Jéssica Gorri
Mestre em Agronomia e doutora em Proteção de Plantas – UNESP
Thiago Alves Ferreira de Carvalho
Engenheiro agrônomo e mestre em Entomologia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
O morango foi a fruta que apresentou a maior aceleração de preços no primeiro semestre de 2022, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos seis primeiros meses do ano, o produto teve alta de 106,81%. Em 12 meses, o aumento foi de 75,03%.
Em junho, a fruta ficou 13,30% mais cara para o consumidor. No entanto, a tendência é de queda nos preços no segundo semestre, segundo a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (Ceagesp).
O pico da safra é alcançado nos meses de agosto e setembro. E para mostrar que a oferta vem crescendo, em maio, a Ceagesp recebeu 171 toneladas do produto, volume que passou para 270 toneladas em junho. Em setembro e em outubro fica mais estável (o volume recebido). E a partir de novembro começa a abaixar. Junho é o ponto de virada
O preço médio da caixa de 1,2 kg de morango no Ceagesp passou de R$ 15 em junho do ano passado para R$ 19 em junho de 2022. Está mais caro produzir o morango e estamos na entressafra, mas os preços vão diminuir até onde o mercado suporta.
A queridinha dos brasileiros
Mundialmente o morango é uma das frutas que mais agrada aos paladares, tanto por sua beleza morfológica quanto por seu sabor único. Popularmente conhecida como uma delicada fruta, na verdade trata-se de um pseudofruto rico em flavonoides que auxiliam na prevenção da maioria das doenças crônicas e degenerativas. Como bônus, há em sua suculenta polpa fonte de fibras, potássio, ferro e vitamina C.
O morangueiro pode ser cultivado em condições de clima e de solo variados, desmitificando que só em baixas temperaturas se produz morango de qualidade. Entretanto, altas temperaturas, longos períodos chuvosos e a incidência de doenças são fatores limitantes para o sucesso da cultura.
Dessa forma, é de extrema importância conhecer as variedades para saber a melhor época de plantio junto aos manejos e técnicas necessárias. Veja a seguir as principais variedades nacionais.
Variedades de dias curtos
- Oso Grande: variedade de origem americana com plantas vigorosas e produtivas e recomendação de plantio no final do verão (fevereiro e março), com colheitas no inverno e na primavera. É a cultivar mais plantada no Brasil.
- Camarosa: variedade mais plantada mundialmente e com boa adaptação climatológica. Possui frutos grandes e saborosos com coloração em vermelho intenso. O excesso de nitrogênio no solo pode gerar plantas vigorosas, mas com pouca floração. É a variedade com mais procura pelas agroindústrias devido à alta produtividade e ao teor de açúcares.
- Camino Real: variedade muito produtiva, resistente à antracnose, porém sensível a algumas doenças, como à pestalotiopis e ao oídio. É uma planta de porte menor quando comparada às outras variedades, mas com capacidade produtiva superior quando manejada adequadamente. Raramente apresenta frutos deformados e é sensível aos produtos à base de enxofre.
- Festival: variedade de origem americana. Planta de médio vigor, bastante resistente ao efeito das chuvas, preferindo um plantio mais tardio, no outono, com frutos uniformes, cor vermelha externa e internamente.
Variedades neutras (dias curtos e dias longos)
- Albion: variedade de origem na Universidade da Califórnia (UC), com excelente sabor, cor, tamanho e produtividade.
- San Andréas: variedade de origem na UC, com boa qualidade de frutos e resistente a algumas doenças. A planta é vigorosa, com frutos grandes e bom sabor.
- Monterrey: variedade de origem na UC, com excelente resistência a doenças, vigor e qualidade de frutos. Apresenta frutos mais longos, firmes e com sabor marcante, o que a diferencia de outras cultivares neutras. Apresenta-se um pouco mais tardia em relação às variedades Albion e San Andréas. Atualmente, só é possível adquiri-la importando do Chile ou da Argentina.
- Portola: variedade de origem na UC. É a mais produtiva das cultivares neutras e apresenta frutos medianos menos firmes que as variedades anteriores. As mudas podem ser adquiridas via importação.
- Aromas: variedade de origem na UC, com excelente produtividade, frutos medianos, sabor um pouco ácido, boa resistência a doenças, porém sensível ao ataque de ácaro-rajado.
- Cristal: variedade de origem espanhola, com boas características de produtividade e sanidade, frutos firmes, bom formato e tamanho. Pode ser importada do Chile.
Hora de plantar
Na implantação da cultura, devem ser levados em conta os níveis tecnológicos a serem adotados. Essas técnicas introduzidas na lavoura asseguram uma produção de qualidade, que muitas vezes está associada a contornar os maiores entraves do morangueiro:
1. Doenças fúngicas;
2. Podridões;
3. Insetos-praga;
4. Temperatura do solo e do ambiente externo inadequada;
5. Desequilíbrio nutricional.
Irrigação por gotejamento
O sistema por gotejamento é o mais utilizado em plantios de larga escala por contribuir para a economia de água, diminuição de doenças foliares e ser aproveitado também para aplicação de fertilizantes por meio dos gotejadores. Essa técnica é conhecida como fertirrigação. Veja as vantagens:
1. Economia de mão de obra;
2. Redução de pessoas e máquinas na área de cultivo;
3. Aplicação de nutrientes restrita na região de atividade das raízes;
4. Redução da incidência de patógenos e queima das folhas, já que as plantas são mantidas secas;
5. Utilização de biofertilizantes orgânicos usando húmus de minhoca.
Microtúneis
A utilização do plástico na cultura do morangueiro para a cobertura do canteiro de plantas cria um microclima diferenciado para cultivo. A proteção dos canteiros pode ser de várias maneiras, conforme mencionado anteriormente, no entanto, grande parte dos agricultores tem preferência pelos túneis baixos para a cultura do morangueiro, especialmente por causa do menor custo de implantação e da possibilidade de mudanças das áreas de cultivo.
Entre as vantagens que os túneis proporcionam em comparação com o cultivo sem proteção, podem ser citadas:
• Antecipação da colheita;
• Proteção contra os fenômenos climáticos, como geada, granizo, vento, chuva, insolação;
• Queda acentuada da temperatura durante a noite;
• Proteção do solo contra a lixiviação.
Como principais desvantagens, registram-se:
• Elevado custo do plástico;
• Aumento da mão de obra ocupada com o manejo constante dos túneis.
Evolução da hidroponia
Os plantios de morango na hidroponia comum são conduzidos em substrato com casca de arroz em bancadas de forma piramidal, utilizando cinco prateleiras. Todavia, observou-se que as plantas da parte inferior, que recebiam menos luminosidade, produziam bem menos.
O sistema foi adaptado de tal forma que hoje se utilizam bancadas com duas linhas de “slabs”, ou travesseiros, a uma altura aproximada de um metro do solo. Dessa forma, as plantas ficam todas no mesmo nível. Assim, elas recebem luz de forma uniforme, com melhor ventilação, facilitando o manejo e a colheita.
Vantagens desse novo sistema de bancadas:
• Na bancada o trabalhador fica de forma ereta;
• O sistema de bancadas facilita os tratos culturais, limpeza da planta e colheita;
• O sistema proporciona uma melhor ventilação na planta, diminuindo a temperatura e a incidência de doenças e pragas;
• Após a montagem desse tipo de estrutura, ela pode durar vários anos, tendo seu custo diluído.
Controle biológico
O ácaro-rajado e a broca-dos-frutos são os principais responsáveis por reduzir a qualidade nas diferentes regiões onde se cultiva o morango comercialmente e na agricultura familiar, demandando um manejo eficiente.
Devido ao reduzido número de inseticidas registrados para o controle de pragas na cultura do morangueiro, historicamente este fator tem levado à constatação de resíduos tóxicos de produtos não permitidos para a cultura.
Dessa forma, o uso de produtos biológicos com o emprego de ácaros predadores para o controle do ácaro-rajado tem contribuído para a produção de um morango de melhor qualidade e ausência de resíduos.
A adoção do controle biológico pode obter até 80% de eficiência de controle contra o ácaro-rajado, especialmente nos períodos seco e quente do ano. A liberação dos inimigos naturais na lavoura, se realizada no momento exato e na quantidade correta, garante altos índices de controle e contribui para a redução do número de pulverizações de produtos químicos.