PENSANDO ESTRATEGICAMENTE POR ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA. Texto publicado originalmente no Diário de Uberlândia.
Há alguns anos, a Venezuela tem dominado os noticiários internacionais. Instabilidade política, eleições fraudulentas, fome, miséria e um grande contingente de recursos naturais são as principais características desse país sul-americano. Oficialmente conhecida como República Bolivariana da Venezuela, a nação é composta por uma parte continental e muitas pequenas ilhas no Mar do Caribe, com Caracas como sua capital e maior aglomeração urbana. Suas fronteiras incluem o Mar do Caribe ao norte, a Colômbia a oeste, o Brasil ao sul e a Guiana a leste, com quem mantém disputas territoriais.
História e riquezas naturais
Como muitos países da América do Sul, a Venezuela foi colonizada pelo Império Espanhol em 1522, apesar da resistência dos povos nativos. A nação foi a primeira da América do Sul a conquistar sua independência da Espanha, em 1811, pelas mãos de Simón Bolívar. Durante o século XIX, o país enfrentou instabilidade política e autocracia, dominado por caudilhos regionais até meados do século XX.
A Venezuela é um dos países mais ricos em biodiversidade, ocupando um posto entre os 17 países megadiversos do globo. Seus habitats vão desde as montanhas dos Andes até o oeste da Bacia Amazônica, passando por extensas planícies e a costa do Caribe, até o delta do rio Orinoco no Leste. A fauna e a flora venezuelanas são extremamente diversas, incluindo espécies raras e pouco conhecidas. Além dessa diversidade ambiental, o país também é amplamente reconhecido pelas vastas reservas de petróleo.
Ascensão e queda econômica
Para entender o potencial das reservas de petróleo do país, é útil considerar a descoberta da primeira grande jazida petrolífera em 1922. Apenas seis anos depois, a Venezuela já era o segundo maior produtor de petróleo do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Em 1945, a produção de petróleo venezuelana superava a de todos os países do Oriente Médio juntos, e em 1950, o país possuía o quarto maior PIB per capita do planeta. Durante essa fase, a Venezuela era duas vezes mais rica que o Chile, quatro vezes mais rica que o Japão e doze vezes mais que a China.
A riqueza do petróleo também moldou a política venezuelana. Desde a descoberta das jazidas, os líderes do país buscaram promover o setor e tirar vantagem das variações no preço do barril. A média da população era relativamente rica, mas os choques econômicos das décadas de 1980 e 1990 resultaram em várias crises políticas, culminando em um colapso da confiança generalizada que permitiu a ascensão de Hugo Chávez.
A Revolução Bolivariana e o declínio
Sob o conceito de “Revolução Bolivariana”, Chávez aprovou uma nova constituição em 1999 e, nos anos seguintes, aproveitou os aumentos do preço mundial do petróleo para consolidar seu poder. Ele se tornou uma figura multibilionária, influenciando diretamente vários países latino-americanos e até outros continentes. Após a morte de Chávez em 2013, Nicolás Maduro assumiu a presidência, vencendo as eleições no mesmo ano. A partir de 2014, com a posse de Maduro, a destruição do país se acelerou: a inflação chegou a 700% e o índice de desabastecimento ultrapassou 80%. Em 2017, a inflação bateu recordes, alcançando 2.616%, a maior do planeta. Entre 2015 e 2016, 74% da população perdeu em média 8 quilos devido à fome. No final de 2016, 93,3% dos venezuelanos não tinham como cobrir as despesas com alimentação para garantir uma dieta mínima de 2.000 calorias diárias.
Crise migratória sem precedentes
Atualmente, há aproximadamente 6,8 milhões de refugiados e migrantes venezuelanos espalhados pelo mundo. Esta crise migratória é uma das maiores da América Latina, com muitos desses indivíduos buscando segurança e melhores condições de vida fora da Venezuela devido à instabilidade política e econômica em seu país de origem.
Mesmo diante desses números desastrosos e da alarmante realidade social do país, Maduro foi reeleito em uma eleição controversa, não reconhecida pela oposição e por grande parte da comunidade internacional. Atualmente, a Venezuela enfrenta uma grave crise socioeconômica e política, com hiperinflação, escassez de produtos básicos, alta criminalidade e censura à imprensa. Desde essas eleições, a instabilidade política e econômica se intensificou, atingindo recentemente um pico de tensão, com ameaças de intervenção dos Estados Unidos e o movimento do líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, que se autodeclarou presidente interino da Venezuela.
Narcotráfico e corrupção
Além da crise socioeconômica, a Venezuela se transformou em um narco-estado, sendo uma das maiores exportadoras de cocaína para as FARC, Bolívia, cartéis de drogas mexicanos e do norte da África. Acredita-se que algumas das grandes lideranças venezuelanas estejam ou estiveram envolvidas com o narcotráfico, exacerbando a crise do país.
A “doença holandesa” e o futuro incerto
Especialistas apontam a “doença holandesa” como um dos fatores que contribuíram para a crise venezuelana. Esse fenômeno ocorre quando a abundância de recursos naturais leva à negligência de outros setores econômicos. A dependência quase total do petróleo deixou a economia venezuelana vulnerável e impediu o desenvolvimento de uma base industrial diversificada. Os governantes fracassaram em utilizar a riqueza petrolífera para promover um desenvolvimento sustentável e diversificado, perpetuando uma dependência prejudicial.
Conclusão
O colapso venezuelano ilustra como a má gestão, corrupção e falta de planejamento estratégico podem devastar uma nação rica em recursos naturais.
A crise atual é resultado de anos de políticas econômicas falhas e decisões políticas equivocadas. A reeleição de Maduro em 2024, novamente contestada pelo opositor de Maduro, o ex-embaixador Edmundo González, que diz ter vencido com 70% dos votos, destaca a contínua incerteza e polarização no país. A Venezuela enfrenta um futuro incerto, com a necessidade urgente de reformas profundas para superar a crise e reconstruir a nação.