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terça-feira, abril 30, 2024
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Cálcio: Sem ele, desenvolvimento de tomates é prejudicado?

Autores

Ednângelo Duarte Pereira
Ronaldo Silva Gomes
Doutorandos em Fitotecnia – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
Rafael Ravaneli Chagas
Doutorando em Genética e melhoramento – UFV
Derly José Henriques da Silva
Professor titular do Departamento de Agronomia – UFV
derly@ufv.br
Crédito: Shutterstock

O suprimento adequado de água e calagem são essenciais para evitar que ocorra deficiência de cálcio nos frutos (fundo preto). Se mesmo assim o problema persistir, devem ser retirados os frutos que já foram afetados e realizar a aplicação de cloreto de cálcio (CaCl2) em solução a 0,8% nos frutos jovens.

Importância do cálcio

O cálcio é um componente importante para a cultura do tomate, influenciando nos diversos estágios de crescimento das plantas: na fase de estabelecimento da cultura impulsiona o crescimento de folhas e raízes, na fase de crescimento vegetativo mantém o crescimento, na fase reprodutiva maximiza a produção, na maturação mantém boa firmeza e aumenta a qualidade dos frutos e reduz riscos de ocorrência de podridão apical (Figura 1).

A deficiência de cálcio nos solos ocorre em solos ácidos e pode causar danos nos vasos condutores das plantas, levando à murcha das plantas. Por outro lado, o excesso de cálcio no tomate é prejudicial, podendo causar pequenas rachaduras na parte superior do fruto, acarretando no ressecamento dos mesmos e diminuindo sua vida de prateleira.

Tome cuidado com o cloreto de cálcio, porque em altas temperaturas (acima de 30°C) ele pode queimar as plantas. A pulverização de cálcio não substitui o manejo adequado de irrigação e fertilização.

Benefícios proporcionados pelo cálcio

Os principais benefícios associados à aplicação de cálcio por meio da calagem nos cultivos compreendem o fornecimento de cálcio e magnésio às plantas e a correção da acidez do solo. Com relação à correção da acidez, sabe-se que a condição de acidez elevada é muito comum nos solos brasileiros e, caso não corrigida, prejudica o desenvolvimento de raízes.

O gesso é fonte de cálcio e consegue estimular o crescimento radicular do tomateiro para atingir regiões bem profundas do solo. A prática da gessagem pode ajudar bastante na economia com a irrigação no cultivo de tomate.

Como utilizar a técnica da calagem e gessagem

Para a realização de calagem e gessagem, o primeiro passo é sempre realizar a análise do solo, coletando as amostras adequadamente. Deverão ser coletadas de 15 a 20 sub-amostras por hectare, de acordo com a homogeneidade do solo, que constituirão a amostra composta, a qual deve ser enviada ao laboratório.

No preparo da área, se a mesma não tiver problemas de compactação, uma aração profunda pode ser suficiente. Por outro lado, em solos com camadas compactadas a primeira operação é a subsolagem ou aração profunda (superior a 30 centímetros). Logo após esses processos, usa-se a grade aradora e complementa-se o destorroamento com a grade niveladora.

Assim, a compactação do solo é reduzida por meio do preparo mais profundo do solo. Com o resultado da análise do solo em mãos, deve-se optar por um produto com as quantidades de cálcio e magnésio mais adequadas para a sua necessidade.

Ao calcular a dose de calcário a ser aplicada, deve-se considerar os dados da camada de 0-20 cm da análise de solo. Já para aplicação de gesso, consideram-se os dados da camada de 20-40 cm.

A elevação do pH do solo ao valor desejado depende, dentre outros fatores, da qualidade do corretivo (granulometria e poder de neutralização), que conferirá o Poder Relativo de Neutralização Total (PRNT), de sua mistura com o solo e do tempo de contato do corretivo com o solo.

Como o tomate é uma cultura anual de ciclo rápido, recomenda-se utilizar, sempre que possível, o calcário de granulometria mais fina e PRNT mais alto (superior a 80%), pois apresenta efeito na correção da acidez mais rápido e atinge o ponto máximo de neutralização entre três e quatro meses após sua aplicação.

No caso da utilização de calcário finamente moído (filler) e de calcário parcialmente calcinado, a aplicação poderá ser realizada de um a dois meses antes do plantio. A incorporação do calcário deve ser uniforme desde a superfície até 30 cm de profundidade, o que possibilita boa distribuição das raízes do tomateiro no perfil do solo, importante para a obtenção de boas produtividades.

Próximo passo

Após a incorporação do calcário, deve-se irrigar o local para acelerar a reação do corretivo no solo para garantir que este esteja corrigido na época de implantação da cultura.

O cálculo de calagem, conforme o método de saturação por bases, considera a correção da acidez até 20 cm de profundidade. No caso de maiores profundidades a serem atingidas, deverá haver acréscimo proporcional à quantidade de corretivo de acidez originalmente calculada.

A escolha

Considerando que a cultura do tomate é muito exigente em cálcio, na escolha do corretivo recomenda-se optar por produtos que, após a reação no solo, resultem numa relação Ca/Mg igual ou superior a três. Isso pode ser obtido pela aplicação de mais de uma fonte de corretivo.

Uma opção razoável é aplicar 50% da dose na forma de calcário dolomítico e 50% na forma de calcário calcítico. A correção da acidez é considerada efetiva por cinco anos, sendo que no quarto ano da aplicação do calcário deve ser realizada nova amostragem e análise do solo, para reavaliação da calagem e correção da fertilidade do solo.


Dicas:

Ü Se a dosagem de corretivo recomendada pelo especialista for superior a duas toneladas por hectare, a calagem deve ser dividida em duas aplicações, sendo a primeira antes da aração e a segunda após a primeira gradagem;

Ü Se o solo apresentar pH acima de 5,0, a correção é complementar e o corretivo pode ser aplicado de uma só vez;

Ü Mantenha o solo sempre úmido, sem que fique encharcado, evitando o acúmulo de sais.


Resultados obtidos com calagem + gessagem

Os principais resultados observados em campo no cultivo de tomate onde tenha sido realizada a calagem acompanhada da gessagem são: aumento na capacidade de troca de cátions no solo, fornecimento de cálcio e magnésio, aumento da disponibilidade de fósforo e molibdênio presente no solo, facilitando assim sua absorção pelas raízes das plantas, favorecimento da atividade microbiana benéfica do solo e diminuição da toxidez de alumínio e manganês.

A associação do calcário agrícola e gesso permite que a correção da acidez do solo tenha maior abrangência do perfil dos solos, permitindo, inclusive, a correção de camadas subsuperficiais, resultando em maior eficiência no uso da água e proporcionando maior eficiência produtiva das plantas.

Em cultivo de tomate destinado à indústria, a adição de 3,45 toneladas por hectare do calcário dolomítico (PRNT=76%), e 1,98 toneladas de gesso agrícola acompanhadas de um adequado manejo da irrigação proporcionaram produtividade de 157,95 toneladas por hectare.

Erros

O erro mais comum é a aplicação de quantidades excessivas do corretivo, o que pode resultar em super calagem. A calagem excessiva, seja por quantidades muito elevadas ou por repetição anual, sem incorporação, leva a altos teores de Ca e Mg resultantes da dissolução do calcário, e por consequência a um incremento da atividade destes cátions, dificultando a absorção do potássio, principalmente no início do ciclo, quando o sistema radicular é muito superficial.

Um efeito associado é que se pode formar uma camada superficial neutra ou alcalina (pH = 6,5 – 7,0). Em consequência haverá indisponibilização de uma série de micronutrientes como zinco, cobre e manganês. 

Custo

De acordo com dados do Cepea, para a produção de tomate de mesa em Mogi Guaçu (SP) os custos com fertilizantes e corretivos em 2018 foi de R$ 13.834,65 por hectare e a previsão para 2019 é de R$ 16.071,65 por hectare, uma variação de 16,2%.

Em Goiânia (GO), para produção de tomates destinados à indústria os custos com fertilizantes e corretivos no ano de 2018 foi de R$ 3.122,81/ha e a previsão para 2019 é de R$ 3.692,51, uma variação de 0,18%. Apesar dos aumentos nos custos de produção, a rentabilidade para o ano de 2019 é boa.

Investimento x retorno

A calagem deve ser considerada um investimento, pois seus benefícios perduram além de um ano ou de uma safra agrícola. Isso se deve ao efeito residual dos corretivos de acidez do solo, sendo que o tempo de duração desse efeito dependente de vários fatores, entre os quais: condições edafoclimáticas, cultura, manejo da área e tipo de corretivo empregado.

Em geral, partículas maiores de calcário têm efeito residual mais prolongado, sendo empregadas na implantação dos cultivos. Assim, a calagem realizada de modo adequado afetará, positivamente, o desenvolvimento e o estado nutricional das plantas, tendo como consequência o uso racional de fertilizantes e a melhoria da relação benefício/custo por meio do incremento da produtividade.

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