Luíz Guilherme Malaquias da Silva
Cientista de Alimentos e doutorando em Ciência dos Alimentos (UFLA)
lg.malqs@gmail.com
Carlos Alexandre Rocha da Costa
PhD. em Ciência dos Alimentos (UFLA)
alexandre.vitae@gmail.com
Giovanni Aleixo Batista
Engenheiro de Alimentos e mestrando em Ciência dos Alimentos (UFLA)
giovannialeixob@gmail.com
As cebolas apresentam características que devem ser observadas para seleção das melhores variedades que proporcionam maior tempo de conservação na pós-colheita. Dentre essas, destaca-se a resistência do bulbo.
A espessura grossa da casca contribui para a proteção de fungos e bactérias e proporciona maior tolerância ao armazenamento e ao transporte, diminuindo as injúrias físicas, que servem de entradas para microrganismos e também causam perdas de qualidade para o vegetal.
A casca mais grossa também garante maior retenção de água. Outro fator importante é escolher variedades com folhas lisas, que não possuem cavidades que se tornam hospedeiras de tripes, principal praga da cebola no Brasil.
Um fator desejável é a escolha de cultivares de ciclos mais curtos, que são menos afetadas pelo ataque de tripes.
Qualidade da pele
A pele da cebola desempenha um papel essencial na conservação e comercialização, funcionando como uma barreira natural contra microrganismos e perda de umidade. Durante as etapas de colheita, transporte e armazenamento, é fundamental evitar danos, como rompimentos ou ferimentos na casca, pois essas lesões facilitam a contaminação e podem levar ao apodrecimento do bulbo, incluindo problemas como a “camisa d’água”. Além disso, comprometem a durabilidade do produto.
A integridade da casca influencia diretamente na aparência e aceitação comercial da cebola. Por isso, cuidados adequados nessas operações são indispensáveis para preservar a qualidade e garantir melhores condições de mercado.
Melhor conservação pós-colheita
A conservação pós-colheita da cebola está diretamente relacionada ao manejo adequado do plantio, especialmente às condições edafoclimáticas. Solos de textura média, com boa drenagem e teor adequado de matéria orgânica, são ideais para o desenvolvimento saudável dos bulbos e das raízes.
Solos argilosos de alta atividade, como os vertissolos, tendem a causar deformidades nos bulbos, enquanto os arenosos, como os neossolos quartzarênicos, apresentam baixa retenção de umidade e nutrientes, dificultando o crescimento.
Já solos mal drenados ou com salinidade excessiva devem ser evitados, a menos que sejam implementadas práticas corretivas, como sistemas de drenagem, para reduzir os riscos de encharcamento e doenças.
O preparo do solo é outro fator determinante, sendo necessária uma destorroagem uniforme e nivelamento adequado a 20 cm de profundidade para favorecer a germinação e o vigor das plântulas.
Os canteiros devem seguir as curvas de nível, evitando erosão e acúmulo de água que favoreçam fitopatógenos. Além disso, a escolha do sistema de plantio, seja transplantio de mudas ou semeadura direta, deve considerar a escala de produção e as condições locais, de modo a assegurar uniformidade dos bulbos e reduzir danos mecânicos.
Essas práticas são fundamentais para promover a durabilidade e qualidade dos bulbos na pós-colheita.
Armazenamento adequado impacta a durabilidade
O armazenamento adequado impacta diretamente a durabilidade e a qualidade das cebolas após a colheita, garantindo que elas possam ser conservadas por períodos compatíveis com as demandas de distribuição e mercado.
A temperatura e a umidade relativa são os fatores mais críticos nesse processo. Para cultivares com alto teor de matéria seca, alta pungência e boa dormência, além de devidamente curadas e colhidas no ponto ideal, é possível armazenar os bulbos em temperatura ambiente por até cinco meses, desde que a umidade relativa seja mantida entre 60 e 80%.
Umidades acima desse limite favorecem a brotação e o desenvolvimento de podridões, como as causadas por Aspergillus niger e Botrytis allii, enquanto umidades abaixo podem levar ao murchamento e perda de peso.
Para períodos mais extensos de armazenamento, o uso de refrigeração, com temperaturas entre 4,0 e 6°C e umidade relativa de 70 a 80%, é uma alternativa eficaz. No entanto, o uso de câmaras frias para o armazenamento de cebolas ainda não é amplamente adotado no Brasil, seja por questões de custo ou infraestrutura.
Além disso, a ventilação adequada é essencial para prevenir superaquecimento e acúmulo de gases, como o etileno, que podem estimular a germinação. A proteção contra a luz é igualmente importante, pois a exposição favorece a formação de pigmentos verdes nas camadas externas, prejudicando a aparência e a qualidade do produto.
A cura prévia, que seca as camadas externas dos bulbos, é indispensável para formar uma barreira contra microrganismos e evitar a deterioração. Quando todas essas condições são atendidas, a vida de prateleira das cebolas pode ser significativamente estendida, preservando sua textura, sabor, valor nutricional e reduzindo perdas durante o transporte e comercialização.
Inovações disponíveis
Para garantir uma conservação pós-colheita ideal para a cebola, os primeiros passos precisam acontecer ainda no campo. O ponto de maturidade da colheita é a chave da qualidade da cebola na pós-colheita, e deve acontecer quando estiver madura, de preferência em dias secos e ensolarados.
Depois de colhida, a folhagem precisa passar por um processo de cura para ficar seca, e então ser cortada do bulbo. A tecnologia aplicada após a colheita tem como objetivo prolongar a vida útil com qualidade comercial e reduzir as perdas durante toda a cadeia de pós-colheita.
Entretanto, a cebola apresenta uma taxa de respiração baixa e um período pós-colheita razoavelmente extenso em comparação a outros vegetais. Trata-se de um produto que se deteriora lentamente, podendo ser armazenado em boas condições por períodos consideráveis, se colhida em seu estado maduro.
Atenção
Em ambientes com temperatura e umidade relativa adequadas, o bulbo pode continuar seu crescimento mesmo após a colheita. Alguns procedimentos podem ser aplicados a fim de retardar tal problema.
Embora não tanto usado na cebola no Brasil, o uso da refrigeração é uma prática recomendada, com temperaturas de 4 a 6ºC e umidade relativa entre 70 a 80%. Assim, o sistema metabólico da cebola é consideravelmente retardado, evitando brotações indesejadas no bulbo.
Quando acondicionadas fora destas condições especiais, os espaços de armazenamento devem ser arejados, para diminuir o risco de contaminações da cebola.
Semente x resistência da cebola
A escolha da semente tem uma relação direta com a resistência da cebola a danos durante o transporte e armazenamento, influenciando características fundamentais dos bulbos e impactando toda a cadeia produtiva.
Cultivares com maior teor de matéria seca produzem cebolas mais firmes, menos suscetíveis a danos mecânicos e com menor perda de água ao longo do armazenamento, o que melhora a conservação e a qualidade do produto.
Variedades com maior período de dormência natural têm menor propensão à brotação, tornando-se mais adequadas para armazenamento prolongado. Além disso, cultivares com características específicas, como alto teor de matéria seca, boa dormência, resistência a patógenos e casca externa bem aderida, são mais indicadas para transporte e armazenamento prolongado, contribuindo para a redução de perdas pós-colheita.
Algumas cultivares apresentam resistência genética a patógenos, como fungos causadores de podridões, o que é fundamental para reduzir significativamente as perdas, especialmente em condições de alta umidade.
Por isso, a escolha da semente deve ser realizada de forma estratégica, levando em conta as condições regionais, como clima e solo, bem como as demandas do mercado consumidor.
Essa decisão impacta não apenas o rendimento da lavoura, mas também a durabilidade e a qualidade dos bulbos, garantindo que as cebolas cheguem ao consumidor final em perfeitas condições.
Além disso, a seleção adequada da cultivar possibilita o escalonamento da produção, permitindo uma distribuição mais equilibrada ao longo do ano, o que evita picos de oferta que desvalorizam o produto ou períodos de escassez que comprometem o abastecimento.
Demandas de mercado
A qualidade das cebolas no mercado depende diretamente de sua conformidade com normas de padronização e classificação estabelecidas pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento do Brasil.
Esses critérios vão além de características físicas, como aparência e integridade dos bulbos, incluindo também a ausência de resíduos de agrotóxicos, micotoxinas e outros contaminantes que possam prejudicar a saúde do consumidor.
Além disso, cebolas com sinais visíveis de deterioração, como mofo ou fermentação, são consideradas impróprias para comercialização, reforçando a necessidade de boas práticas agrícolas e pós-colheita.
Garantir esses padrões exige uma combinação de manejo eficiente, tecnologias apropriadas e atenção aos detalhes em todas as etapas da produção. A cebola, por sua natureza perecível, é particularmente vulnerável a perdas quando técnicas adequadas de colheita, cura e armazenamento não são empregadas.
Além disso, o mercado atual valoriza produtos que combinam durabilidade, aparência atrativa e conformidade com normas de rastreabilidade e sustentabilidade. Assim, a integração de boas práticas desde o campo até o consumidor final é essencial para atender às expectativas do mercado e garantir a competitividade do produto.