Sementes de soja com alto vigor: mais produtividade

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Emerson Trogello
Doutor em Fitotecnia e professor – IF Goiano campus Morrinhos
emerson.trogello@ifgoiano.edu.br
Giovana Cândida Marques
Engenheira agrônoma e mestranda em Entomologia – UNESP
giovana-candida.marques@unesp.br
Ana Caroline de Araújo
Engenheira agrônoma e Mestranda em proteção de plantas – IF Goiano campus Urutai
carolagro0@gmail.com

Foto: Shutterstock

Podemos citar vários fatores relacionados à obtenção de altas produtividades na soja, entre eles a escolha de material genético adaptado, época de plantio, manejo de solo, manejo fitossanitário, plantabilidade e escolha da semente. Qualquer escolha errônea acarreta em perda de produtividade e lucratividade.

Dentre estes fatores, sementes de alta qualidade proporcionam lavouras de soja bem estabelecidas, com plantas vigorosas e de alto desempenho. A semente de soja, para ter alta qualidade, deve possuir altas taxas de vigor, germinação e sanidade, assim como garantias de purezas genética e física.

A germinação se relaciona com a capacidade da semente germinar e formar uma plântula normal em condições ótimas. Já o vigor está relacionado com a capacidade das sementes de germinar e produzir uma plântula normal, mesmo em condições de ambiente não consideradas ideais.

Mais vigor

O vigor se relaciona com a perda da capacidade da semente em produzir uma plântula normal. Quanto maior o vigor da semente, menor sua deterioração e vice-versa. Sendo assim, em anos com condições adversas no ato da semeadura, o alto vigor pode representar o sucesso de seu investimento.

Mas, mesmo em anos com condições ideais, o maior vigor pode representar uma maior velocidade e uniformidade de emergência, formando plântulas mais vigorosas que podem representar um maior potencial de resistência às doenças e pragas iniciais de cultivo, bem como um maior potencial produtivo.

Mas, como construir um maior vigor de semente? É importante entendermos que todo processo de beneficiamento de sementes não melhora a qualidade da mesma, ele apenas mantém a qualidade obtida no processo a campo e uniformiza lotes de sementes.

A qualidade fisiológica das sementes é obtida assim, no manejo a campo. Dentre os fatores que afetam a qualidade fisiológica da semente de soja se destacam os danos por umidade no ato da colheita, percevejo durante a fase reprodutiva e danos mecânicos que acontecem nas máquinas colhedoras.

Pragas

O percevejo é o inseto mais importante a prejudicar a qualidade fisiológica da semente de soja. O ponto de maior vigor da semente é no ato de sua maturação fisiológica, ou seja, no estádio fenológico R8.

A partir daí, qualquer dia a mais armazenada a semente perde reservas pelo processo respiratório, e por consequência, também seu vigor. Cabe a nós otimizar o manejo a campo e buscar formas de armazenar esta semente o menor tempo possível e nas melhores condições possíveis.

Trajeto

É importante entender que semente de soja é produzida na grande maioria dos Estados de outubro a fevereiro, sendo a mesma colhida, beneficiada e armazenada até o início do ano safra, ficando assim oito meses, respirando, se deteriorando e buscando se manter viva.

Para chegar em outubro com o maior vigor possível, é extremamente importante que o processo de armazenamento seja muito bem feito, mantendo umidade e temperatura do ar a níveis adequados.

Em geral, a soma da umidade relativa do ar (UR%) mais temperatura (°C) deve ser de, no máximo, 55,5. Estas condições fazem com que a semente respire menos, gaste menos reserva e se mantenha mais vigorosa por um maior período de tempo.

Vazio sanitário

Buscando melhorar este processo, neste ano, por meio de solicitação da Agência de Defesa Agropecuária do Tocantins (ADAPEC) e autorização do MAPA, abriu-se uma janela de plantio de soja nas planícies tropicais do Tocantins, que foi de 20 de abril a 31 de maio, adentrando assim o período de vazio sanitário.

O cultivo de alguns materiais nesta janela, por meio de sistema de subirrigação, permite um maior controle fitossanitário, melhores condições no ato da colheita e um menor tempo de armazenamento da semente, uma vez que estes materiais estarão sendo colhidos até a data limite de 20 de setembro, muito próximo ao início da janela de plantio. Notem que este caso excepcional vai entregar certamente uma semente de maior vigor.

Ainda, a qualidade sanitária da semente de soja é primordial, pois caso não haja, prejudica a qualidade fisiológica da semente. A presença de diversos fungos como Phomopsis spp., Colletotrichum truncatum, fungos fitopatógenos como o Fusarium spp. e fungos de armazenamento como o Aspergillus spp impactam negativamente no vigor das sementes.

Além do mais, uma semente mal beneficiada pode impactar na disseminação de fitopatógenos, como o mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum), por esclerócios envolvidos às sementes e o nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines), por intermédio de torrões que possuem os cistos.

Pesquisas apontam o caminho

Resultados de pesquisas comprovam que parcelas de soja originadas de sementes de alta qualidade proporcionam produtividades superiores. Em lavouras comerciais de soja, sementes de alto vigor garantem o estabelecimento de plantas de alta performance agronômica, com ganhos de até 10% de produtividade.

Sementes com baixo vigor provocam reduções na velocidade e na emergência total, no tamanho inicial e na produção de matéria seca. Em anos de diminuição das margens liquidas, um acréscimo de 10% em produtividade, única e exclusivamente pela escolha do correto fornecedor de sementes, pode representar o sucesso da lavoura.

Desafios

Uma das dificuldades da cadeia, no entanto, é a falta de padronização dos processos de avaliação do vigor de sementes em toda as culturas, ficando, por vezes um teste muito subjetivo e sujeito a mudanças de laboratório para laboratório.

Os testes geralmente são focados em três grupos, um deles avaliando o crescimento e avaliação de plântulas, outro pelo estresse induzido à semente, e os testes bioquímicos. Os principais testes realizados são a primeira contagem de germinação, teste de tetrazólio, teste de envelhecimento acelerado, índice de velocidade de emergência e teste de frio.

Alguns destes testes expõem as sementes a uma condição adversa por determinados períodos de tempo, e posteriormente analisam a formação de plântulas normais ou anormais, quando expostas a condições ideais de geminação.

O tetrazólio, no entanto, é um teste bioquímico que permite diagnosticar as principais causas da perda de qualidade das sementes e inferir sobre o seu vigor. Ainda, testes que avaliam a velocidade de emergência das sementes podem ser realizados em condições de campo.

É difícil, no entanto, padronizar e, principalmente, estipular um mínimo de vigor a ser garantido pelos multiplicadores de semente, uma vez que os testes são subjetivos e podem variar.

Viabilidade

Em síntese, ao considerar que a maioria das lavouras de soja no Brasil é conduzida em sequeiro, e que há risco de acontecer déficit hídrico no estabelecimento da cultura, o sucesso na implantação da lavoura é potencializado pelo uso de sementes vigorosas.

Ao analisar todos os aspectos envolvidos na qualidade da semente e seus efeitos no estabelecimento e produtividade da cultura da soja, mostra-se que é imprescindível utilizar semente de alta qualidade e de origem conhecida.

Portanto, o uso de sementes de boa qualidade possibilita o acesso aos avanços genéticos, com garantias de qualidade e de adaptação às diversas regiões, como o desempenho superior no campo. É fundamental, assim, além de observar os valores de germinação, também se atentar ao vigor das sementes a serem adquiridas.

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