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Traça-do-tomateiro – Controle é urgente

Autores

Dirceu Pratissoli
Doutor em Entomologia e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
dirceu.pratissoli@gmail.com
Regiane Cristina Oliveira de Freitas Bueno
Doutora em Entomologia e professora da Unesp
regianecrisoliveira@gmail.com

A fase de lagarta da traça-do-tomateiro é a que possui grande capacidade de causar danos, independentemente da idade das mesmas. Nas folhas, penetram no interior do parênquima foliar dos folíolos, onde passam a se alimentar destruindo grandes áreas dos tecidos, as quais denominamos de minas.

As grandes proporções de infestações na massa foliar provocam um estresse fisiológico nas plantas. Nos ponteiros dos tomateiros, que chamamos de gema apical, as lagartas penetram abrindo um caminho, de cima para baixo, o qual denominamos galerias, o qual não permite à planta emitir novas brotações e, consequentemente, novos cachos de frutos.

Nos frutos, as lagartas também podem fazer galerias, quando penetram na polpa do tomate, danificando-as, o que inviabiliza seu comércio. As galerias, tanto no ápice como nos frutos, são facilmente localizadas, pois as lagartas deixam suas fezes em seu interior. Essa praga pode provocar prejuízos de 70 a 100%.

Condições propícias para o ataque

A proliferação dessa praga tem sido favorecida, quando ocorrem períodos de baixa precipitação, com temperaturas elevadas e veranicos na época chuvosa. Os maiores picos populacionais ocorrem durante o inverno ou período de seca prolongada. Essa espécie tem capacidade de estabelecer gerações superpostas, portanto, passando de plantações velhas para as novas durante o ano todo.

Também é de grande importância econômica em outras solanáceas, tais como berinjela, batata e pimentão. Ataca toda a planta em qualquer estádio de desenvolvimento, fazendo galerias nas folhas, ramos e, principalmente, nas gemas apicais, onde destroem brotações novas, além dos frutos, que são depreciados para a comercialização.

Ocorre durante todo o ciclo da cultura. As maiores infestações acontecem no período de frutificação, pois as lagartas permanecem intactas às ações de controle no interior dos frutos.

Monitoramento

O monitoramento é a base do manejo, uma fase de extremamente importância, pois propicia ao produtor o conhecimento de como está a população da praga no campo, ou seja, se ela está estabilizada, se está aumentando ou diminuindo.

Para essa praga as amostragens devem ocorrer a cada quatro dias, pois assim poderemos acompanhar a evolução da população no campo. Já existem índices que demonstram quando a população dessa praga poderá proporcionar prejuízos à lavoura e é o indicativo de que temos que optar pela aplicação de um inseticida químico.

Esses índices são:  folha – 25% com larvas; ponteiro – 5% com larvas, e frutos – 5% de pencas com ovos.

Eficiência do controle biológico

Na atualidade, o biológico é o método de manejo que mais tem sido empregado, visto que consegue manter a população da praga em níveis que não causam prejuízos, além de não provocar impacto ao meio ambiente, ao contrário dos químicos, que além de impactarem o ambiente, tornam as populações da praga resistentes aos produtos.

Parasitoide de ovos do gênero Trichogramma

O uso de parasitoides do gênero Trichogramma teve seu início na década de XX, quando as pesquisas demonstraram que seu uso como inseticida biológico poderia fazer o controle das terríveis pragas sem trazer qualquer risco para outros inimigos naturais, saúde humana e/ou ambiente.

O emprego de Trichogramma como um agente de controle biológico se deve a dois fatores: o primeiro está relacionado ao fato de que espécies desse gênero têm uma ampla distribuição geográfica; o segundo é devido aos aprimoramentos tecnológicos desenvolvidos nas mais diversas linhas de pesquisas, propiciando uma melhoria na produção massal e nos sistemas de liberação do parasitoide.

Dentre os parasitoides, os mais estudados são os parasitoides de ovos desse gênero Trichogramma, que se destacam entre os agentes biológicos por parasitarem ovos de pragas agrícolas e florestais, principalmente da ordem Lepidoptera.

Esses parasitoides têm sido relatados em mais de 200 espécies pertencentes a 70 famílias de oito ordens de insetos e são utilizados em programas de controle biológico de pragas de diferentes culturas, em liberações inundativas de cerca de 30 países.

A utilização desses parasitoides se deve principalmente à facilidade de criação massal no laboratório com custo viável, além de promover o controle da praga antes que ocorra dano à cultura.

O uso em larga escala tem sido constatado em quase todas as regiões de cultivo do mundo. Na Ásia, a utilização de Trichogramma como agente de controle biológico tem sido registrada em oito países; na Europa, em dez países; África, três; Austrália, um; América do Norte, três; América Central, cinco; e América do Sul, oito países.

Manejo com outras táticas

Para essa praga podemos empregar diversas táticas de manejo, como a cultural (adubação, rotação de culturas, etc.); física (armadilha luminosa); comportamental (feromônio, iscas atrativas); biológica (parasitoides, entomopatogênicos) e química (inseticidas seletivos, fisiológicos).

Ensacamento

Dentro do manejo físico, essa técnica, se for somente para o manejo da traça, seria inviável, uma vez que a praga só ataca o fruto quando está em altas populações, e o uso como rotina elevaria o custo de produção. A técnica torna-se viável quando o objetivo é proteger a lavoura de todos os bloqueadores de frutos.

Utilização de inseticida específico

Essa é a melhor indicação, porém, sempre lembrando que esta opção seria a última a ser tomada. A utilização de inseticidas seletivos traz grandes vantagens, visto que os mesmos só agem sobre a praga-alvo, o que permite que os inimigos naturais permaneçam na área auxiliando o manejo dessa praga, além desses produtos impactarem minimamente o meio ambiente.

Outros inseticidas específicos que podem ser recomendados são os denominados de reguladores de crescimento e as diamidas, que agem somente sobre as lagartas, fazendo com que as mesmas não causem danos à planta.

Manejo de cada tática

Não recomendamos o uso das técnicas isoladamente. Para se ter a maior efetividade de manejo, sugerimos a implementação de várias técnicas que possam manter a população da praga em níveis aceitáveis. Como exemplo, vamos simular a implementação da associação de técnicas:

† Monitoramento constante da população da praga durante todo o ciclo da cultura;

† Liberação de Trichogramma (liberações de 150.000 indivíduos a cada cinco dias/ha); iniciar 15 dias após o transplantio e terminar 100 dias após o início;

† Utilizar armadilhas luminosas durante todo o ciclo da cultura para captura de adultos;

† Fazer o uso de iscas atrativas. Para isso, utiliza-se um inseticida misturado com 10% de melaço e aplica-se em algumas plantas na área, sempre ao final do dia. Essa ação fará com que os adultos migrem para essas plantas, e ao sugarem as gotículas da solução se contaminem e morram;

† Se durante o monitoramento o pragueiro perceber a existência de lagartas novas na planta, recomenda-se a aplicação de um inseticida fisiológico; no entanto, se já existirem lagartas grandes, fazer o uso de um inseticida seletivo.

Melhoria na produtividade

Nossas observações mostraram que o tomateiro é uma planta muito propensa a estresse, devido a vários fatores, como adubação desequilibrada, falta de água, etc., porém, o fator excesso de aplicação de agrotóxicos tem sido o maior promotor de estresse em plantas.

Com isso, o desenvolvimento fisiológico dos frutos (enchimento, maturação, etc.) fica comprometido, os quais terão uma classificação inferior ao desejado. Daí a implementação de uma associação de técnicas de manejo promoverá a redução no uso de agrotóxicos, impedindo que esse fato ocorra.

BOX

Custo x benefício

Não existe um valor fixo de implementação. Tudo dependerá de quais técnicas serão empregadas, porém, o custo poderá variar de 30 a 70% do custo somente com inseticidas.

Custo-benefício:

– Redução do uso de inseticidas, que pode chegar a 70%;

– Redução de risco da presença de resíduos nos frutos;

– Menor risco de intoxicação;

– Menor impacto ao meio ambiente;

– Produto diferenciado tem preço diferenciado;

– Maior qualidade de vida para o produtor.

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