Karolina Gomes de Figueiredo
Graduanda em Agronomia e integrante do Grupo de Estudos em Herbicidas, Plantas daninhas e Alelopatia (GHPD)
LaÃs Sousa Resende
Mestranda em Fitotecnia e integrante do Grupo de Estudos em Herbicidas, Plantas daninhas e Alelopatia (GHPD)
A ferrugem alaranjada, causada pelo fungo Hemileia Vastatrix, é uma das principais doenças do cafeeiro. Essa doença pode causar até 50% de perdas, quando não é controlada.
A principal característica da doença é o aparecimento de manchas amarelo alaranjadas na face abaxial e o sintoma mais evidente é a desfolha. Essa queda prematura das folhas prejudica o desenvolvimento da planta, reduzindo a área fotossintética e comprometendo a florada e a produção.
Para o manejo dessa doença, há no mercado as cultivares com resistência, porém, essa é facilmente quebrada devido à variabilidade de raças do patógeno. Logo, o principal método de controle usado pelos cafeicultores atualmente consiste no controle químico.
Todavia, o uso demasiado de agroquímicos, além de ser oneroso, pode ser prejudicial ao homem e ao ambiente. Diante disso, um dos maiores desafios para os pesquisadores é a constante busca por métodos alternativos de controle que sejam eficientes e causem menor impacto ambiental, como a indução de resistência.
Cercosporiose
A cercosporiose do cafeeiro, também conhecida como mancha de olho pardo, possui como agente causal a Cercosporacoffeicola e atualmente está presente em todas as regiões cafeeiras do Brasil e do mundo.
Os sintomas dessa doença ocorrem nas folhas e nos frutos. Nas folhas, aparecem manchas circulares de cor castanho claro com centro branco-acinzentado e um halo amarelado em volta da lesão.
Em algumas regiões é observada uma variação do sintoma sem o halo amarelado, denominada de “cercóspora negra“. Já nos frutos aparecem pequenas lesões castanhas e deprimidas que, com o progresso da doença, se tornam escuras e ressecadas.
Essa doença causa perdas na produtividade, afeta o tipo e a qualidade do café produzido, além de causar queda prematura de folhas e frutos. As medidas culturais são muito importantes para o controle da doença, incluindo o preparo de mudas e a nutrição equilibrada.
Já no controle químico são usados os fungicidas protetores cúpricos alternados com fungicidas sistêmicos.
Alternativas
Entretanto, outras formas de controle vêm sendo testadas, como o uso de indutores de resistência, que tem se mostrado uma tecnologia potencial na cafeicultura.
A indução da resistência consiste no aumento da capacidade de defesa da planta contra uma grande variedade de organismos fitopatogênicos, incluindo fungos, bactérias e vírus.
As vantagens são o amplo espectro de ação, protegendo a planta contra vários tipos de patógenos, além dos efeitos persistirem por dias, semanas e até meses. Esse efeito protetor depende do intervalo de tempo entre a indução e o ataque pelo patógeno.
É importante ressaltar que o equilíbrio nutricional é fundamental para que o controle funcione, já que a capacidade que as plantas têm de se defender é influenciada pelo vigor e seu estádio fenológico. Uma planta com deficiências nutricionais é normalmente mais vulnerável ao ataque de patógenos do que outra em condições nutricionais ótimas.
Como funciona
A resistência induzida em plantas pode ocorrer por meio do tratamento com agentes bióticos (extratos vegetais, microrganismos ou parte desses) ou abióticos (substâncias químicas). As pesquisas nessa área vêm avançando por meio do desenvolvimento de produtos comerciais que sejam eficazes e apresentem menor impacto ao meio ambiente.
Bons resultados foram alcançados com o uso do indutor químico de resistência acibenzolar S-metil (ASM, produto do grupo benzotiadiazole). A aplicação desse produto, já disponível comercialmente, proporcionou proteção contra H.vastatrix em mudas de cafeeiro.
Fosfitos
Outro grupo de produtos que tem ganhado importância são os fosfitos. Os fosfitos são fertilizantes foliares que atuam na nutrição e ativam a defesa natural das plantas. Existem várias formulações do produto em associação com outros nutrientes, como: K, Ca, B, Zn e Mn.
Alguns resultados preliminares revelam que o uso de fosfitos de K, Mg e Zn em cafeeiros adultos por dois anos consecutivos proporcionou reduções de até 30% na severidade da ferrugem e cercosporiose no cafeeiro.
Extratos vegetais e óleos também podem ser usados. Produtos naturais, Ã base de subprodutos da lavoura do café, como extratos de folhas ou casca dos frutos de café vêm despertando o interesse de especialistas.
Diante disso, a indução de resistência em plantas pode ser uma medida de controle promissora e uma alternativa sustentável e econômica para o controle de doenças.