30.6 C
Uberlândia
sábado, outubro 5, 2024
- Publicidade -spot_img
InícioArtigosTomate italiano: manejo eficiente de doenças foliares

Tomate italiano: manejo eficiente de doenças foliares

Patrick Lopes Gualberto
doclopes7@gmail.com
Ana Luisa Rodrigues Silva
aninhamj97@gmail.com
Engenheiros agrônomos e doutorandos do Programa de Pós-graduação em Entomologia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)

O tomate italiano é suscetível a várias doenças foliares que reduzem a área fotossintética e a produção de fotoassimilados, prejudicando o desenvolvimento da planta e o enchimento dos frutos.

Doenças causadas por fungos

Pinta-preta (Alternaria solani): lesões irregulares e escuras que ocorrem primeiro em folhas velhas, mas podem se expandir para hastes e frutos. Com o desenvolvimento da doença, são formados anéis semelhantes a um alvo de tiro.

Requeima (Phytophthora infestans): lesões foliares começam nas folhas jovens e são grandes, irregulares e com aparência de encharcamento. Com o tempo, as lesões crescem e adquirem aspecto seco, e pode haver a dobra dos pecíolos das folhas. A doença ocorre em temperaturas mais amenas.

Mancha-de-estenfílio (Stemphylium solani e S. lycopersici): lesões irregulares, pequenas e acinzentadas nas folhas jovens. No centro das lesões mais antigas podem ocorrer orifícios. As lesões podem se unir, deixando as folhas com aspecto de queima e suscetíveis à queda.

Septoriose (Septoria lycopersici): manchas arredondadas, com coloração marrom escura nas bordas e acinzentada no centro, iniciando em folhas velhas. O centro da lesão pode apresentar pequenas pontuações negras. Afeta ainda o caule, pedúnculo e cálice.

Doenças causadas por bactérias

Mancha-bacteriana (gênero Xanthomonas): manchas nas bordas das folhas, no caule, pecíolo e pedúnculo, sendo escuras, circulares e encharcadas. Nos frutos ocorrem lesões brancas que ficam amarronzadas com o desenvolvimento da doença.

Pinta-bacteriana (Pseudomonas syringae pv. tomato): lesões escuras circundadas por halo amarelado e com aparência gordurosa. Ocorrem nas folhas, caules, pecíolos, flores e frutos. A doença é favorecida por temperaturas mais amenas.

Cancro-bacteriano (Clavibacter michiganensis subsp. michiganensis): folhas mais velhas murcham e secam e causa a queda de frutos. Os frutos apresentam lesões esbranquiçadas de centro escuro, chamadas de “olho de perdiz”.

Doenças causadas por vírus

Vira-cabeça-do-tomateiro (Tospovírus): folhas ficam arroxeadas e as plantas não crescem normalmente. O broto superior fica caído e com pontuações escurecidas. Frutos ficam deformados, com manchas marrons. Doença transmitida por tripes.

Mosaico dourado (Geminivírus): ocorre amarelecimento intenso das folhas jovens, que ficam deformadas em formato de colher. Doença transmitida pela mosca-branca.

Danos

O tomate apresenta grande importância econômica para o Brasil. Entretanto, além de sua lucratividade, ele também se destaca como uma das olerícolas mais suscetíveis a problemas fitossanitários, devido à extensa área foliar que proporciona microclima favorável para o desenvolvimento de doenças.

As doenças na cultura do tomate podem causar lesões ou queda das folhas, diminuindo sua área fotossintética ou ainda danos qualitativos e quantitativos aos frutos, afetando diretamente o produto comercial.

Podem causar, ainda, queda de flores e frutos e até mesmo a morte da planta. Sendo assim, o manejo de doenças foliares está ligado à lucratividade do produtor, qualidade dos frutos e à saúde das plantas, fazendo com que o manejo eficiente seja essencial para que se possa produzir tomates de qualidade.

Controle e prevenção de doenças foliares

O primeiro passo para adotar medidas de controle é a correta identificação do agente causador da doença. O controle químico é o mais adotado no Brasil, e deve ser realizado exclusivamente com produtos fitossanitários registrados para a cultura.

Entretanto, para evitar aplicações excessivas de agrotóxicos e consequentes contaminações ambientais, é importante adotar primeiro medidas preventivas.

Principais medidas de prevenção:

– Sempre utilizar variedades resistentes, quando disponíveis;

– Várias doenças podem ser transmitidas por sementes e mudas contaminadas, portanto deve-se adquirir apenas àquelas com qualidade sanitária certificada;

– Eliminar plantas daninhas e restos culturais, pois podem ser fonte de inóculo para doenças e abrigar insetos-vetores;

– Manejar adequadamente insetos-vetores;

– Realizar a rotação de culturas, evitando cultivar solanáceas sucessivamente;

– Cultivar em espaçamento adequado, evitando criar microclima úmido, que favorece doenças fúngicas e bacterianas, e permitindo a ventilação;

– Doenças bacterianas são dispersadas por gotículas de água, por isso é interessante priorizar a irrigação por sulco ou gotejamento;

– Evitar causar ferimentos nas plantas durante o manejo;

– Desinfectar maquinários e equipamentos, evitando disseminar doenças para novas áreas;

– Caldas naturais podem ser utilizadas como fungicidas preventivos ou curativos, sendo: calda sulfocálcica, calda bordalesa e calda viçosa.

Hora de escolher

A escolha do produto fitossanitário deve considerar diversos fatores, como: qual doença está afetando o tomateiro, o nível de infestação e quais os produtos registrados para o manejo.

Deve-se buscar por produtos com preço acessível e de confiança, devendo estar devidamente registrados para a cultura de acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). Os produtos registrados para uso na cultura podem ser facilmente acessados através do Portal Agrofit (https://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons).

Entre os principais produtos fitossanitários utilizados, podemos citar os ingredientes ativos: azoxistrobina para controle da mancha-de-alternaria e septoriose; mancozebe para o controle de requeima, septoriose e alternaria; clorotalonil para controle de mancha-de-alternaria, requeima e mela; tiabendazol para o controle de fusariose; e, por fim, o sulfato de cobre, que pode controlar diversas doenças.

Sintomas

As doenças foliares mencionadas apresentam sintomas característicos, todavia, dependendo das condições ambientais, pode haver variações que dificultam a identificação. É interessante utilizar no campo um livro-guia de identificação com riqueza de imagens, permitindo comparar com os sintomas observados nas plantas.

Condições ambientais adversas, com alterações drásticas de temperatura ou umidade, podem causar danos as folhas e aos frutos que são frequentemente confundidos com doenças. Alguns dos sintomas foliares causados por estresses ambientais são:

  • Edema: anomalia ocorre quando há níveis de umidade excessivos no solo ou no ar. Folhas inferiores apresentam lesões semelhantes a bolhas.
  • Síndrome da folha pequena: folhas jovens amareladas e com tamanho muito reduzido. Esta anomalia está associada ao solo quente, com pouca aeração e alta umidade.
  • Prateamento ou quimera: folhas com manchas prateadas, flores podem ficar totalmente estéreis. Sintomas ocorrem quando há choques térmicos e a temperatura cai rapidamente abaixo de 18ºC.

Reflexos

Nos frutos, estresses ambientais podem causar rachaduras, frutos ocos, queimas, deformações, descolorações e amadurecimento desigual. O manejo das condições ambientais para evitar estes sintomas é possível principalmente em cultivo protegido, onde é possível evitar choques térmicos, otimizar a umidade do solo e proporcionar ventilação adequada. Também pode-se optar por variedades mais tolerantes a estes estresses.

Sintomas foliares podem ocorrer ainda devido a adubações incorretas e aplicação incorreta de herbicidas. Deve-se realizar a adubação sempre levando em consideração análises foliares e de solo, pois as plantas podem ser afetadas tanto pela deficiência quanto pelo excesso de nutrientes.

Os sintomas observados nas folhas variam com o nutriente e se ele está em falta ou demasia. Já lesões causadas por herbicidas serão visíveis após o manejo de plantas daninhas, variando de maneira significativa com os produtos utilizados e seus princípios ativos.

Impacto econômico das doenças foliares

Aproximadamente 15% dos custos de produção são destinados ao controle de doenças foliares em cultivos de tomate. Apesar de não existir um valor que represente o dano econômico total causado por essas doenças, sabe-se que elas causam perdas significativas na produtividade e devem ser manejadas.

O impacto econômico causado pelas doenças pode variar de acordo com diversos fatores, como a região do cultivo, qual ou quais doenças estão afetando o tomateiro e qual tática de controle o produtor decide empregar.

Deste modo, o impacto econômico que o produtor enfrentará pode ser extremamente variável, desde perdas irrelevantes por uma doença facilmente controlada, até mesmo grandes perdas econômicas devido a um conjunto de doenças e/ou aplicação de manejo equivocado que não foi capaz de controlar a doença de forma eficiente.

Assim, se faz de grande importância a adoção de táticas de manejo integrado para prevenir a ocorrência e controlar doenças adequadamente.

Estratégias sustentáveis

O manejo sustentável na agricultura busca pelo bem-estar social dos agricultores e da comunidade, a viabilidade econômica, e pela conservação do meio ambiente. Assim, busca-se produzir tomates de qualidade, de forma rentável sem prejudicar o ecossistema, e existem táticas para o manejo de doenças que podem ser adotadas para aumentar a sustentabilidade de uma produção.

A maioria das táticas abordadas atuam de forma preventiva e o uso de produtos químicos deve ser considerado somente como última opção. Esperar que o tomateiro apresente sintomas de doenças para a aplicação de produtos químicos não representa o manejo sustentável, um correto manejo das doenças deve acatar todos as táticas preventivas para que não seja necessário a utilização do método químico.

Ao iniciar um cultivo de tomate, a primeira etapa é definir qual cultivar será plantada. Diferentes regiões ou mesmo áreas irão apresentar diferentes susceptibilidades a doenças. É importante conhecer o histórico da área e o clima da região, assim é possível saber qual as principais doenças daquele local e buscar cultivares resistentes a essas doenças.

Uma adubação adequada da produção é uma etapa vital tanto para obter uma boa produtividade quanto para evitar doenças. Uma planta com uma nutrição equilibrada, apresenta resistência a doenças.

O manejo cultural, como escolher o espaçamento adequado entre as plantas, evitando o adensamento, a poda no momento ideal, retirar folhas mortas e plantas daninhas deixando um chão limpo, apesar de parecer simples, é um grande aliado no combate a doenças de plantas.

Os demais métodos de prevenção já foram abordados anteriormente. Mas o principal intuito é repassar a mensagem de que, para realizar o manejo sustentável não são necessários equipamentos caros ou altas tecnologias, com o básico bem feito é possível reduzir a aplicação de produtos químicos, evitando contaminações ambientais e custos desnecessários com agroquímicos.

ARTIGOS RELACIONADOS

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!