Parte dos rótulos vencedores serão comercializados na Feira do Azeite Novo, no próximo sábado em Porto Alegre
Os azeites produzidos no Brasil vêm se destacando em concursos que atestam a qualidade do azeite de oliva extravirgem em todo o mundo. Apenas neste ano, já são 39 medalhas conquistadas em três competições internacionais que ocorreram no mês de maio, na Itália, Estados Unidos e Japão.
Embora os pomares nacionais sejam relativamente jovens – a extração pioneira foi em 2008, em Minas Gerais – os resultados comprovam que muitos têm qualidade superior a rótulos de países com tradição em olivicultura – como Espanha, Itália e Grécia. Um reconhecimento ao sabor da safra 2021 e ao frescor do produto nacional.
“Os prêmios são a coroação de todo o empenho dos produtores em produzir uma azeitona com alto grau de sanidade e boa maturação, para proporcionar a extração de azeites complexos e ricos em compostos de aroma e sabor. Isso tudo é avaliado nos concursos, principalmente a complexidade dos azeites. Além disso, para extrair um bom azeite deve-se considerar o processo de extração e o seu controle e, claro, o efeito das condições climáticas e de solo sobre a oliveira, responsáveis pela formação de moléculas de sabor e aroma”, afirma Juliano Garavaglia, especialista em azeites de oliva e chefe do painel de Análise Sensorial de Azeites de Oliva UFCSPA-MAPA/LFDA-RS. “Todos esses fatores, desde a azeitona e sua maturação, o manejo do olival, o processo de extração e até o armazenamento dos azeites contribuem para esse ótimo resultado nos concursos”, complementa.
Realizado no país que ocupa o posto de segundo maior produtor de azeites do mundo, o ITÁLIA IOOC (International Olive Oil Contest) premiou 17 rótulos brasileiros, sendo 13 com medalhas de ouro e quatro alcançaram a de prata. Os selecionados são do Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais. Os três estados repetiram o desempenho nos Estados Unidos, com recorde de 18 conquistas no NY IOOC, de Nova Iorque, considerado o concurso mais prestigiado do mundo. Foram dez medalhas de ouro e oito de prata, superando de longe os concorrentes sul-americanos Chile (nove medalhas), Uruguai (duas) e Argentina (duas).
O mês de maio encerrou com dois eventos no Japão. Três azeites gaúchos foram aclamados com medalha de ouro no JAPAN IEVOO e, além disso, São Paulo levou o luxuoso “Best in Class”, categoria considerada acima de todas as demais, no Japan Olive Oil Prize (JOOP 2021).
O presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva) Renato Fernandes, acredita que os ótimos resultados podem ser atribuídos ao conjunto de investimentos utilizados no processo. “Desde a produção de mudas até a armazenagem do produto, não se tem poupado tecnologias, nos viveiros de mudas, no manejo de campo, na colheita e na extração do azeite. São recursos importantes iguais ou até superiores a olivicultura estrangeira. Os olivicultores brasileiros não abrem mão de um azeite verdadeiramente extravirgem”, garante.
O cultivo de oliveiras está em plena expansão e a área plantada está em torno de sete mil hectares. Os maiores polos produtores são o Rio Grande do Sul e a região da Serra da Mantiqueira, entre os estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Os pomares se expandem também por Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia.
Os azeites brasileiros mais encontrados atualmente são blends de varietais arbequina e arbosana, considerados não muito intensos, que vão bem com pratos menos condimentados, e o monovarietal koroneiki, que harmoniza com pratos de sabores mais intensos e complexos.
A nutricionista Isabel Kasper Machado, especialista e pesquisadora em Análise Sensorial e Harmonização com Azeite de Oliva da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), explica que cada azeite é único. “A mágica acontece no momento em que a garrafa é aberta, trazendo uma infinidade de opções aos cozinheiros. Para quem trabalha com gastronomia, como eu, é um presente podermos incluir em nossos pratos azeites sem defeitos sensoriais, com aromas e sabores que vão enaltecer nossas preparações. Cozinhar ou finalizar os pratos com azeite de oliva é uma prática bastante comum na gastronomia, a despeito do tabu existente de não ser saudável aquecer o azeite de oliva. Sabe-se que é uma gordura muito mais resistente que diversas outras utilizadas para cozinhar”, detalha a também chefe de cozinha. “Quanto mais novos os azeites, mais presentes estarão as notas sensoriais mais diversas como frutos secos, frutas verdes ou maduras, chás e flores. Temos a sorte de termos aqui no Brasil um produto com esta qualidade para ser usado em nossas casas e em nossos restaurantes. Vale a pena conhecer”, recomenda.
FEIRA DO AZEITE DE PORTO ALEGRE CONTARÁ COM OS RÓTULOS PREMIADOS
Uma excelente oportunidade para conhecer alguns rótulos recentemente premiados é a Feira do Azeite Novo, que ocorre no próximo sábado, 5 de junho, em Porto Alegre. O evento, parceria do Ibraoliva com a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR), ocorre sempre no primeiro e terceiro sábados do mês no pátio da Secretaria, que fica na Av. Getúlio Vargas, 1.384, bairro Menino Deus. O horário é das 8h às 12h.
A comercialização vem sendo realizada com todas as medidas de segurança recomendadas pelas autoridades de saúde. Por isso, a degustação dos azeites foi suspensa e é obrigatório o uso de máscara, tanto para expositores quanto para os visitantes. Além disso, também é respeitado o distanciamento entre as bancas.
O presidente do Ibraoliva acredita que a escolha do produtor brasileiro pela qualidade, em vez de quantidade, foi uma escolha certa e vê com otimismo o futuro da olivicultura brasileira. “A nossa produção é muito pequena em relação ao nosso consumo (1% do consumo nacional) e queremos avançar cada vez mais nesse mercado. Porém, crescer com qualidade e sustentabilidade no negócio. Somente assim teremos nosso azeite brasileiro reconhecido como um produto diferenciado e valorizado pelo consumidor”, resume Fernandes.