Thiago Alberto Ortiz
thiago.ortiz@prof.unipar.br
Franciely S. Ponce
francielyponce@gmail.com
Silvia Graciele Hulse de Souza
silviahulse@prof.unipar.br
Engenheiros agrônomos, doutores em Agronomia e professores – UNIPAR (campus Umuarama-PR)
A agricultura tem sido considerada uma das principais atividades de desenvolvimento e, ao mesmo tempo, uma das promotoras dos impactos ambientais da atualidade. No sistema de manejo convencional, o solo é considerado somente como suporte físico para as plantas. Esse sistema se baseia no emprego de pacotes químicos.
Assim sendo, se faz necessário adotar práticas sustentáveis, a fim de valorizar os processos do solo quanto à manutenção de sua qualidade, tendo em vista que a sustentabilidade do uso dos recursos naturais é fundamental para que não ocorra a sua degradação.
Degradação do solo
A degradação do solo tem início quando se interfere na sua cobertura natural, eliminando-a simplesmente ou substituindo-a por outra cultura, com má condução do seu manejo.
O solo, desprovido de cobertura vegetal e da ação fixadora das raízes, exposto ao impacto direto da chuva ou da ação do vento, sofre desagregação e remoção de suas partículas. Este efeito é complementado pelo escoamento superficial das águas, ou pela abrasão das partículas transportadas pelo vento.
Devido ao desmatamento indiscriminado e o uso intensivo dos solos, sem o manejo adequado, a erosão se tornou muito comum em grande parte das propriedades rurais. Como consequência, houve prejuízo nos setores econômico e ambiental, com perda da parte fértil do solo, degradação do solo nas áreas de cultivo, assoreamento e poluição dos recursos hídricos, redução do potencial produtivo e da área agricultável, aumento da necessidade de fertilizantes e irrigação, destruição de estradas, entre outros.
Boas práticas agrícolas
O conceito consiste na aplicação do conhecimento disponível no uso sustentável dos recursos naturais básicos para a produção agrícola, buscando a viabilidade econômica e social e gerando produtos saudáveis, inócuos, isentos de contaminação e resíduos.
Basicamente, as “Boas Práticas Agrícolas” são fundamentadas na manutenção de 3 práticas principais: segurança alimentar, preservação do meio ambiente e responsabilidade social.
Para isto, é necessário desenvolver uma estratégia sólida e integral de gestão da produção e da propriedade, com capacidade de controle e monitoramento ao longo do processo de produção e beneficiamento e, quando necessário, de realizar ajustes no sistema (tecnologia, insumos, procedimentos etc.).
Assim, deve haver um planejamento integral da cadeia de produção, a partir da propriedade, passando pelo beneficiamento, armazenamento e industrialização. A rastreabilidade do produto é muito importante nesse processo.
No que diz respeito ao meio ambiente, as “Boas Práticas Agrícolas” consideram também a preservação da fauna e flora local, a manutenção e recuperação de áreas protegidas por lei, como corredores ecológicos, Áreas de Preservação Permanente (APP), áreas de Reserva Legal, etc.
Além disso, questão social enfocando principalmente as questões empregatícias é uma das principais diretrizes das “Boas Práticas Agrícolas”; garantindo a segurança e o bem-estar social dos trabalhadores e produtores rurais envolvidos.
Sustentabilidade
O conceito de sustentabilidade surge da modificação dos processos de globalização e revolução tecnológica em junção ao compromisso ético e social com o meio ambiente, de maneira que a preocupação com a responsabilidade social e ambiental se torna pré-requisito para se desenvolver qualquer atividade econômica.
A adoção de modelos de produção agroecológicos vem diferenciar a concepção atual de exploração dos recursos ambientais, buscando harmonizar os processos produtivos aos recursos naturais e humanos, atendendo às necessidades desta e das futuras gerações.
Ecossistema em equilíbrio
Desta forma, se faz necessário que produtores rurais percebam a importância de valorizar a saúde do agroecossistema, além da busca no restabelecimento das relações biológicas que podem ocorrer naturalmente na unidade produtiva.
Para isso, uma variedade de práticas de manejo pode ser utilizadas, como:
– Plantio em curva de nível, construção de terraços e cordões;
– Uso de implementos que não invertam a camada áravel e não pulverizem o solo;
– Cultivo mínimo e plantio direto;
– Cobertura vegetal;
– Adubação orgânica e adubação verde;
– Utilização de árvores como quebra-vento, sombreamento e ciclagem de nutrientes;
– Máquinas e implementos agrícolas leves e médios que evitem compactação do solo;
– Diversificação da exploração agrícola, rotação e consorciação de culturas;
– Reflorestamentos e, proteção e recuperação de nascentes;
– Uso de irrigação e drenagem adequadas e eficientes com água de boa qualidade;
– Uso de caixas-secas e barragens de contenção para retenção de água.
Café mais sustentável
No Brasil, ainda é pequena a produção de café sustentável. Em países mais desenvolvidos, a exemplo da França, o consumo desse produto chega a ultrapassar 20% do mercado, o que mostra grande crescimento, não só para quem vende para o mercado interno, mas também para o mercado externo.
De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), a principal condição para que a produção de café seja considerada sustentável é a existência de boas condições de trabalho em todas as etapas do processo produtivo, considerando as conformidades das técnicas utilizadas, bem como respeito às normas de segurança e garantias dos trabalhadores, além do efetivo monitoramento da geração de resíduos e implementação de alternativas para redução dos impactos ambientais.
A questão social dentro da produção de café diz respeito às melhores condições de trabalho possíveis, como o combate ao trabalho infantil, a capacitação dos trabalhadores da lavoura, a regularização da situação dos trabalhadores em relação às leis trabalhistas e o cumprimento de normas de segurança vigentes.
A dimensão ambiental diz respeito ao uso de práticas e métodos que visam preservar recursos hídricos, à manutenção da biodiversidade e da qualidade do ar, como exemplo o controle do uso de agrotóxicos e de fertilizantes e ainda ao reaproveitamento dos resíduos gerados na produção.
Uma das principais vantagens da produção de café sustentável está na possibilidade de obter uma certificação que melhora a visibilidade do produto, sendo que a aplicação de “Boas Práticas Agrícolas” reduz o desperdício e melhora a gestão da propriedade produtora. Desta forma, se faz necessário conhecer algumas práticas que contribuem para a efetivação da produção de café por meio de práticas sustentáveis.
Práticas conservacionistas
Para a conservação do solo e da água por meio do manejo, recomendam-se práticas conservacionistas fundamentadas em três princípios básicos:
– Aumento da cobertura vegetal: reduz a desagregação e transporte de partículas do solo;
– Aumento da infiltração de água no solo: reduz o escoamento superficial e as perdas de água e de solo;
– Formação de barreiras e rugosidade no terreno: reduz a velocidade e o volume do escoamento superficial e retém os sedimentos movimentados pela erosão.
Plantio em nível
O plantio em curvas de nível, conhecido também como plantio em contorno, consiste na produção ordenada por meio de linhas com diferentes altitudes do terreno; para terrenos com inclinação de até 5%.
Esta prática promove a conservação do solo via redução dos processos erosivos, contribui para a redução do escoamento da água da chuva, aumentado o tempo de concentração, permitindo que se infiltre mais facilmente no solo e evite carreamento de partículas de solo.
Além disso, ajuda a conservar os nutrientes do solo, que são indispensáveis para a sustentabilidade da lavoura.
Terraceamento
A erosão hídrica do solo é o resultado da interação de fatores, como potencial erosivo da chuva, suscetibilidade do solo à erosão, declividade do terreno, manejo do solo e de restos culturais, além de práticas conservacionistas complementares.
Trata-se de uma prática que combate à erosão, baseada na implantação de terraços que objetivam controlar o volume do escoamento superficial das águas da chuva. Essa é uma prática que deve ser associada a outras práticas de manejo do solo, tais como cobertura do solo com palhada, calagem e adubação equilibrada, rotação de cultura com plantas de cobertura e cultivo em nível.
Essa associação de práticas compõe o planejamento conservacionista da lavoura de café.
Adubação verde
A técnica de adubação verde é utilizada para a melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo. O uso da adubação verde é uma boa opção para melhorar a parte nutricional do cafeeiro, contribuindo para:
– Redução do custo de produção;
– Promoção da cobertura de solo: reduz o risco de erosão, estimula a atividade microbiana, reduz a temperatura e conserva a umidade do solo;
– Melhora da estrutura do solo: aumentando a matéria orgânica;
– Aumento do teor de nutrientes: fornecimento de nitrogênio para as plantas via simbiose com algumas bactérias e na ciclagem de nutrientes;
– Melhora da estrutura física, química e biológica do solo: aumento da porosidade, estruturação e fertilidade, assim como a retenção de água e a microbiota do solo, diminuindo as perdas causadas por erosão.
Para essa prática, o uso de leguminosas tem sido recomendado, em razão de utilizar da associação de bactérias fixadoras de nitrogênio e estimular a população de fungos micorrízicos, aumentando, assim, a absorção de água e nutrientes pelas raízes.
Vantagens
A disponibilidade de várias espécies de plantas de cobertura, adaptadas às distintas condições edafoclimáticas, colaboram com a manutenção da biodiversidade e a diversificação de produtos agrícolas, com a redução dos custos, dos riscos ambientais e econômicos e, com a manutenção efetiva da sustentabilidade.
As leguminosas são recomendadas para consórcio pelo potencial de adicionar nitrogênio, o que é fundamental para o “sequestro” de carbono no solo. Por meio da fixação biológica e mineralização dos resíduos vegetais, contribuem quantitativa e qualitativamente com a matéria orgânica do solo.
Além de incrementar o nitrogênio, carbono, matéria orgânica e realizar o controle de plantas daninhas, o uso de plantas de coberturas resulta em outros benefícios, como maior diversidade de espécies vegetais, maior retenção e infiltração de água no solo, maior controle de erosão hídrica, menor assoreamento de mananciais hídricos, associação com fungos micorrízicos, o que incrementa a absorção de fósforo, maior eficiência na ciclagem de nutrientes, menor dependência de insumos externos, principalmente fertilizantes, menor uso de combustíveis fósseis e, menor risco de contaminação ambiental.
Cuidados
Para consorciar leguminosas com o cafeeiro, se exige dessas espécies crescimento lento para não ocorrer competição por luz, tolerância aos estresses hídrico e nutricional para minimizar a competição, não apresentar susceptibilidade às mesmas pragas e doenças do café, ser de fácil manejo e ter ciclo de vida mais longo.
Além disso, tal prática contribui para a atração de insetos que realizam o controle biológico, além de beneficiar a ocorrência de inimigos naturais que combatem pragas e doenças. A palhada tem o papel de inibir a crescimento das plantas daninhas, nas linhas do café, diminuindo a taxa de germinação do banco de sementes presente no solo.