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Inoculação de sementes de milho: nova tendência no plantio e manejo

Estudos indicam que a inoculação com Azospirillum brasilense resulta em aumentos de 10% na produtividade do milho, além da redução em 20% da aplicação de nitrogênio.

Rodrigo da Silveira Campos
Engenheiro agrônomo, mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos e pesquisador – Embrapa Agroindústria de Alimentos
rodrigo.silveira@embrapa.br

O milho, uma das culturas mais importantes para o agronegócio brasileiro, desempenha papel importante na economia e segurança alimentar do país. No entanto, sua produção enfrenta desafios significativos, como a dependência de fertilizantes químicos, que além de onerosos, podem causar impactos ambientais adversos, como a poluição do solo e dos recursos hídricos.

A inoculação de sementes, que consiste na aplicação de microrganismos benéficos, como bactérias e fungos nas sementes antes do plantio, surge como uma resposta promissora aos desafios da agricultura intensiva, estabelecendo uma relação simbiótica com as plantas e auxiliando na absorção de nutrientes essenciais do solo.

Assim, promove um maior desenvolvimento da planta. Essa simbiose representa uma relação de benefício mútuo, em que as plantas recebem nutrientes que impulsionam seu crescimento, enquanto os microrganismos obtêm nutrientes e um ambiente propício para sua sobrevivência (a conhecida Fixação Biológica de Nitrogênio – FBN).

Para o milho

No contexto da cultura do milho, a inoculação de sementes com microrganismos benéficos tem se destacado como uma prática inovadora, com grande potencial para otimizar o desempenho da cultura, especialmente no cenário agrícola brasileiro.

Atualmente, a técnica utiliza principalmente bactérias promotoras de crescimento de plantas (PGPRs), como as espécies dos gêneros Azospirillum e Bacillus. Elas colonizam as raízes, promovendo o desenvolvimento da cultura por meio da fixação biológica de nitrogênio (FBN), da produção de substâncias que estimulam o crescimento vegetal e do aumento da resistência a estresses, contribuindo significativamente para o aumento da produtividade.

Embora ainda não seja uma prática amplamente difundida no mercado brasileiro, pesquisas com fungos micorrízicos arbusculares (FMAs), como os dos gêneros Glomus, Acaulospora, Gigaspora e Scutellospora, para a cultura do milho tem apresentado resultados promissores, com potencial para ampliar ainda mais os benefícios da inoculação de sementes.

Esses fungos estabelecem uma associação simbiótica com as raízes, auxiliando na absorção de nutrientes, especialmente fósforo, e aumentando a tolerância das plantas a estresses hídricos e doenças.

A expectativa é que, em breve, a inoculação com FMAs também se torne uma ferramenta importante para o manejo sustentável da cultura do milho, consolidando o papel da inoculação como uma técnica comum e necessária, assim como ocorreu com a soja.

Vale destacar o pioneirismo da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) no desenvolvimento e adaptação dessas tecnologias para diversas culturas, incluindo o milho, cereais, grãos e forrageiras.

Pesquisas inovadoras

Diversos estudos têm demonstrado que a inoculação de sementes de milho com esses microrganismos pode levar a aumentos significativos na produtividade. Esses microrganismos não apenas melhoram a absorção de nutrientes e o crescimento radicular, mas também otimizam a resistência das plantas a estresses ambientais, como seca e doenças.

Além disso, a prática contribui para a sustentabilidade agrícola, ao reduzir a necessidade de fertilizantes químicos. Por exemplo, bactérias como o Azospirillum brasilense podem suprir parte da necessidade de nitrogênio das plantas, diminuindo a quantidade de fertilizantes nitrogenados aplicados.

Outro benefício importante é a melhoria da fertilidade do solo. A introdução de microrganismos benéficos pode melhorar a estrutura e fertilidade do solo e promover a biodiversidade microbiana, essencial para a qualidade do solo a longo prazo. Essa prática é viável tanto para a agricultura orgânica quanto para a convencional, oferecendo uma alternativa sustentável e eficiente para os agricultores.

Além dos benefícios para a produtividade, a inoculação de sementes de milho com microrganismos como o Azospirillum brasilense e o Bacillus spp. contribui significativamente para a mitigação dos impactos ambientais da agricultura.

A fixação biológica de nitrogênio e a solubilização de fósforo reduzem a necessidade de fertilizantes químicos, minimizando problemas como a contaminação das águas e a eutrofização. Ademais, a redução na dependência de fertilizantes fosfatados, cuja produção é ambientalmente impactante, torna a produção mais sustentável e economicamente viável.

Benefícios sem fim

O uso de microrganismos benéficos na agricultura vai além do aumento da produtividade. Eles desempenham um papel crucial na preservação ambiental, promovendo um sistema agrícola mais limpo e sustentável.

Ao otimizar a absorção de nutrientes, microrganismos como o Azospirillum brasilense e o Bacillus aryabhattai reduzem a necessidade de fertilizantes químicos, minimizando uso de insumos que podem causar impactos negativos ao meio ambiente quando não manejados corretamente.

A promoção da biodiversidade microbiana no solo, por sua vez, melhora sua estrutura e capacidade de retenção de água, contribuindo para o aumento dos níveis de matéria orgânica e um manejo mais moderno e sustentável.

Cuidados

Ao utilizar microrganismos ou bioinsumos que possuem efeitos hormonais, como o Azospirillum brasilense, que produz auxinas, é importante tomar alguns cuidados. As auxinas, um tipo de hormônio vegetal, quando aplicadas em excesso, podem ter efeitos contrários ao desejado, prejudicando o crescimento das plantas.

Portanto, é essencial seguir as recomendações dos fabricantes e dos consultores agronômicos para garantir a dosagem correta e segura desses produtos. Outro ponto crucial é que cada um desses microrganismos é fornecido por empresas diferentes, que possuem formulações e concentrações distintas.

As concentrações de microrganismos são geralmente medidas em unidades formadoras de colônia (UFC). Por isso, é fundamental que os agricultores estejam bem-informados sobre a concentração e a formulação do produto que estão adquirindo, para garantir a eficácia e a segurança na aplicação, como também o custo-benefício do produto a ser usado.

É sempre importante buscar a orientação de um técnico ou engenheiro agrônomo, que possa fornecer recomendações precisas e acompanhar todo o processo de aplicação.

Opções disponíveis

Os inoculantes podem ser encontrados em três formas principais: líquido, turfoso e liofilizado (pó). É importante que os agricultores verifiquem se estão adquirindo produtos com uma mistura de microrganismos mais especializados para a recuperação e melhoria do solo ou produtos com microrganismos selecionados especificamente para atuarem como inoculantes.

Essa escolha pode influenciar diretamente a eficácia do produto e os benefícios proporcionados às culturas. Conciliar a inoculação com o uso de bioinsumos com uma grande variedade de microrganismos (muito comuns no mercado) proporciona resultados muito promissores e são uma alternativa cada mais utilizada.

Viabilidade

A inoculação de sementes de milho é uma técnica acessível tanto para grandes quanto para pequenos agricultores. Grandes produtores podem se beneficiar da redução nos custos com fertilizantes e do aumento de produtividade, enquanto os pequenos podem aproveitar a melhoria na qualidade do solo e resistência das plantas a doenças, permitindo uma produção mais sustentável e econômica.

São ideais, por exemplo, para plantios orgânicos. Portanto, a inoculação de sementes pode trazer benefícios significativos e contribuir para a sustentabilidade agrícola, independentemente do tamanho da propriedade.

Atenção!

Embora a inoculação de sementes de milho ofereça muitos benefícios, ela também apresenta alguns desafios. A eficácia da técnica depende da escolha dos microrganismos adequados para as condições específicas de solo e clima.

Nem todos os microrganismos são eficazes em todas as situações, e a seleção errada pode resultar em pouca ou nenhuma melhoria na produtividade. Além disso, é crucial que os microrganismos inoculantes permaneçam viáveis até o momento da aplicação e durante o período crítico de estabelecimento das plantas. Seguir as recomendações técnicas dos fabricantes e de profissionais da área é imprescindível.

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