Paula Almeida Nascimento
Engenheira agrônoma e doutora em Fitotecnia/Produção Vegetal – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
paula.alna@yahoo.com.br
O Brasil é considerado mundialmente um dos maiores produtores e exportadores de algodão, uma cultura de extrema importância socioeconômica. Sua pluma é considerada a matéria-prima principal da cotonicultura, de onde vem 25% da fibra que abastece a indústria têxtil não só no Brasil, mas no mundo inteiro.
Além disso, as sementes do algodão também acumulam óleos e proteínas que são encontrados na indústria de alimentos e rações. O óleo do caroço do algodão também é utilizado para a produção de biodiesel.
Em números
Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), os maiores produtores de algodão são Brasil, Estados Unidos, Índia, China e Paquistão. A China é o principal comprador do algodão brasileiro, importando mais de 2,0 milhões de toneladas/ano.
Além da China, o Vietnã, Paquistão, Bangladesh, Turquia e Indonésia também importam pluma brasileira. Em relação à abertura de mercados internacionais, em 2019 o Brasil começou a exportar farelo de algodão para a China; em 2021, sementes de algodão para a Colômbia; e algodão em pluma para o Egito, em janeiro de 2023.
Tecnologias
Novas tecnologias no manejo da cultura contribuem para aumentar a produtividade e a exportação do algodão no mercado internacional. As vantagens do Brasil nesta atividade são as extensas áreas plantadas, manejo fitossanitário adequado, clima favorável, recursos hídricos, tecnologia de produção e investimento em pesquisas (melhoramento genético).
Algodão colorido
Os estados brasileiros produtores de algodão colorido são Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Piauí, Paraíba, Alagoas, Sergipe e Mato Grosso do Sul.
O algodão colorido é muito importante na agricultura, porque suas fibras já nascem com cor, não há necessidade de se tingir os fios do algodão, ou seja, sem uso de corantes, e não passa pelos processos químicos de branqueamento e tingimento, gerando um produto final mais amigável ao meio ambiente e com possibilidade de uso por consumidores alérgicos.
Além disso, o cultivo de algodão colorido reduz o impacto ambiental do processo têxtil, pois dispensa o uso de corantes, e economiza cerca de 80% no consumo de água na produção do tecido.
O processo de confecção de roupas utilizando o algodão comum passa pelo processo de tingimento, ou seja, na indústria têxtil são adicionados os corantes químicos ao algodão branco. Já o algodão colorido não precisa passar por isso, já que é natural.
Assim, é vantajoso cultivar o algodão colorido, por ser um produto menos poluente, mais ecológico, com qualidade e não usa tingimento químico altamente poluidor e prejudicial de tecidos e fios usados no algodão branco tradicional.
Qualidade em jogo
A Abrapa, juntamente como Ministério da Agricultura (MAPA), realizam o programa de qualidade do algodão brasileiro, que consiste em certificação dos laboratórios de avaliação de pluma e das usinas de beneficiamento de algodão, com o objetivo de certificar o algodão brasileiro.
O programa de certificação traz credibilidade quanto às informações das características do material do algodão produzido para mercado nacional e internacional.
Desta forma, a Embrapa possui um banco de germoplasma e, por meio de várias variedades de algodão colorido, iniciaram os melhoramentos genéticos para desenvolverem algodões mais resistentes e adequados aos mais modernos e exigentes processos têxteis.
De acordo com a Embrapa Algodão, as áreas do semiárido do nordeste brasileiro possuem condições edafoclimáticas favoráveis, e nas propriedades rurais encontram-se agricultores que possuem mão de obra familiar como fonte de trabalho, evitando, nestas regiões nordestinas, o êxodo rural.
Demanda
Vale destacar que a comercialização do algodão colorido trouxe vários benefícios socioeconômicos para agricultura familiar da região semiárida: produzir sementes básicas das cultivares coloridas, transferir a tecnologia da produção para produtores líderes, produzir fibras para confecção, levar condições de emprego e renda para os produtores e a mão de obra agregada com o seu cultivo.
Assim, o cultivo do algodão é uma tecnologia social em apreço, tendo se inserido como mais uma opção de renda e de trabalho.
O algodão colorido produzido na região nordeste conquista mercado internacional de moda. A matéria-prima alcançou o status de peças de luxo em feiras internacionais. As coleções são exportadas para a França, Itália, Espanha, Alemanha, Japão e Estados Unidos.
O algodão brasileiro produzido no semiárido já esteve presente, inclusive, na feira de “Luxo Sustentável”, em Paris.
Pesquisas
Depois de vários anos de pesquisa, a Embrapa Algodão obteve variedades de pluma colorida aptas a serem utilizadas na indústria têxtil. Foram lançadas cinco variedades em tonalidades que vão do verde-claro aos tons marrons claro, escuro e avermelhado.
Todas as variedades lançadas foram obtidas do melhoramento genético convencional, cruzando-se plantas de algodão entre si. Desta forma, pesquisadores brasileiros conseguiram divulgar as seguintes variedades (cultivares) de algodão colorido: BRS 200 Marrom, BRS Verde, BRS Rubi, BRS Safira e BRS Topázio.
Os pesquisadores brasileiros realizaram melhoramento genético do algodão colorido com a finalidade de aumentar a sua resistência e o comprimento de suas fibras.
Tendências
A produção e comercialização de algodão são uma tendência de crescimento no Brasil ao longo dos anos, porque os países europeus não possuem clima propício para plantio de algodão e importam a matéria-prima brasileira.
A cadeia produtiva do algodão envolve produtores rurais no campo, tecelagens, confecções e indústrias de moda e decoração. A intenção dos produtores é ampliar a produção para atender novos mercados.
Grandes marcas de vestuários nacionais e internacionais têm procurado o algodão colorido orgânico, a fim de desenvolver linhas sustentáveis.