Alana Emanoele Pereira
ae.pereira@unesp.br
Camile Dutra Lourenço Gomes
camile.dutra@unesp.br
Engenheiras agrônomas e doutorandas em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP
Adriana Zanin Kronka
Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Fitopatologia e professora – UNESP
adriana.kronka@unesp.br
A soja (Glycine max (L.) Merrill) está entre os principais cultivos da agricultura brasileira e mundial, devido ao seu potencial produtivo, sua composição química e o seu valor nutricional. Os grãos podem ser destinados à alimentação humana e animal, com importante papel socioeconômico, além de constituírem matéria-prima indispensável com impulso em diversos complexos agroindustriais.
Segundo levantamento da Conab, na safra de 2021/22 a produção de soja foi estimada em 122,43 milhões de toneladas. Essas estimativas de produção apresentam índices menores do que a safra de 2020/21 em resposta à semeadura tardia na região sul e Mato Grosso do Sul, devido ao déficit hídrico ocorrido em novembro e dezembro de 2021.
Embora no início de 2022 tenham ocorrido boas precipitações em todo o País e ajudado na recuperação de algumas áreas plantadas na região sul e Mato Grosso do Sul prejudicadas pelo déficit hídrico, não foi o suficiente para reverter a queda no cenário da produtividade.
Em cenário oposto, o Piauí, que não foi atingido pelo déficit hídrico, apresentou rendimento estimado em 12,7% superior à safra anterior. Contudo, ainda houve uma queda de 11,4% na produção total da área semeada, considerando que esta queda só não foi maior devido ao aumento de 4,1% da área semeada.
Desafios
Entre os fatores que influenciam na produtividade da soja estão a interação entre a planta, ambiente de produção, manejo, clima e déficit hídrico durante o ciclo da cultura. Alguns fatores podem ser controlados pelo próprio produtor, como a densidade de semeadura, que é um fator determinante para o arranjo das plantas no ambiente e com influência direta no crescimento destas.
Já fatores como déficit hídrico não podem ser controlados pelo homem, podendo causar perdas significavas nas lavouras. Com isso, a escolha da semente na hora da semeadura é muito importante e deve ser feita com cautela pelos produtores.
A escolha da semente de soja
Durante a escolha das sementes, o produtor costuma se preocupar em comprar sementes com maior resistência a doenças, pragas e herbicidas. Porém, com a evolução genética, a qual ajudou o Brasil a se tornar o maior produtor de soja mundialmente, o agricultor possui diversas possibilidades, além das mencionadas anteriormente, como, por exemplo, enfrentar climas adversos que podem ocorrer durante a safra, sem que se tenha grandes perdas na produtividade.
Pureza genética, alta germinação, tamanho e uniformidade das sementes são pontos importantes a serem considerados pelos agricultores, uma vez que sementes certificadas tendem a apresentar estas características em maior intensidade.
É importante que o produtor observe se o material que ele pretende comprar tem registro, zoneamento para sua região e o posicionamento deste material de acordo com o local que será cultivado, ou seja, um posicionamento de ambiente para um plantio realizado mais cedo ou tardio, características do solo, como alta ou baixa fertilidade.
Quando o produtor opta pela semente certificada, com alto vigor e índice de germinação, com características corretas para o tipo de solo que será semeada, o sucesso com os resultados finais da colheita são muito maiores.
Com isso, é essencial que o produtor esteja aberto a novas tecnologias, uma vez que todos os anos os principais obtentores de tecnologias lançam novidades no mercado sementeiro, com produtos específicos para cada ambiente.
Opções no mercado e variedades mais adaptáveis
Existem inúmeras variedades disponíveis no mercado sementeiro com alto potencial produtivo, mas nem todas possuem estabilidade entre ambientes. Por exemplo, considerando o estresse hídrico, em anos desafiadores, com longos períodos de veranico, alguns materiais possuem maior capacidade de superar esse estresse do que outros.
Dessa forma, o agricultor deve considerar cultivares com bons tetos produtivos, porém, não deve se esquecer de levar em consideração a adaptabilidade à estiagem condicionada em certas sementes.
Algumas empresas estão desenvolvendo materiais que serão lançados daqui a alguns anos com adaptação às novas condições ambientais esperadas nos anos seguintes.
A TMG desenvolveu, para sementes de soja, a tecnologia HB4, que consiste em um gene presente no girassol que foi inserido na soja. A partir dessa tecnologia, é possível que a planta tenha maior tolerância a períodos de seca, com alto teto produtivo e resistência a herbicidas com o ativo glufosinato de amônia.
A cultivar HB4 possui todas as funções de fixação biológica de nitrogênio, fotossíntese e absorção de nutrientes, mesmo no período de déficit hídrico. Essas respostas são mecanismos de defesa da planta e não ocorrem nas variedades presentes no mercado atualmente. Assim, com essa tecnologia há uma manutenção de produtividade, a qual não aconteceria em períodos de seca e que não está presente em outros materiais transgênicos.
A tecnologia HB4 já tem comercialização liberada nos EUA, Argentina e Paraguai. A liberação da tecnologia no Brasil depende da sua aprovação na China, o maior comprador mundial desse grão, e na Europa, e é esperada para a safra de 2022/23.
Tendo essa etapa concluída, a soja HB4 poderá ser comprada de duas formas: HB4 e HB4RR. A HB4RR, além das características relacionadas à seca e à resistência ao glufosinato de amônia, também será resistente aos herbicidas à base de glifosato.
Embora o melhoramento genético tenha cada vez mais permitido maiores produtividades, os produtores devem realizar algumas práticas de manejo que minimizem condições adversas, como o plantio direto, o qual protege o solo contra impactos da chuva, vento e erosão por meio da palhada presente no solo, além da redução da temperatura do solo, uma vez que diminui a evaporação da água, favorecendo o solo no momento de seca.
Cultivares com maior resistência às pragas
No Brasil, a cultura da soja é atacada por dezenas de pragas todos os anos, o que ocasiona ao setor produtivo inúmeros prejuízos. Dessa forma, a Embrapa Soja desenvolveu algumas cultivares tolerantes a pragas.
Entretanto, cabe ressaltar que as características e indicações de uso de cada material devem estar de acordo com a situação da região e recomendação da cultivar. Assim, na escolha da cultivar, o agricultor deve se atentar para a época e densidade de semeadura, região de indicação, altitude e fertilidade do solo, ciclo e resistência de doenças.
A tecnologia Intacta RR2 PROTM apresenta tolerância ao glifosato e auxilia no controle de um grupo específico de lagartas-pragas, proporcionando redução no uso de defensivos agrícolas.
A tecnologia proporciona resistência às principais lagartas da soja, como lagarta da soja, falsa medideira, lagarta-das-maçãs e a broca-das-axilas. Ocorre um controle menos efetivo para a lagarta elasmo e Helicoverpa armigera, e não provoca morte das lagartas do complexo Spodoptera, como S. eridania, S. cosmiodes, S. frugiperda e S. albula. Com isso, o monitoramento nas lavouras com a tecnologia Intacta deve ser realizado durante todo o ciclo.
Custo-benefício de cultivares de soja
Quando o produtor opta por sementes com tecnologia avançada, consequentemente paga um preço mais alto por isso. Dessa forma, existem regiões que consomem sementes pela qualidade e aquelas que consomem pelo preço.
Quem escolhe o preço que está disposto a pagar é o produtor. Assim, é importante que o agricultor esteja sempre por dentro das tecnologias lançadas no mercado e da adaptabilidade das mesmas à sua área de plantio, para que o investimento feito inicialmente tenha retorno na colheita.
Uma pesquisa realizada informalmente no Rio Grande do Sul pela Embrapa demonstra que o preço das sementes de soja, com o valor da taxa da tecnologia incluída, varia de R$ 4,50/kg na tecnologia RR (resistência ao glifosato) a R$ 11,00/kg na tecnologia IPRO (resistência ao herbicida glifosato e a lagartas).
Ao adquirir sementes com tecnologia avançada, o custo torna-se maior, entretanto, a lucratividade final compensa o custo elevado. Dessa forma, o ponto-chave da escolha das sementes é a estimativa de produtividade e rentabilidade final.
Diante disso, sabe-se que as novas tecnologias facilitam o manejo da lavoura e tendem a aumentar o retorno financeiro do produtor. Assim, o sucesso das lavouras está relacionado à junção de diversos fatores mencionados anteriormente, para que os resultados esperados sejam alcançados pelos produtores.