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Silício no tomateiro: quais as vantagens?

Roberto Botelho F. Branco
Doutor em Agronomia e pesquisador – Instituto Agronômico (IAC/APTA)
roberto.branco@sp.gov.br

O silício (Si), com 28,2%, é segundo elemento mais abundante da crosta terrestre, estando atrás apenas do oxigênio, com 46,1% da composição da crosta terrestre. Embora não seja considerado elemento essencial às plantas superiores, é benéfico às plantas especialmente em condições de estresse ambiental, como déficit hídrico e pressão de fitopatógenos. O Si está presente em todos os solos cultivados do planeta. 

Composição

Nas plantas, o Si induz a produção de lignina, que é um material polimérico sintetizado na rota metabólica do fenilpropanoide que resulta na formação de esqueletos carbônicos que são precursores da lignina e vários compostos fenólicos.

A lignina compõe aproximadamente de 10 a 40% da biomassa seca das plantas e estão incorporadas na parede celular das plantas conferindo rigidez celular e resistência ao estresse ambiental.

Embora o tomate seja espécie não acumuladora de Si, diversos estudos relatam o benefício na defesa da planta a estresses ambientais, como seca e ataque de pragas e fitopatógenos, atuando como regulador do processo bioquímico do que propriamente como barreira física, como acontece em espécies de gramíneas que são acumuladoras de Si nas folhas.    

Ação na planta

O estresse hídrico em plantas leva à formação de ‘bolhas’ nos vasos condutores de água nos tecidos das plantas, resultando no decréscimo produtivo dos cultivos. A lignina alivia o estresse hídrico à medida que as paredes celulares são enrijecidas e reforçadas pela deposição de lignina.

Consequentemente, a lignina contribui para melhoria das condições hidráulicas das raízes das plantas em condições de estresse hídrico, revelado em estudos realizados com o tomateiro.

Assim, a função do Si em aliviar o estresse hídrico na planta do tomateiro está mais relacionada com a melhoria da condição hidráulica da raiz do que propriamente a redução da transpiração foliar, favorecendo assim o balanço de água na planta sob estresse hídrico.

No entanto, a presença do Si na melhoria da condição hídrica do tomateiro sob estresse hídrico não está relacionada com a concentração de Si no tecido radicular, e sim com o mecanismo de indução da síntese de lignina.

Entretanto, alguns estudos relatam o mecanismo regulatório do Si na fotossíntese das plantas sob estresse hídrico, induzindo a expressão de genes relacionados à fotossíntese regulando o processo fotoquímico e aumentando a concentração de clorofila.

Para o tomateiro

O tomateiro é bastante sensível ao ataque de patógenos de solo com bactérias, fungos e nematoides. Uma das principais patologias de solo é causada pela bactéria Rasltonia solancearum, que leva à murcha da planta seguida de morte, refletindo na queda significativa de produção.

O tratamento com Si é uma alternativa viável no manejo da doença, pois estimula o metabolismo fisiológico do tomateiro a combater a enfermidade causada pela bactéria. A resistência sistêmica adquirida do tomateiro à R. solanacearum mediada pelo Si envolve caminhos metabólicos que regulam a síntese de fito hormônios, como ácido abscísico (ABA), etileno, auxina, ácido jasmônico e ácido salicílico.

Tal condição alivia a planta dos efeitos adversos do déficit hídrico, estresse oxidativo e senescência causados pela infecção bacteriana, reduzindo os índices fitopatogênicos em torno de 46 a 72%.

Outro mecanismo de defesa da planta acionado pelo Si é a expressão gênica diferenciada. Por esse mecanismo, o Si regula a expressão de genes que irão reduzir a atividade metabólica e a virulência da bactéria. 

Outros fitopatógenos de solo, como Fusarium solani e Alternaria solani, que atacam o tomateiro, também têm seu controle comprovado pela aplicação de Si.    

Aliado forte

O Si também pode ser um grande aliado no estresse do tomateiro causado pela deficiência de cálcio (Ca). Aplicações foliares de Si (1 nM) em tomateiro exposto à baixa concentração de Ca aumentou o crescimento da planta, o diâmetro do caule e a produção de biomassa, além de melhorar as propriedades fotossintéticas das folhas, protegendo os pigmentos fotossintéticos, aumentando trocas gasosas, produção de ATP e atividade do Ciclo de Calvin para fixação do CO2, assim assegurando a atividade fotossintética do tomateiro em condições de baixa disponibilidade cálcio.

A aplicação via solo de Si também melhora significativamente a qualidade físico/química dos frutos, elevando os teores de sólidos solúveis, vitamina C, licopeno e a conservação pós-colheita dos frutos de tomate, por melhorar a firmeza dos frutos.    

Dicas valiosas

A recomendação para utilização de Si no cultivo do tomateiro pode ser por aplicação via foliar, mas principalmente via solo, onde o elemento terá efeito mais evidente na proteção da planta contra estresse hídrico e ataque de patógenos como a Ralstonia solanacearum.

No mercado, existem diversas fontes de Si, como silicatos de cálcio, potássio e sódio que podem ser ministradas tanto via foliar quanto via solo. Os ‘pós de rochas’, ou ‘remineralizadores’ do solo, são importante fontes de Si para os cultivos agrícolas.

Recomendam-se, também, aplicações parceladas do Si durante o ciclo do tomateiro. Via solo as aplicações devem ser realizadas antes do transplantio das mudas, no início do florescimento e durante a frutificação, por ocasião da frutificação do quinto cacho de frutos. Via foliar se recomendam aplicações quinzenais do Si.

Como os trabalhos científicos são relativamente recentes no cultivo do tomateiro, ainda existem diversas lacunas a serem preenchidas para melhor entendimento da fertilização com Si, como por exemplo, estudos de aplicação em diversos tipos de solo, e assim conseguir resultados agronômicos e econômicos satisfatórios para garantir a eficiência da aplicação do Si no cultivo do tomateiro.

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