Leandro Luiz Marcuzzo
leandro.marcuzzo@ifc.edu.br
Thomas Testoni
Pesquisadores – Instituto Federal Catarinense – IFC/Campus Rio do Sul
A ocorrência de doenças é um fator limitante para a produção da cebola (Allium cepa L.) no Brasil. Entre as doenças, a queima-das-pontas das folhas, causada por Botrytis squamosa Walker, tem sido considerada uma das mais destrutivas na fase de muda da cultura.
O uso de diferentes doses de nitrogênio (N) pode ser uma das formas de manejo dessa doença, porém, é necessária a avaliação do comportamento temporal da doença entre eles.
Entre as formas de caracterizar o desenvolvimento da doença, a curva de progresso temporal é a melhor representação de uma epidemia. A interpretação do formato dessas curvas e seus componentes, como a taxa e a severidade final, são fundamentais para se efetuar o manejo de epidemias.
Como não se dispõe de informação sobre o assunto, o objetivo deste trabalho foi caracterizar o progresso temporal da queima-das-pontas das folhas da cebola em função de diferentes doses de N.
A pesquisa
O trabalho foi conduzido no Instituto Federal Catarinense – IFC/Campus Rio do Sul, no município de Rio do Sul (SC). Três gramas de sementes de cebola cultivar Empasc 352/Bola Precoce foram semeadas a campo em quatro repetições constituídas de uma área de 1,0 x 1,0 m, totalizando no mínimo 600 plantas por repetição. Os tratos culturais seguiram as normas da cultura.
A adubação de fósforo e potássio seguiu o recomendado para a cultura, conforme a análise de solo e a adubação nitrogenada foi baseada na dose recomendada, com a faixa de matéria orgânica no solo de 2,5 – 5,0%, que corresponde a 100 Kg.N-1 por hectare, dividido em 1/2 na base e 1/2 aos 30 dias após semeadura.
O experimento constituiu-se de cinco tratamentos, contendo 0; 0,5; 1; 1,5; e 2 vezes a dose recomendada e foi utilizada a ureia (45%) como fonte de nitrogênio aplicado sobre a superfície do solo e irrigada em seguida, para dissolução dos grânulos e evitar perdas por volatilização.
Para haver inóculo do patógeno na área, foram depositados cinco escleródios do patógeno. A partir dos 15 dias da semeadura plantio foi avaliada semanalmente a severidade da doença em cada folha de 10 plantas demarcadas aleatoriamente em cada repetição de cada tratamento através da porcentagem visual de cada folha infectada na planta.
Ajustes
Os critérios estabelecidos para comparação dos modelos, em função da qualidade do ajustamento dos dados, foram:
a) erro padrão da estimativa;
b) estabilidade dos parâmetros;
c) erro padrão dos resíduos;
d) visualização da distribuição dos resíduos ao longo do tempo e) R2.
O modelo de Gompertz expresso por y = ymax *(exp(-ln(y0/ymax) * exp(-r * x))), onde y: severidade estimada final (% de severidade/100); ymax: severidade máxima de doença/100; ln(y0/ymax) refere-se à função de proporção da doença na primeira observação; r: taxa, x o tempo em semanas após o início da doença escolhido para representar o progresso da queima-das-pontas das folhas na avaliação das doses de N (Tabela 1), devido à doença ser considerada explosiva após o início dos primeiros sintomas.
Possivelmente, todos os dados se ajustaram em decorrência de ser a época de cultivo da cultura e a presença do patógeno no local.
Tabela 1. Parâmetros estimados pelo modelo de Gompertz ajustado aos dados da queima-das-pontas das folhas da cebola e taxa de infecção aparente (r) com diferentes inoculantes bacterianos. IFC/Campus Rio do Sul, 2021
A análise dos dados e as equações originadas pelo modelo de Gompertz (Tabela 1) resultaram em um coeficiente de determinação significativo, e a severidade observada correspondeu ao modelo, confirmada pela coerência entre os pontos estimados e do resíduo (erro) nas cinco semanas de avaliação (Figura 1).
A taxa de progresso da doença não apresentou diferenças entre os tratamentos (Tabela 1). Foi verificado que a dose 1 apresentou a maior taxa (0,88713) de progresso, enquanto a dose 1,5 a menor (0,81091).
Constatou-se que a dose 0,5 apresentou o pico máximo da severidade, com 8,28% e que a dose 2 teve o menor acúmulo da doença, com 3,84%, com uma diferença de apenas 53,6% na severidade máxima entre essas doses (Tabela 1).
Marcuzzo et al. (2019); Marcuzzo et al. (2020), Marcuzzo e Kotkoski (2020) e Boff et al. (1999) encontraram valores superiores de intensidade da doença, porém, a taxa na faixa de 0,8 foi encontrada no trabalho de Marcuzzo et al (2019).
Conclui-se que as doses de N não apresentaram diferença no comportamento de progresso temporal da queima-das-pontas das folhas da cebola causado por Botrytis squamosa.