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Boro: peça-chave na gestão nutricional da soja

Fabio Olivieri de Nobile
Doutor e professor – Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB)
fabio.nobile@unifeb.edu.br

A soja desempenha um papel fundamental no setor agrícola e em escala global, sendo essencial para a alimentação humana, para a produção de alimentos para animais e como matéria-prima em diversos processos industriais.

Para garantir níveis elevados de produtividade e qualidade, é crucial realizar uma gestão nutricional adequada dessa cultura. Nesse sentido, o boro se destaca como um micronutriente crucial no desenvolvimento da soja, participando de processos vitais como a formação das paredes celulares, no transporte de açúcares e no metabolismo dos ácidos nucleicos.

Micronutriente essencial

O boro (B) é um micronutriente essencial para a nutrição das plantas, desempenhando várias funções cruciais no desenvolvimento da soja. Entre seus papéis principais estão a formação e manutenção das paredes celulares, onde atua na ligação entre moléculas de pectina.

Essa função é essencial para a integridade estrutural das células vegetais, influenciando a resistência das plantas a estresses mecânicos e patógenos. O boro também facilita a translocação de açúcares e outros nutrientes na planta, o que é vital para o crescimento e desenvolvimento, especialmente nos tecidos em rápida expansão, como as raízes, flores e vagens.

Ele também participa do metabolismo dos carboidratos, promovendo a produção de energia necessária para o desenvolvimento das plantas.

Para a soja

Na soja, o boro é particularmente importante para o desenvolvimento das flores e frutos, estando envolvido na fertilidade do pólen e na formação das vagens, sendo crucial para a polinização e frutificação. O boro influencia o processo de divisão e alongamento celular, especialmente nas raízes e nas partes jovens da planta. Isso afeta o crescimento vegetativo e o estabelecimento inicial da cultura, impactando diretamente o vigor das plantas.

Na dose certa

A disponibilidade adequada de boro no solo é essencial para maximizar a produtividade da soja. A deficiência desse micronutriente pode levar a sintomas como a má formação de vagens, baixo número de grãos por planta, deformações nas folhas e menor resistência a doenças. Isso resulta em uma menor produção de biomassa e, consequentemente, em uma redução significativa na produtividade final da cultura.

Por outro lado, a aplicação balanceada de boro pode melhorar o desenvolvimento das plantas, otimizar a formação de vagens e aumentar a eficiência reprodutiva, promovendo um aumento no rendimento. Fica claro que o manejo correto do boro, por meio de adubações e práticas agronômicas, é crucial para garantir altos níveis de produtividade na cultura da soja.

Vários fatores podem influenciar a eficiência e disponibilidade de boro, como a textura do solo, a matéria orgânica, o pH, e as condições de umidade. Caracterizar a disponibilidade desse micronutriente é essencial para um manejo adequado da fertilidade do solo, visando garantir o suprimento necessário às culturas, como a soja.

Atenção aos detalhes

Solos arenosos tendem a ter menor capacidade de retenção de boro, devido à baixa capacidade de troca catiônica e menor teor de matéria orgânica, por outro lado, solos argilosos e com maior teor de matéria orgânica têm maior capacidade de retenção e, consequentemente, uma maior disponibilidade de boro.

O pH é um fator crítico para a disponibilidade de boro. Em solos com pH muito alto (acima de 6 em cloreto de cálcio), este elemento pode se tornar menos disponível devido à precipitação e formação de compostos insolúveis, enquanto em solos muito ácidos, a lixiviação pode ser maior, especialmente nos arenosos.

A matéria orgânica no perfil pode atuar como uma fonte de boro, à medida que este é liberado durante o processo de decomposição. Já os solos com alto teor de matéria orgânica geralmente têm maior disponibilidade de boro.

A umidade influencia a mobilidade do elemento no solo. Em condições de seca, sua disponibilidade pode ser limitada devido à menor solubilidade e mobilidade, enquanto em condições de excesso de umidade, ele pode ser lixiviado.

Análise de solo e folha é fundamental

O manejo adequado requer o conhecimento da quantidade do elemento no solo e a análise química é o método mais comum para avaliação. As amostras de solo são coletadas e analisadas em laboratório para determinar a concentração de boro disponível.

Os extratores de água quente e Mehlich-3 são comumente usados para extrair boro do solo, os quais fornecem uma estimativa da quantidade do nutriente disponível para as plantas.

A análise foliar complementa a análise de solo, ajudando a verificar se as plantas estão absorvendo o boro em quantidades adequadas. As amostras de folhas são coletadas durante a fase vegetativa e analisadas em laboratório.

Níveis baixos de boro nas folhas indicam a necessidade de correção no manejo do solo. Também podemos utilizar ensaios de campo para avaliar a resposta das culturas à aplicação de boro.

Em situações em que se suspeita de deficiência, pode-se aplicar boro em áreas específicas do campo e comparar o desenvolvimento das plantas com áreas onde ele não foi aplicado. Isso ajuda a identificar possíveis deficiências e ajustar as recomendações de adubação.

Fique de olho!

Embora não seja um método quantitativo, a observação dos sintomas de deficiência de boro nas plantas é uma maneira prática de identificar problemas de disponibilidade. A deficiência em plantas de soja manifesta-se por uma série de sinais característicos que podem impactar significativamente o desenvolvimento e a produtividade da cultura. Identificar esses sinais precocemente é essencial para tomar medidas corretivas e evitar perdas de rendimento.

Um dos primeiros sintomas de deficiência de boro é o crescimento vegetativo lento ou reduzido. As plantas podem apresentar um menor alongamento dos entrenós, resultando em plantas mais compactas e atrofiadas. As folhas novas podem surgir menores, espessas e com uma textura coriácea.

Outro sintoma aparece em folhas jovens, que são as mais afetadas pela deficiência de boro. Elas podem apresentar deformações como enrugamento, margens onduladas, clorose (amarelecimento) internerval e necrose (morte) das margens ou pontas das folhas.

Em casos severos, as folhas podem apresentar uma aparência encurvada e quebradiça. Em situações mais severas, pode levar à morte do meristema apical (ponto de crescimento), resultando em um crescimento lateral desordenado e na formação de múltiplos brotos laterais, dando à planta um aspecto de “arbusto”. Isso pode reduzir a eficiência da planta em termos de crescimento e desenvolvimento.

Se lembramos que o boro é crucial para a reprodução das plantas, portanto fundamental na fertilidade do grão do pólen e no desenvolvimento das flores, sua deficiência pode levar à queda prematura das flores, menor formação de vagens e uma redução no número de grãos por vagem, impactando diretamente a capacidade da planta de produzir sementes viáveis.

Recomendações de aplicação

A aplicação de boro pode ser realizada antes do plantio, incorporando-o ao solo durante a preparação da terra. Essa prática é recomendada em solos que apresentam baixos níveis de boro disponível.

Fertilizantes boratados, como borato de sódio ou ácido bórico, são comumente utilizados. A aplicação em cobertura, após a emergência das plantas, pode ser feita em estágios iniciais do crescimento. Quando há maior demanda por boro, essa abordagem pode ajudar a corrigir deficiências diagnosticadas precocemente.

Já a aplicação foliar é uma forma eficiente de corrigir deficiências de boro, especialmente em situações em que o boro no solo é insuficiente ou não está disponível devido a condições como seca. Aplicações foliares são particularmente importantes durante os estágios críticos de desenvolvimento da soja, como o florescimento e a formação de vagens, quando a demanda por boro é elevada.

As práticas recomendadas para garantir a eficiência da aplicação são: garantir um diagnóstico preciso, através da análise de solo, feita antes de qualquer aplicação. Isso ajuda a evitar tanto a deficiência quanto o excesso, ajustando a dose de acordo com as necessidades específicas.

A análise foliar é feita durante o ciclo da cultura e pode complementar a análise de solo, monitorando os níveis de boro nas plantas e indicando a necessidade de aplicações adicionais.

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