A previsão de El Niño nesta safra significa atenção redobrada com a ferrugem asiática. O clima úmido favorece a proliferação da doença. Ou seja, o tempo chuvoso, que é favorável para a soja, também é bom para a ferrugem
Após um início de safra de soja 2015/16 bastante chuvoso no Sul do País, os casos de ferrugem asiática, uma doença fúngica que ataca as plantas em condições úmidas, já são duas vezes mais numerosos que no ano passado. Os relatos da ferrugem desde o início de julho até final de novembro totalizam 66 no Brasil, sendo 29 no Rio Grande do Sul e 17 no Paraná, segundo o Consórcio Antiferrugem, uma parceria público-privada criada há mais de uma década para monitorar a presença da doença.
A ferrugem já causou enormes prejuízos ao setor produtivo da soja nos momentos em que não foi combatida adequadamente.
Em 2015
Nesse ano, devido às condições climáticas estarem favoráveis à ocorrência a ferrugem, principalmente na região sul do Brasil, com excesso de chuvas e ausência de geadas no inverno, já foram encontradas algumas sojas tigueras com ferrugem asiática, comprovando que a doença já está presente na região, especialmente de Guarapuava.
Segundo Heraldo Rosa Feksa, pesquisador da Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária, o produtor está plantando a safra agora, depois da colheita do trigo e da cevada, de forma um tanto ‘forçada’, pois não para de chover. “Acreditamos que a ferrugem vai entrar mais cedo, e que, portanto, os problemas serão severos em 2015, até mais do que em 2014“, prevê.
Se a situação se comprovar, alguns problemas futuros surgirão, os quais dependem de controle. “Se o produtor demorar demais a fazer o seu manejo químico, ele poderá ter problemas de potencial produtivo no final. Mas, os produtos químicos utilizados hoje visando o controle da ferrugem, de forma geral estão deixando a desejar“, lamenta Heraldo Feksa.
De acordo com ele, o ideal é usar produtos protetores, adicionando fungicidas protetores junto com os sistêmicos visando uma melhor performance no controle da ferrugem asiática.
Ainda sem previsão
As áreas do Paraná que já plantaram soja ainda não apresentaram o ataque da ferrugem. Entretanto, o pesquisador diz que não é possível ainda prever a infestação, pois muitos produtores estão no meio do plantio. “Acreditamos que o foco da doença comece em meados de dezembro e prossiga mais à frente. O produtor tem que ficar atento porque para o próximo ano a doença virá bem mais severa“, alerta ele, principalmente se referindo ao Paraná e à região sudoeste.
Clima x ferrugem
A fase reprodutiva da soja começa com 45 dias e os inimigos da planta neste momento devem ser monitorados. As regiões que primeiro plantam são as que começam a apresentar os problemas mais cedo. Isso porque a umidade na planta associada à alta temperatura é determinante para que ocorra a evolução da ferrugem.
Para agravar a situação, os produtos mais utilizados ao longo dos anos tendem a perder a performance devido à adaptação do patógeno. “Está aà a importância de usar os protetores, que atuam em vários sÃtios.O produto mutisÃtio não desenvolve resistência, diferente de um triazolee de uma estrobilurina, que atuam em apenas determinado sÃtio de ação do fungo. Já com os fungicidas protetores dificilmente o patógeno desenvolve a resistência“, esclarece Heraldo Feksa.
Portanto, a alternativa que resta ao produtor é, no início da cultura, trabalhar com produtos protetores ou à base de estrobirulinas e carboxamidas.
Novidades
Existem, atualmente,novidades em produtos com triazol, estrobirulinas e carboxamidas, os quais apresentam uma ação bem mais efetiva sobre a ferrugem, comparado com a mistura de apenas triazol com estrobirulina.
 Outra ferramenta igualmente importante são os materiais genéticos tolerantes à ferrugem. “Nesses materiais ocorre a ferrugem, mas em um grau muito baixo, que não chega a trazer prejuízos significativos. Utilizando esse tipo material genético de soja com tolerância à ferrugem, o produtor vai gastar menos com produtos químicos, além de poluir menos o meio ambiente“, argumenta Heraldo Feksa.
Prevenir é sempre melhor
Se o El Niñose confirmar até abril de 2016, o produtor terá dificuldade para controlar a ferrugem na soja. Por isso, o pesquisador ressalta que o produtor deve investir em uma genética adequada para essa realidade.
“É importante que os profissionais do setor agrícola estejam atentos para aliar genética, fungicida triazol, estrobirulina e protetores, ou carboxamidas com estrobirulina mais protetores. O importante é aliar compostos químicos que mostrem ações diferenciadas, para fazer um bom controle, ou seja, genética, época de semeadura e comportamento dos fungicidas. Em conjunto, essas técnicas devem conter perdas de potencial produtivo à lavoura“, recomenda o pesquisador.