potássio.
Pesquisas
Existem diversos estudos com o objetivo de evidenciar o melhor momento de se instalar o mulching no bananal.
No momento de instalação de um novo bananal ou nos primeiros momentos de vida deste, é o momento mais indicado, pois nessa fase ocorre o desenvolvimento vegetativo da cultura, e a planta necessita de água e nutrientes para se desenvolver, evitando assim possíveis estresses hídricos e contribuindo para um bananal sadio.
A manutenção do solo contribui para a difusão de nutrientes como o fósforo, potássio e zinco, tão importantes no cultivo da banana. O uso do mulching reduz as chances de morte de mudas, podendo ser reduzida ou até suspensa a irrigação nesses locais.
Viabilidade
Diante destas afirmações, pode-se entender que a presença do mulching nos primeiros dias de vida contribui para um melhor desenvolvimento e instalação da cultura e reduz perdas de mudas, por consequência, diminui prejuízos econômicos ao produtor.
A presença do mulching pode influenciar na incidência de doenças na bananeira, pois o material orgânico serve como barreira física, além de favorecer microrganismos benéficos no solo.
Pesquisas afirmam que os restos de casca de café podem reduzir a incidência de sigatoka-negra (causada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis) e o mal-do-panamá (causada pelo fungo Fusarium oxysporum f. sp. cubense).
As cascas do café contêm compostos bioativos, incluindo ácidos orgânicos e polifenóis, que possuem atividade antifúngica e antimicrobiana. Em relação à broca-do-rizoma, (Cosmopolites sordidus) o uso do mulching, com restos da própria cultura, não foi eficiente na redução da incidência da doença, contudo, proporcionou benefícios quanto à manutenção da umidade no solo e controle de plantas daninhas.
Produtividade
Em plantações de banana-prata, a presença do mulching com casca de arroz, casca de café ou palha de milho aumentou o peso médio dos cachos e o número de frutos por cacho, em relação ao solo nu.
Em banana nanica, os resultados mostraram que o mulching com palha de cana-de-açúcar aumentou a produtividade em cerca de 30% em relação ao solo nu.
Existe uma diferença entre as fontes de matéria orgânica, mas nota-se que, ao comparar com o solo nu, os resultados com mulching foram melhores, inclusive mostrou-se influenciar no teor de sólidos solúveis e teor de amido.
O mulching orgânico pode reduzir até 4°C no período mais quente do dia, reduzindo estresses devido à exposição das raízes a altas temperaturas.
Já o mulching sintético pode aumentar as taxas fotossintéticas e o teor de clorofila das folhas da bananeira no primeiro ciclo, devido à manutenção da umidade do solo, o que favorece os estômatos ficarem abertos, resultando em maiores produtividades.
O mulching sintético também mostrou reduzir até 70% a população de nematoides, em comparação ao solo nu. Diferente do mulching orgânico, este independe da disponibilidade de restos orgânicos próximos do local de cultivo. Além disso, o mulching sintético pode ser facilmente adquirido no mercado.
O outro lado
As desvantagens do uso do mulching orgânico incluem custos e mão de obra para aplicação, eficácia limitada no controle de ervas daninhas perenes, atraso no aquecimento do solo no inverno, e o potencial de transportar sementes de ervas daninhas e abrigar pragas.
O mulching sintético é produzido, geralmente, com polímeros plásticos, com coloração preta ou dupla (branca por fora, preta por dentro), largura variável de 0,4 m a 1,8 m e de 500 a 1.000 metros e espessuras de 20 a 100 microns (100 microns equivalem a 0,1 mm).
Concluindo, o mulching pode ser uma técnica interessante a ser utilizada na cultura da banana, principalmente em áreas com menor disponibilidade de chuvas e solos menos férteis.