Alisson André Vicente Campos
Engenheiro agrônomo, doutorando em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) e coordenador de Pesquisa – Fronterra
alissonavcampos@yahoo.com.br
Laís Sousa Resende
Engenheira agrônoma, doutoranda em Fitotecnia (ESALQ) e pesquisadora Rehagro
sialresende@gmail.com
O manejo das plantas de cobertura nas entrelinhas das lavouras cafeeiras começa após a prática de roçadas, quando a palhada (biomassa) é aplicada ao redor dos pés de café, a conhecida “adubação verde”.
Essa ação contribui com a redução da temperatura do solo, favorecendo a retenção da umidade e menor necessidade de irrigação, gera matéria orgânica e nutrição para as plantas, diminuindo o uso de fertilizantes químicos.
Manejo das plantas de cobertura
As plantas de cobertura estão consolidadas na cafeicultura, sendo que as plantas do gênero mais utilizadas são as Urochloa (Brachiaria). Sua principal característica é a alta produção de biomassa, fácil manejo de corte, capacidade de supressão de plantas daninhas pela rápida cobertura do solo e rebrotas após o corte.
Porém, este sistema vem se tornando mais complexo, com adoção de mais espécies de plantas de diferentes famílias de plantas, formando um mix integrando plantas que promovem descompactação do solo, adubação verde, atraem insetos polinizadores e não reproduzam nematoides.
O mix de plantas de cobertura é muito específico com o problema que a lavoura apresenta, além da sua sazonalidade, devendo ser recomendado com plantas de inverno ou verão.
Principais benefícios
A utilização de plantas de cobertura pode trazer diversos benefícios, como: manutenção da umidade e temperatura do solo, incremento de matéria orgânica do solo, maior diversidade de microrganismos benéficos no solo como as enzimas betaglicosidade e arilsulfatase; reciclagem de nutrientes; proteção do solo contra erosão; supressão de plantas daninhas; plantas resistentes a multiplicação de nematoides; auxiliar a infiltração da água do solo por bioporos após o corte das plantas de cobertura; descompactação do solo.
Desenvolvimento das plantas de café
A adubação verde auxilia na nutrição das plantas após a mineralização da palhada, fornecendo nutrientes por período mais prolongado do que a aplicação de fertilizantes convencionais.
Entretanto, deve-se ter cuidado para que não falte nutrientes em determinados momentos, devendo mesclar as fontes. Um ganho interessante para a lavoura é a menor acidificação do solo por fontes tradicionais de N, como a ureia.
A fonte de fertilizantes também pode influenciar na qualidade de bebida, visto que fertilizantes potássicos com cloro, como o cloreto de potássio, podem reduzir a qualidade de bebida comparativamente com outras fontes.
Necessidade de irrigação
A cobertura do solo é um importante fator para reduzir a amplitude térmica que prejudica o sistema radicular do cafeeiro. A temperatura pode afetar processos fisiológicos importantes como permeabilidade das membranas plasmáticas, velocidade das reações químicas e em casos extremos chegar a desnaturar as proteínas.
As temperaturas menos elevadas favorecem o acúmulo de matéria orgânica e atividade microbiana no solo, além da umidade do solo correlacionar-se diretamente com a temperatura.
Assim, a umidade do solo está ligada diretamente à produtividade, por promover o enchimento dos frutos nas fases fenológicas estratégicas do cafeeiro, como a expansão rápida e granação.
A palhada no solo protege a água de evaporar, mantendo o solo mais próximo do potencial hídrico adequado para o cafeeiro, podendo amenizar um pouco a irrigação. A própria matéria orgânica presente no solo pode atuar de forma similar a um condicionador de solo, aumentando a capacidade de retenção de água.
Geração de matéria orgânica
A matéria orgânica oriunda da palhada pode contribuir com a reciclagem de nutrientes após a sua mineralização. Os teores nutricionais são dependentes da espécie da planta de cobertura.
As gramíneas apresentam maior relação C:N. Dessa forma, tem maior período residual da sua palhada, demandando mais tempo para fornecer nutrientes do que plantas leguminosas, que são ricas principalmente em N e possuem baixa relação C:N.
Os teores de matéria orgânica no solo também influenciam na adubação nitrogenada, devendo ser considerados juntamente com a análise foliar.
Redução do uso de químicos
A escolha da planta de cobertura para composição do mix de plantas pode favorecer a redução da utilização de fertilizantes. O uso de Crotalaria juncea tem potencial de incorporação superior a 300 kg ha-1 de N.
Porém, há algumas perdas nesse processo, devendo-se ter cautela para abrir mão da nutrição com fertilizantes convencionais, porém, pode reduzir as quantidades. O trigo mourisco é uma planta de cobertura que estimula a atividade de fungos micorrízicos, que se associam com o sistema radicular do cafeeiro e podem promover aumento da área de contato das raízes, elevando a eficácia na absorção de fósforo, que é absorvido por interceptação radicular.
Cafeicultura regenerativa
O uso das plantas de cobertura promove uma série de benefícios listados anteriormente, que quando contabilizados pode-se associar a uma cafeicultura regenerativa com maior incidência de insetos polinizadores, além do pólen das plantas também ser alimento para o adulto da Chrisoperla externa, importante predador do bicho-mineiro.
Além disso, a longevidade da lavoura é favorecida por um solo mais rico em microrganismos, umidade, temperaturas adequadas e reciclagem de nutrientes. É importante que a utilização dos mixes seja dimensionada com a realidade da fazenda, escolhendo as plantas que melhor se adaptem ao clima da região.