Santa Catarina coleciona cinco títulos como Estado produtor do melhor mel do mundo. São 10 mil famílias com 300 mil colmeias que garantem produção de 6.000 toneladas do alimento por ano. Todo esse volume abastece o mercado interno e grande parte é exportada, especialmente para os Estados Unidos e para a Alemanha, o que também coloca o Estado como maior exportador de mel do Brasil.
Os números mostram força, mas também impõem responsabilidades do Estado para manter o selo de qualidade e ampliar a produção. É exatamente neste quesito que o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC), órgão vinculado à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), mantém sua atuação. Com média de 300 cursos gratuitos por mês que contemplam todos os municípios catarinenses e mais de 4.000 produtores e trabalhadores do campo, o Sistema Faesc/Senar-SC qualifica a base do agronegócio e fortalece todo o setor no Estado.
Entre essas capacitações, estão as que tratam especificamente da criação de abelhas e da produção de mel, divididas em dois setores: a apicultura que abrange abelhas com ferrão, as grandes produtoras do mel premiado no Estado; e a meliponicultura que contempla as abelhas nativas sem ferrão – responsáveis pela conservação dos ecossistemas e fundamentais para o meio ambiente – cuja produção de mel ainda é pequena em Santa Catarina.
Os cursos acontecem todos os meses em todas as regiões do Estado e repassam aos produtores as técnicas adequadas para criação das abelhas, manejo das colmeias para alta produtividade de mel e produção de pólen e de própolis.
“São treinamentos que preparam os nossos apicultores e meliponicultores a inovarem e ampliarem a produtividade, o que os mantêm competitivos no mercado ao mesmo tempo deixa o Estado ainda mais forte lá fora”, ressalta o superintendente do Senar/SC, Gilmar Antônio Zanluchi.
“O agronegócio catarinense se destaca em diversas frentes e a produção de mel nos deixa ainda mais orgulhosos dos nossos produtores. Temos aqui no Estado as duas maiores agroindústrias exportadoras de mel – Prodapys, de Araranguá e Minamel, de Içara – que levam o nome de Santa Catarina para o mundo. Qualificar a base desta cadeia é fortalecer toda engrenagem do setor”, complementa o presidente do Sistema Faesc/Senar-SC, José Zeferino Pedrozo.
APICULTURA
De acordo com o técnico agrícola, instrutor dos cursos de apicultura e meliponicultura pelo Sistema Faesc/Senar-SC, Luiz Celso Stefaniak, a região serrana é a que concentra maior criação de abelhas e produção de mel do Estado, devido à flora privilegiada com grande área de mata nativa.
Segundo ele, nesta época do ano, os cursos aos apicultores abordam o preparo das colmeias para o inverno para que não haja perda de produtividade no período em que não há flores. “Ensinamos como melhorar a alimentação das abelhas, a preparar as caixas e a aquecer as colmeias para que as crias não sintam frio”, explica Stefaniak.
Na primavera, os treinamentos destacam o fortalecimento dos enxames para fazer com que as abelhas se desloquem até as flores. “Quanto mais abelhas, melhor a colheita de mel”, sublinha o técnico.
Apesar da produção premiada, Stefaniak informa que 2019 e 2020 registraram queda no preço do quilo de mel no Estado. O alimento que já alcançou R$ 12 ao quilo, hoje está sendo comercializado pelo apicultor entre R$ 8 e R$ 10. “É oscilação de mercado. Mas o que Santa Catarina pode comemorar é que a atividade que antes era basicamente de subsistência, hoje é econômica e profissional”, destaca Stefaniak.
MELIPONICULTURA
A criação de abelhas nativas sem ferrão é ainda pequena em Santa Catarina, porém está em expansão no Estado, com presença em todas as regiões. No Brasil, são 350 espécies catalogadas das 420 do mundo todo, o que representa a maior variedade mundial em solo brasileiro. Esses pequenos insetos são fundamentais para o meio ambiente, porque respondem pela polinização de 85% das plantas do planeta e 75% dos alimentos consumidos no mundo; uma a cada três refeições depende das abelhas.
De acordo com Stefaniak, a comercialização de mel das abelhas nativas só foi liberada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), há dois anos, o que justifica a baixa produtividade no Estado. “A produção está engatinhando ainda, porque nem todos os meliponicultores sabem que podem colher e vender o mel. Porém, é uma atividade que está em crescimento em Santa Catarina e que precisa ser habilitada para inspeção municipal, estadual ou federal”, detalha o técnico.
O mel da abelha nativa é superior em qualidade nutricional e medicinal se relacionado ao das abelhas com ferrão. No entanto, enquanto uma espécie de abelha nativa (Jataí) produz entre 800 gramas a 1,2kg de mel por ano, uma com ferrão (Apis) pode chegar até 80kg por colmeia anualmente. “As abelhas com ferrão são maiores e também têm população maior por caixa, entre 80 a 100 mil contra 2.000 insetos das nativas por enxame”, detalha.
Todos esses dados são abordados pelos cursos aos produtores, com destaque para a criação adequada por colmeia, divisão de enxames e alimentação. No início de março, Stefaniak ministrou capacitação sobre as abelhas nativas em São Bonifácio, no litoral, com produtores do entorno do Parque do Tabuleiro, em parceria com Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA), Prefeitura e Sindicato Rural do município. “Com o conhecimento adquirido sobre o manejo e cuidados com as abelhas nativas, esses produtores farão o trabalho de evitar a extinção desses importantes insetos e, ao mesmo tempo, terão uma nova fonte de renda com a produção e comercialização do mel que já é um produto diferenciado”, destaca Stefaniak.