Dhyene Rayne dos Santos Becker
Engenheira agrônoma e mestra em Biodiversidade e Conservação – Universidade Federal do Pará (UFPA)
drayneagro@gmail.com
Uma das formas mais eficazes de utilizar a biotecnologia no cultivo do café é por meio da produção de mudas resistentes a doenças e pragas. A ferramenta consiste na transformação genética das mudas, permitindo a resistência a doenças e pragas e reduzindo a necessidade de uso dos agrotóxicos.
A biotecnologia aplicada ao cafeeiro, por meio de marcadores moleculares, técnicas de culturas de tecidos vegetais e transformações genéticas, tem se revelado uma importante ferramenta dos programas de melhoramento, auxiliando na manutenção e conservação de germoplasma utilizado para criação de novas cultivares.
A biotecnologia desempenha um papel importante na produção de mudas de café resistentes a pragas e doenças, principalmente por técnicas de modificações genéticas e biologia molecular, de forma a se reduzir a necessidade de uso de agrotóxicos, proporcionando aumento de rendimento e qualidade dos grãos.
No geral, a biotecnologia desempenha um papel crucial na produção de mudas de café resistentes a doenças e pragas, permitindo aos agricultores cultivar de forma mais sustentável e garantindo a segurança e qualidade dos grãos de café.
Melhorias genéticas
As mudas de café podem ser modificadas geneticamente para resistir a várias doenças e pragas que afetam a cultura, como uma das principais devastadoras para as plantações de café no país, a ferrugem (Hemileia vastatrix), além do mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum), nematoides e insetos-pragas, como broca-do-café (Hypothenemus hampei), ácaro vermelho (Oligonychus ilicis) e outros.
As técnicas de modificação genética têm o potencial de melhorar a resistência das plantas de café a uma ampla gama de ameaças, ajudando a garantir uma produção mais sustentável e estável.
O uso de mudas geneticamente modificadas (GM) de café em comparação com mudas tradicionais pode oferecer uma série de benefícios, tanto para os produtores quanto para o meio ambiente, como maior resistência a pragas e doenças, que podem reduzir a necessidade de fungicidas e pesticidas.
Além disso, há redução de custos de produção, aumento da produtividade, adaptação a condições climáticas (com resistência a condições climáticas adversas, como secas/chuva prolongadas, temperaturas extremas) e melhora na qualidade de produtos finais (aroma, sabor ou resistência à oxidação).
Sustentabilidade agrícola
Com os benefícios citados, chegamos ao ponto crucial, a sustentabilidade agrícola, visto que a redução da necessidade de agroquímicos e o aumento da resistência das plantas, as mudas geneticamente modificadas podem contribuir para uma agricultura mais sustentável a longo prazo, com menos impacto negativo sobre o meio ambiente e maior resiliência às mudanças climáticas.
Embora a biotecnologia ofereça várias vantagens na produção de mudas de café resistentes a doenças e pragas, sua implementação também enfrenta uma série de desafios, como regulamentação de cultivos geneticamente modificados, aceitação pública, visto que algumas pessoas ainda têm preocupações sobre os impactos potenciais para a saúde humana, o meio ambiente ou a diversidade genética das plantações.
Entraves
Outro ponto é quanto aos custos e acessos às mudas geneticamente modificadas, em que os custos associados podem ser significativos. Isso pode limitar o acesso a essas tecnologias para pequenos produtores ou países com recursos limitados.
Além disso, a transferência de genes indesejados pode resultar em efeitos não intencionais sobre as características das plantas ou na introdução de novos problemas de saúde ou ambientais.
Relacionado a esse ponto, ainda se tem a resistência, em que o uso extensivo de variedades transgênicas resistentes a doenças e pragas pode levar ao desenvolvimento de resistência por parte dos patógenos ou pragas-alvo. É necessário implementar estratégias de manejo integrado para minimizar esse risco.
Atrelado a isso, ainda existem preocupações em relação à segurança alimentar e ambiental associadas à utilização de mudas geneticamente modificadas, como possíveis efeitos adversos para a saúde humana decorrentes do consumo de alimentos derivados de plantas GM.
É importante abordar essas preocupações de forma transparente e baseada em evidências, garantindo que a utilização de mudas geneticamente modificadas seja realizada de maneira responsável e sustentável, com avaliação contínua dos riscos e benefícios envolvidos.
O futuro
A perspectiva para o futuro da biotecnologia na produção de café é bastante promissora e pode ter um impacto significativo no mercado global de café, como várias vantagens citadas acima.
Com isso, é importante reconhecer que a adoção de tecnologias biotecnológicas na produção de café também enfrentará desafios, incluindo questões regulatórias, preocupações com segurança e aceitação pública.
No entanto, é fundamental garantir que os benefícios da biotecnologia sejam distribuídos de forma justa e equitativa em toda a cadeia de valor do café. Superar esses desafios exigirá uma abordagem integrada que leve em consideração questões éticas, sociais, econômicas e ambientais, além de promover o diálogo aberto e transparente entre os diferentes interessados.