
Karla Borelli
Engenheira florestal e doutora em Ciência Florestal – UNESP/FCA
karla.borelli@unesp.br
Erivaldo José Scaloppi Junior
Doutor em Produção Vegetal e pesquisador científico – Instituto Agronômico (IAC)
scaloppijr@yahoo.com.br
Magali Ribeiro da Silva
Doutora e professora assistente – UNESP/FCA
magali.ribeiro@unesp.br
As tecnologias de irrigação e fertirrigação no cultivo da seringueira são essenciais para maximizar a eficiência no uso da água, especialmente em regiões com escassez hídrica. Sistemas avançados, como a irrigação por gotejamento, permitem um controle preciso da quantidade de água e nutrientes aplicados às plantas, garantindo um desenvolvimento saudável e produtivo da seringueira.
A fertirrigação, por sua vez, combina a segurança com a aplicação de fertilizantes, promovendo uma absorção mais eficiente de nutrientes pelas raízes. Essas tecnologias não só aumentam a produtividade, mas também a sustentabilidade da cultura, otimizando os recursos e diminuindo os custos.
Principais sistemas de irrigação para seringueira
Dentre os sistemas de irrigação disponíveis no mercado, utiliza-se o gotejamento e a microaspersão para a seringueira. A utilização destes sistemas é relativamente recente e busca otimizar a produção e aumentar a produtividade da borracha natural.
O gotejamento é ideal para a seringueira, devido a sua alta eficiência, pois permite aplicação de água e nutrientes de forma localizada, favorecendo o desenvolvimento do sistema radicular e a produção de borracha natural.
Já a microaspersão pode ser uma alternativa ao gotejamento em algumas situações, como em áreas de maior declive. No entanto, o consumo de água é geralmente maior e o sistema pode ser mais suscetível ao entupimento, especialmente em locais onde há excesso de cálcio e magnésio (“água dura”).
Vantagens no cultivo da seringueira
O sistema de irrigação por gotejamento vem apresentando alta eficiência, devido à aplicação precisa, otimização da aplicação de nutrientes, diminuição das perdas e maior aproveitamento de água.
Para a seringueira, observa-se que o uso do gotejamento permite menor replantio, aumento do crescimento, especialmente durante a estação de seca, antecipação da sangria, maior uniformidade, tendência de aumento na produtividade de borracha natural, aumento na qualidade do látex e economia de água, o que leva à maximização da produção e redução do desperdício.
A adoção deste sistema pode contribuir para a obtenção de melhores resultados econômicos e ambientais.
Definição do volume e frequência de irrigação
Deve-se levar em consideração os fatores edafoclimáticos, clone, densidade de plantio, estádio de desenvolvimento da planta, sistema de irrigação e disponibilidade hídrica.
Quanto ao solo, deve-se observar a textura e a profundidade do solo. Solos arenosos demandam maior frequência de irrigação, devido à baixa capacidade de retenção de água, enquanto solos argilosos retêm mais água e necessitam de uma menor frequência de irrigação.
Apesar de a seringueira apresentar um sistema radicular profundo, verifica-se que em áreas cujos solos são rasos, há um menor armazenamento de água, aumentando a necessidade de irrigação.
O clima é essencial, especialmente para a cultura da seringueira, pois de acordo com o zoneamento climático, a seringueira se desenvolve bem em locais com alta evapotranspiração, demandando maior volume de água.
Quanto às características, verifica-se que plantas imaturas de seringueira, devido ao baixo desenvolvimento do sistema radicular, são mais suscetíveis ao déficit hídrico. No entanto, plantas adultas são mais tolerantes a períodos curtos de seca.

Ainda, a necessidade hídrica é alterada devido ao clone utilizado, sendo encontrado que diferentes clones apresentam variadas demandas. Para a densidade de plantio, nota-se que o maior número de plantas por unidade de área favorece a competição pelos fatores essenciais ao desenvolvimento (água, luz, nutrientes). Por essa razão, é imprescindível a definição correta do espaçamento de plantio.
Os diferentes sistemas de irrigação aumentam a eficiência e a produtividade de borracha natural, sendo necessário definir um volume e uma frequência de água que realmente irá atingir o sistema radicular, atrelados à disponibilidade hídrica, pois a mesma pode limitar a quantidade de água a ser aplicada.
Fertirrigação x desenvolvimento das plantas
A fertirrigação é uma técnica de manejo nutricional que consiste na aplicação de fertilizantes solúveis diretamente na água de irrigação. Essa prática, quando bem executada, contribui para o desenvolvimento da seringueira, pois garante a absorção rápida e eficiente dos nutrientes, evitando lixiviação e volatilização.
Além disso, influencia no aumento significativo da produção de borracha natural e na gestão racional dos recursos hídricos.
Nutrientes essenciais
Para a seringueira, existe uma lacuna de conhecimento técnico sobre quais nutrientes são mais eficazes na aplicação via fertirrigação. No entanto, recomenda-se a aplicação balanceada de todos os macro e micronutrientes para que as plantas completem seu ciclo de desenvolvimento.
O nitrogênio (N) é o nutriente mais absorvido por plantas jovens de seringueira, sendo constituinte de aminoácidos, proteínas e cofatores enzimáticos. Por esse motivo, é essencial para o crescimento vegetativo, aumentando a área foliar e a produção de gemas vegetativas.
O fósforo (P) é importante no armazenamento de energia (ATP) e fundamental para o desenvolvimento do sistema radicular. O potássio (K) é ativador de mais de 40 enzimas, responsável pela manutenção do turgor e potencial osmótico das células. Na prática, ele aumenta a eficiência do uso da água, garante maior resistência a doenças e qualidade do látex.
O cálcio (Ca) é importante na constituição da parede celular e resistência a doenças. O magnésio (Mg) é um ativador enzimático envolvido na transferência de fosfatos e está presente na molécula central da clorofila. Na prática, aumenta-se a taxa fotossintética da planta e a absorção de P.
O enxofre (S) é componente dos aminoácidos essenciais (cisteína, cistina e metionina). Os micronutrientes (B, Cu, Fe, Mn, Zn, Mo) são essenciais em pequenas quantidades devido às diversas funções fisiológicas que exercem nas plantas.
Necessidades nutricionais
As necessidades nutricionais variam de acordo com o ciclo de desenvolvimento da seringueira, sendo observado que, durante a fase de viveiro, o N é o nutriente mais responsivo para o desenvolvimento.
Já na fase de implantação do seringal, o P é essencial devido ao desenvolvimento do sistema radicular. Durante a fase de crescimento, as plantas tendem a demandar mais N e principalmente K, devido à maior resistência às condições adversas e à qualidade do látex.
E, na fase de produção, as plantas exigem todos os nutrientes, mas o K e o Mg são especialmente importantes devido à produção de borracha natural.
Automação da fertirrigação
Os recursos são otimizados no processo de fertirrigação devido à maior precisão na aplicação, redução de mão de obra, aumento na eficiência operacional, maior uniformidade na aplicação e geração de dados para tomada de decisões.
Esses benefícios são observados, pois a automação permite dosar com precisão a quantidade de água e nutrientes, garantindo uma distribuição mais homogênea e evitando excesso ou deficiência que podem comprometer o crescimento e a produção de borracha natural e gerar desperdícios.
Por meio dos sensores, é possível ajustar a irrigação de acordo com as condições climáticas e as necessidades da seringueira, minimizando o consumo de água e energia, o que reduz os custos de produção.
Impactos das tecnologias de irrigação e fertirrigação
A adoção de tecnologias de irrigação e fertirrigação traz inúmeros benefícios, especialmente em regiões com déficit hídrico. Ao otimizar o uso da água e dos nutrientes, essas tecnologias contribuem para a preservação dos recursos, redução dos custos, aumento da conservação do solo (condições físicas e químicas do solo) e da produção de borracha natural.
A fertirrigação aumenta a eficiência na absorção de nutrientes devido à aplicação de fertilizantes solúveis de forma localizada, controlada e contínua, realizada próximo da zona radicular, além de evitar perdas por lixiviação e volatilização, garantindo melhor distribuição dos nutrientes e redução do impacto ambiental.
Limitações no uso de tecnologias avançadas
Acreditamos que o principal desafio é a falta e compartilhamento de conhecimento técnico/científico, com adoção de corretas estratégias de manejo e conservação do solo e da água.
Como ressaltado anteriormente, há uma lacuna quanto à correta aplicação de água e nutrientes, utilizando o sistema de fertirrigação. Por essa razão, torna-se necessário o desenvolvimento de pesquisas aplicadas a fim de resolver as demandas da cultura.
Produtividade + fertirrigação = produtividade
As principais práticas que podem ser adotadas são:
– Irrigação eficiente: isso porque, a depender das condições climáticas, pode ser necessário o uso de um sistema de irrigação convencional (microaspersores);
– Adubação de cobertura: além da aplicação contínua e localizada de nutrientes, pode ser necessário complementar com o uso de fertilizantes orgânicos e minerais;
– Manejo integrado de pragas e doenças: é essencial o monitoramento de pragas e doenças em seringais e aplicação de defensivos agrícolas de acordo com as recomendações técnicas;
– Análise do solo e da folha: torna-se necessário a realização periódica de análises químicas do solo e da folha para que a adubação seja ajustada conforme as necessidades da cultura;
– Coleta de látex: é imprescindível que seja respeitada a periodicidade na coleta do látex e a profundidade do corte no painel, para evitar danos às plantas e garantir qualidade do látex;
– Consórcio com outras espécies e rotação de cultura: essa prática vem se tornando eficiente devido ao melhor aproveitamento da área, antecipação dos recursos financeiros investidos, fixação de nitrogênio quando se utiliza leguminosas, melhorando a estrutura do solo e reduzindo a ocorrência de pragas.
É importante destacar que o sucesso do seringal depende da combinação dessas práticas de manejo, que devem ser adaptadas às condições locais (solo, clima, mão de obra), recursos financeiros disponíveis e as características do seringal.