Fabrício Custódio de Moura Gonçalves
Doutor em Agronomia/Horticultura – UNESP, FCA, Botucatu
O tomate é conhecido como uma cultura de grande importância dentro do cenário internacional e nacional. Muito apreciado por seu sabor, seja in natura ou processado, é uma das hortaliças mais consumidas no Brasil.
Nos últimos anos, tem aumentado muito o consumo e a produção de hortaliças orgânicas. Entretanto, a produção de tomate orgânico não tem acompanhado esta demanda. Isto ocorre principalmente devido à dificuldade em se controlar o ataque de pragas e doenças.
Dessa forma, o tomate é uma hortaliça cuja produção depende diretamente do investimento em insumos, no entanto, o mercado orgânico está conquistando os consumidores dessa hortaliça. A redução de custos e a obtenção de alimentos mais saudáveis são algumas das vantagens da produção sem insumos químicos.
Produção de peso
A produção de orgânicos nos últimos anos tem aumentado de forma expressiva, tanto no mercado mundial quanto nacional. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Brasil possui mais de 16.000 produtores orgânicos cadastrados e o segmento movimentou próximo de R$ 6,0 bilhões nos últimos anos.
No Brasil são plantados aproximadamente 275 mil hectares, movimentando até R$ 250 milhões com a comercialização de 300 mil toneladas.
A produtividade dos cultivos orgânicos, até o momento, é bem satisfatória. Nesse sistema, as plantas apresentam boa sanidade e os custos caíram significativamente, sem o uso de produtos químicos para o controle de pragas e doenças.
A não utilização desses insumos convencionais diminui os riscos para o produtor, que não precisa entrar em contato com esses produtos, evita a contaminação do meio ambiente e ainda oferece ao consumidor um produto de qualidade e sem resíduos de agrotóxicos.
Sistema de cultivo
Ainda predomina o sistema convencional de produção de tomate, mas o cultivo em sistemas alternativos, como o orgânico, cresce a cada ano devido a uma maior preocupação, por parte dos consumidores, com a qualidade dos alimentos e a preservação do ambiente.
A produtividade média de uma planta de tomate é de cerca de 5,0 kg de frutos, dependendo do sistema de cultivo. No cultivo orgânico, a produtividade do Brasil e da região mais tecnificada chega próximo de 8,0 kg por planta.
Em virtude da introdução de novas técnicas agronômicas, o cultivo de tomates orgânicos no Brasil vem derrubando o mito de que a agricultura livre de defensivos químicos é menos produtiva do que a tradicional.
Esse resultado ocorre devido ao uso de variedades rústicas no lugar das híbridas, ou seja, já garante volumes de safras compatíveis entre a agricultura orgânica e a tradicional, no entanto, destaque para o cultivo orgânico, por apresentar custos 20% menores com manejo e retorno, em média, 73% superior para o produtor.
Isso sem contar que a agricultura orgânica livra tanto o ambiente como o produtor e o consumidor do risco de intoxicação por defensivos.
Oferta x demanda
O Brasil não só é um grande consumidor de tomate, como também é um eficiente produtor desta hortaliça, sendo um dos dez maiores produtores mundiais. Também há maior destaque tanto pelo volume produzido como pelas tecnologias disponíveis e adotadas para a produção no País.
As lavouras de tomate orgânico estão espalhadas sobretudo nas quatros regiões brasileiras, como Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, com 50 mil estabelecimentos, dos quais predominam a gestão familiar, com destaque para as regiões sudeste e sul, tanto em produção quanto consumo.
Investimento
O tomate é uma hortaliça muito exigente em relação a clima, solo e também em relação à dedicação do produtor, sendo que os tratos culturais necessários devem ser realizados de forma adequada e no tempo certo.
O investimento inicial é baixo, considerando que o produtor pode utilizar os materiais de sua própria propriedade e ao seu redor. Os maiores investimentos são em mão de obra, que, por sua vez, pode ser da própria família.
O sistema orgânico permite realizar preparo do solo, plantio, condução da planta, controle de pragas e doenças, frutificação, colheita e beneficiamento sem maiores problemas, desde que o produtor esteja bem orientado. Além disso, o tomate orgânico é um dos produtos mais procurados pelos consumidores e tem um alto valor no mercado.
Rentabilidade
O sistema orgânico é um sistema sustentável e rentável, em contraposição ao sistema convencional. Em média, um quilo de tomates orgânicos é vendido por cerca de R$ 2,25/quilo, 73% superior à média obtida com a venda do tradicional, R$ 1,30/quilo.
Em uma área localizada em Araraquara, no interior paulista, que há dez anos produz tomates orgânicos, está o exemplo de sucesso na produção de tomates livres de agrotóxicos. No lugar de variedades híbridas, o sítio passou a utilizar sementes rústicas. Em média, mil pés cultivados de tomates garantem uma produção da ordem de 300 caixas de 20 quilos por safra.
Segundo o proprietário do Sítio, a rentabilidade média de sua propriedade é de 200 caixas de tomate de 20 quilos por safra a cada mil pés. “Em alguns meses nossa produção chega a superar os índices da agricultura tradicional”, declara.
Em geral, os elevados preços obtidos pelo tomate orgânico no mercado e os baixos custos de produção proporcionados pelo sistema possibilitam recuperar rapidamente este investimento. Além do uso mínimo de insumos químicos, possibilita a sua implantação tanto em áreas rurais quanto em áreas urbanas ou na sua periferia, constituindo uma fonte de emprego e renda para estas populações.
Passo a passo
Ao se iniciar o sistema de produção, é necessário realizar a correção do solo, que deve ser de acordo com a orientação de um agrônomo, baseando-se nos resultados da análise de solos e nas recomendações do Manual de Adubação para a cultura. A qualidade física, química e biológica do solo é fator essencial para cultivos orgânicos bem-sucedidos de tomateiro.
A análise da fertilidade do solo é importante para nortear as recomendações quanto à necessidade de correção de acidez, feita por meio de aplicação de calcário, e de adição de fontes de macronutrientes como fósforo, nitrogênio, potássio, cálcio e magnésio.
Uma boa correção é aquela que inibe o efeito tóxico do alumínio e aumenta o pH do solo, com o objetivo de proporcionar a máxima disponibilização de nutrientes e garantir um bom desenvolvimento do sistema radicular.
Nesse sentido, podem ser utilizados alguns corretivos como, por exemplo: os calcários, silicatos, óxidos, rochas moídas, entre outros materiais. Vale a pena ressaltar que os corretivos na cultura do tomateiro devem disponibilizar alta quantidade do elemento cálcio a fim de evitar a ocorrência da podridão apical causada pela deficiência do mesmo.
Além disso, o nitrogênio é um elemento que, em caso de deficiência, restringe bastante a produtividade, portanto, quando se pensa na nutrição do tomateiro, é necessário que se atente à quantidade fornecida de nitrogênio.
Nutrição de ponta
As adubações devem ser realizadas com produtos que têm o uso permitido pelas certificadoras orgânicas. Observa-se que os produtores de tomate orgânico utilizam bastante as compostagens produzidas na própria propriedade. Para um bom índice de produtividade das lavouras, é necessário que as adubações sejam equilibradas.
De maneira geral, são feitas adubações nas covas de plantio e logo após o início da floração são realizadas as demais adubações de cobertura, visando sempre o equilíbrio nutricional da lavoura. Elementos que têm baixa locomoção no solo como, por exemplo, o fósforo, devem ter a quantidade total aplicada somente na adubação de plantio.
A aplicação de compostos orgânicos ou adubos verdes leva à diversificação do sistema, como rotação com outras culturas, uso de cercas vivas, manutenção de cobertura morta no solo e cultivo de outras espécies, que também são práticas importantes para o manejo orgânico do tomateiro.
Sistemas produtivos
O cultivo de tomate orgânico pode ser feito tanto em condições de campo como em casa de vegetação, dependendo do nível tecnológico e capacidade de investimento do produtor. O cultivo em ambiente protegido, em casa de vegetação, tem como vantagens a maior proteção das plantas das adversidades climáticas e uma maior facilidade no manejo fitossanitário.
Os principais tratos culturais no tomateiro são: colocação de cobertura morta, desbrota, capação e raleio dos frutos. Na cultura do tomateiro no sistema orgânico são utilizadas geralmente duas linhas de plantio por canteiro, com distância entre plantas na linha de plantio de 40 a 60 cm.
O espaçamento de 40 cm na linha de plantio proporciona um ambiente mais aerado, maior facilidade nos tratos culturais e menos riscos de disseminação de doenças. Vale a pena ressaltar que o tomateiro nesse sistema é conduzido com somente uma haste.
Em espaçamentos de 60 cm entre plantas o tomateiro é mantido com duas hastes. Nesse sistema, proporciona ao produtor o potencial de obtenção de altas produtividades, porém, como o sistema fica mais adensado, deve-se atentar ao aparecimento mais frequente de ataque de patógenos.
O tutoramento das plantas é feito com fitilhos, que são fixados na parte superior da estufa e são enrolados na haste do tomateiro. A operação de enrolamento das hastes deve ser feita semanalmente.
Outro aspecto que merece atenção em relação ao tomateiro é a altura máxima de plantas. Na maioria dos casos a planta é conduzida até 2,5m, com o intuito de facilitar os tratos culturais e colheita.
A cobertura morta pode ser depositada sob o solo no momento do plantio. A função desse material será proteger o solo contra alguma diversidade climática, garantir uma boa manutenção da umidade do solo e evitar a ocorrência de plantas invasoras dentro da estufa.
Desbrota e capação
A desbrota, que é a eliminação dos brotos laterais, deve ser realiza pelo menos uma vez por semana. Quanto menor o broto eliminado, menor é a perda de vigor pela planta. A capação, que é a eliminação da ponteira do tomateiro, deve ser realizada quando a haste do tomateiro atingir a altura máxima em que se pode realizar os tratos culturais.
Sempre deixar uma folha acima da última penca. A desfolha é a retirada das folhas velhas ou infestadas com alguma praga ou doença. Seu objetivo é eliminar focos de contaminação e aumentar a aeração no interior da cultura.
Deve ser realizada quando for observado algum foco de contaminação ou quando as folhas mais velhas começarem a ficar amareladas. Recomenda-se eliminar as folhas quando a penca logo acima desta já estiver com os frutos “cheios”.
Quando se reduz o número de frutos por penca, estes alcançam maiores tamanhos. O raleio dos frutos é recomendado somente quando o mercado exigir frutos maiores. Também se realiza o raleio com o objetivo de eliminar, ainda pequenos, os frutos que não possuam valor comercial, como os atacados por alguma praga ou doença, ou quando apresentam fundo preto. Com isto, direciona-se o vigor do tomateiro para encher os frutos comerciais.
Controle fitossanitário
Muitas ervas daninhas, pragas e doenças atacam o tomateiro, causando grande redução da produtividade e da qualidade do produto. O controle pode ser cultural, mecânico, químico ou integrado. A escolha e a eficiência de cada um desses métodos dependem da natureza e interação das plantas daninhas, da época de execução do controle, das condições climáticas, do tipo de solo, dos tratos culturais, do programa de rotação de culturas, da disponibilidade de materiais alternativos, de mão de obra e de equipamentos.
O manejo fitossanitário na produção de tomate orgânico deve ser visto de forma sistêmica e considerando as diferentes interações entre as plantas, o ambiente e o próprio patógeno.
Alternativas
O manejo adequado do solo e da cultura e a adoção de medidas de caráter preventivo podem facilitar o controle de plantas tanto de plantas daninhas, doenças e pragas, reduzindo as perdas.
Essas medidas incluem rotação com culturas não hospedeiras de patógenos que causam doenças no tomateiro, cultivo distante de outras lavouras de tomate ou outra solanácea, manejo adequado do solo, uso de sementes e mudas sadias e de qualidade, plantios não adensados e condução vertical das plantas, uso de água de qualidade e isenta de contaminação e manejo correto da irrigação, evitando excessos, períodos prolongados de molhamento foliar e escoamentos superficiais de água, aumento do espaçamento, visando aumentar a aeração dentro da cultura, retirada de folhas infestadas e destruição dos restos culturais imediatamente após a colheita.
O uso de esterco bovino compostado reduz a infestação por invasoras. Fundamental também é priorizar cultivares adaptadas e resistentes às principais doenças da cultura. Caso necessário, algumas medidas pontuais de controle podem ser adotadas, como a aplicação de produtos que tenham ação fungicida, como extratos de plantas e óleos essenciais.
A utilização dos defensivos alternativos deve ser realizada com muito critério, apenas nas épocas necessárias e sem excesso. A capina seletiva serve para aumentar a população de inimigos naturais, enquanto a aplicação de extratos vegetais e biofertilizantes, além da utilização de produtos oriundos da propriedade e/ou arredores, são formas de minimizar a dependência de insumos externos e melhorar a qualidade dos vegetais oferecidos, uma vez que são consumidos, em sua maioria, in natura pelo consumidor.
Em situações específicas, e dependendo da certificadora, poderá também ser utilizada a calda bordalesa, produto que tem o cobre como princípio ativo. Esta e outras caldas são de uso restrito e devem ser aplicadas, desde que obedecendo o limite de até 6,0 kg/ha/ano de cobre.
Deve-se destacar, também, que muitas técnicas utilizadas no sistema orgânico também podem ser utilizadas no sistema convencional, como cultivares/híbridos resistentes ou mais tolerantes, rotação de culturas, plantio em épocas mais favoráveis à hortaliça que se quer produzir, cultivo em ambiente protegido, dentre outras.
Estas resistências podem ser encontradas tanto em cultivares tradicionais como nos mais modernos híbridos, e podem ser utilizadas pelos produtores orgânicos, com poucas restrições como, por exemplo, os transgênicos.
Claro que uma cultivar resistente somente será bem-vinda se também for adaptada ao sistema de manejo, ao clima do local ou época do ano e produzir uma olerícola (frutos, raiz, “cabeça“, etc.) que seja bem aceita no mercado.
Nesse contexto, outras estratégias recomendadas por estudos da Embrapa Hortaliças são o consórcio do tomate com coentro ou outras plantas aromáticas, que atuam com repelentes de pragas e atrativos de inimigos naturais, e o cultivo de plantas no entorno, como crotalária, sorgo e capins.