Júlio Cesar Freitas Santos
Engenheiro agrônomo e pesquisador fitotecnista da Embrapa Café
A broca-do-café, Hypothenemushampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Scolytidae), é uma das pragas que causa danos e depreciação ao fruto do café, e consequentemente afeta a comercialização da produção, resultando em menor lucratividade para o cafeicultor.
O inseto se alimenta e se multiplica nos frutos verdes, maduros e secos, fazendo perfurações e galerias que influenciam na queda prematura dos frutos com a consequente redução na produção, baixa do rendimento devido à perda de peso do café beneficiado, perda da qualidade na classificação por tipo e apodrecimento de sementes em frutos broqueados.
Ataque
As infestações da broca podem ser influenciadas por diversos fatores, como espaçamento, altitude, clima, sombreamento, manejo e colheita, sendo ainda incrementadas por influência de lavouras próximas que apresentam infestação sem o devido controle.
Geralmente o ataque ocorre nos frutos secos da entressafra que ficaram na planta ou no chão, e nos frutos verdes chumbões em mais de 90%. A época de trânsito da broca se inicia aos 90 dias após a maior florada, quando ela ataca os frutos chumbões no estádio de frutos aquosos com média de 86% de umidade, perfurando os frutos sem haver colocação de ovos.
Manejo
Para evitar ataques mais severos dessa praga na cafeicultura, deve-se anualmente realizar o monitoramento mensal de sua infestação por talhão, fazendo o controle cultural por meio da colheita total com repasse e retirada dos frutos que ficaram na planta, além de varrição dos frutos que caÃram no chão e controle biológico por meio de inimigos naturais.
Caso seja necessário, realizar o controle químico nos talhõesonde o Ãndice de infestação da broca esteja na faixa de 03 a 5%, ou mais, de frutos perfurados.
Monitoramento
O monitoramento da ocorrência e infestação da broca-do-cafépor talhão individualizado é indispensável, pois evita a aplicação de produto químico sem necessidadeem toda a área de produção da propriedade, havendo economia de inseticidas e serviços, contribuindo para a diminuição dos custos de produção.
De forma racional, o cafeicultor pode realizar o monitoramento mensal da broca a cada ano, utilizando uma planilha para cada talhão, tendo início 90 dias após a maior florada, nos frutos verdes chumbões.
Deve-se percorrer o talhão em zigue-zague e colher ao acaso 100 frutos ao redor de cada planta escolhida, sendo 25 frutos em cada face da planta. O número de plantas a ser amostrado depende do tamanho do talhão, sendo que naqueles com até 1.000 plantas deve-se coletar frutos de no mÃnimo 30 plantas, de 1.000 a 3.000 plantas coletar frutos de cerca de 50 plantas, de 3.000 a 5.000 plantas coletar frutos de 75 plantas e acima de 5.000 plantas coletarfrutos de 1,5% do número total de plantas.
Os frutos coletados de cada talhão poderão ser misturados, formando uma única amostra. Em seguida, faz-se a separação dos frutos brocados e não brocados, para a determinação da porcentagem de infestação.
Controle biológico
O controle biológico pode ser realizado com a utilização da vespa-da-costa-do-marfim (Cephalonomiasp.), que é um importante inimigo natural da broca-do-café, embora existindo a necessidade de avançar mais em seu estudo em laboratório e no campo.
Outro tipo de controle seria pelo uso do fungo Beauveriabassiana, que também é um inimigo natural da broca-do-café, cujo indicador de sua ação seria o fechamento do furo feito pela broca em forma de um tufo branco. Nas lavouras onde ocorre esse fungo, recomenda-se não fazer aplicação de agroquímicos a não ser que a infestação da broca ultrapasse 5% de frutos broqueados sem infecção de B. bassiana.
Controle químico
O controle químico deve ser realizado quando a infestação atingir ≥ 03 a 5%, devendo-se inicialmente fazer as aplicações nas partes mais atacadas da lavoura, utilizando produtos do grupo das Diamidas AntranÃlicas, num intervalo de 30 a 45 dias.
Como o ataque não se distribui uniformemente, recomenda-se o controle apenas nos talhões em que a infestação da praga já tenha atingido 03 a 5%. Com isto, evitam-se gastos desnecessários com mão de obra e inseticida e seus impactos no ambiente.
Mesmo após o controle o monitoramento deve continuar, e quando a infestação alcançar o nível de controle, pulverizar novamente, respeitando o período de carência do inseticida.
Controle cultural
O controle cultural consiste na aplicação de diversas práticas que, de forma geral, possam colaborar para que não haja frutos remanescentes nos cafeeiros e no chão resultantes da queda antes, durante e depois da colheita, contribuindo para que haja uma diminuição da proliferação da população da broca-do-café nas próximas safras.