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Hortelã – Sabor refrescante e suave

Autores

Leticia Silva Pereira Basílio
Marla Silvia Diamante
Doutorandas em Agronomia/Horticultura – UNESP
Mônica Bartira da Silva
Doutora em Agronomia/Horticultura – UNESP
monica.bartira@gmail.com

A hortelã, embora seja uma planta exótica, tem aroma e sabor que podem variar conforme a espécie. Assim como as hortaliças, as hortelãs representam uma fonte de renda, pois podem ser cultivadas não só para o consumo próprio, mas em uma escala maior, destinadas aos supermercados e casas de produtos naturais, na formas natural ou seca

Usadas ao longo da história da humanidade, por terem a capacidade de sintetizar uma grande variedade de compostos químicos, as plantas medicinais se destacam por possuírem mais de 40 segmentos de mercado. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), planta medicinal é qualquer vegetal que possua em um de seus órgãos, ou em todas as partes, substâncias com propriedades terapêuticas, ou que sejam ponto de partida na síntese de produtos químicos ou farmacêuticos.

Essas substâncias, ou princípios ativos, podem ser produtos do metabolismo primário, que são definidos como indispensáveis à vida da planta, e produtos do metabolismo secundário, que correspondem, de uma maneira simplificada, à individualidade de cada uma.

Na maioria das vezes, essas substâncias são resultantes do metabolismo secundário, dependendo da interação da planta com o meio em que vive. Os princípios ativos mais importantes são: alcaloides, ácidos urônicos, glicosídeos, heterosídeos, óleos essenciais, taninos e ácidos orgânicos.

A interessante hortelã

Dentre as plantas medicinais, a hortelã desperta interesse econômico, por ser fonte de compostos como mentol, isomentona, ácidos orgânicos, sitosterol, entre outros. Contudo, o maior destaque é o mentol, empregado como flavorizante e aromatizante de alimentos, bebidas, perfumes, produtos de higiene bucal e preparações farmacêuticas, no tratamento de problemas respiratórios e gastrointestinais.

A presença do grupo metil na posição 1 e da hidroxila na posição 3, tendo na vizinhança um grupo volumoso, são condições necessárias para determinar as propriedades refrescantes do mentol.

Espécies

Cabe ressaltar que existem diferentes plantas do gênero Mentha, conhecidas popularmente como hortelãs, compreendendo cerca de 30 espécies. As hortelãs de uso popular mais frequente são a hortelã-verde (Mentha spicata L.); o mentrasto (Mentha rotundifolia Huds); menta-do-levante (Mentha citrata Ehrhart); Mentha crispa L., Mentha arvensis L. e a hortelã-pimenta (Mentha x piperita L.), a mais famosa das hortelãs, sendo as duas últimas as mais ricas em mentol.

Segundo a OMS, 80% da população mundial faz ou já fez uso de plantas medicinais para aliviar algum sintoma desagradável, estimando que 30% sejam da família Laminaceae, à qual pertencem as espécies de hortelã.

Importância mundial

Não há dados atualizados sobre a produção anual da hortelã nos Estados brasileiros, mas sabe-se que o mercado de plantas medicinais movimenta cerca de US$ 160 milhões por ano e, em toda a cadeia produtiva, o setor de medicamentos fitoterápicos e extração de óleos essenciais movimenta anualmente em torno de R$ 1 bilhão.

O Brasil já foi o maior exportador mundial de óleo essencial da Mentha piperita, mas passou a importar devido ao baixo nível de produção na região sul e sudeste do País, onde era cultivada em larga escala em cidades como Maringá (PR) e Barbosa Ferraz (PR).

Estados da região sul e sudeste, como São Paulo e o norte do Paraná, eram responsáveis por 95% da produção brasileira na década de 1960. Contudo, atualmente o Brasil importa a maior parte dos óleos essenciais, incluindo os extraídos da hortelã.

A partir disto, é relevante dizer que a hortelã representa uma boa alternativa de rentabilidade, pois abrange o plantio em pequena escala, para consumo próprio ou local, mas também em larga escala, destinando a grandes centros, supermercados e casa de produtos naturais.

Além disso, a versatilidade da planta permite que suas folhas sejam comercializadas tanto secas como frescas. Um exemplo é que as vendas de fitoterápicos no mercado interno tem crescido 15% ao ano, contra 4% das vendas dos medicamentos sintéticos.

Derivados

Quando se trata de matéria verde, a hortelã produz de 20 a 30 mil kg/ha/ano. Para obtenção da essência, o rendimento médio encontrado é de 0,3 a 0,5% sobre matéria fresca, e de 1,0 a 3,0% sobre a matéria seca.

Com o manejo correto, as plantas produzem em destilação a média de 1% em óleo do peso do material destilado. Sendo a faixa comum entre de 10 a 13 t/ha de rama murcha pronta para a destilação (em três cortes sucessivos), seriam então fornecidos de 100 a 130 kg de essência/ha/ano. Dentre os produtos obtidos, tem-se o um rendimento médio de 30 a 50 kg/ha/ano de mentol, com 75 a 85% de pureza.

Para a obtenção desses resultados, fatores técnicos como forma de plantio, tratos culturais, aspectos fitossanitários, época de plantio e de colheita, transporte, secagem armazenamento, entre outros, devem ser considerados, se atentando à região de cultivo desejada, porque tanto o clima quanto o solo são componentes essenciais para a maior formação de óleo essencial.

Exigências da planta

As espécies de menta são exigentes quanto à nutrição mineral em cultivos em solo e em hidroponia, sendo as práticas agronômicas de manejo da fertilidade do solo, calagem e adubação as mais tradicionais.

Segundo Biasi e Deschamps (2009), existem duas recomendações de adubação que podem ser adotadas – Maia e Furlani (1996) e Sociedade Brasileira de Ciência do Solo – SBCS (2004).

Segundo Maia e Furlani (1996), a calagem deve ser realizada para elevar a saturação de bases a 70%. Os mesmos autores recomendam adubação de cobertura com 30 kg.ha-1 de N 30 dias após o plantio e 30 kg.ha-1 de N e 30 kg.ha-1 de K2O após cada corte.

Nas recomendações da SBCS (2004), a calagem deve ser calculada pelo índice SMP para o solo atingir pH de 6,0. Com doses de nitrogênio de até 80 kg.ha-1, se o nível de matéria orgânica no solo for inferior a 2,5%, 50 kg.ha-1 em solos com teores de 2,6 a 5,0% e 20 kg.ha-1, ou menos, quando o teor estiver acima de 5%.

Para a adubação com fósforo e potássio, a aplicação de 120 kg.ha-1 de P2O5 e 90 kg.ha-1 de K2O é recomendado em solos com níveis baixos desses elementos, de 80 kg.ha-1 de P2O5 e 60 kg.ha-1 de K2O em solos com teores médios e de 40 kg.ha-1 de P2O5 e 30 kg.ha-1 de K2O em solos com teores altos.

Alerta

É importante ressaltar que a aplicação de ureia em doses superiores à recomendada pode resultar na diminuição da produção do mentol, contudo, níveis mais elevados de nutrientes proporcionados pela adubação orgânica têm efeitos positivos no crescimento e no desenvolvimento das plantas.

Além da adubação mineral, o uso da adubação orgânica promove inúmeros benefícios decorrentes da aplicação de resíduos orgânicos, destacando-se a manutenção da umidade, da fertilidade e da estrutura física do solo, o favorecimento do controle microbiológico e a dinâmica de nutrientes, o que afeta favoravelmente nos rendimentos da produção vegetal.

Uma outra técnica, complementar, que pode ser adotada, é uso de fungos micorrízicos arbusculares, que promovem a expansão da zona de absorção da raiz, a partir do desenvolvimento de hifas que se ramificam, favorecendo a absorção de nutrientes como fósforo (P), zinco (Zn), cobre (Cu), nitrogênio (N) e potássio (K), podendo ser responsáveis pela absorção de cerca de 80% do P, 25% do N e Zn e 10% do K.

Propagação

No plantio, outro fator de destaque da cultura é que a sua propagação pode ser realizada de forma sexuada ou assexuada. Na propagação sexuada, as sementes são plantadas em canteiros com transplante das mudas para o local definitivo após dois meses.

Para a propagação assexuada podem-se utilizar estacas de caule e de rizomas. As estacas de caule devem ser preferencialmente de ramos apicais e apresentar comprimento médio de 5,0 a 10 cm, com duas folhas, cortadas pela metade com o auxílio de uma tesoura de poda.

Plantio

No caso dos rizomas, o comprimento pode variar de 10 a 25 cm e deverão ser plantados em sulcos de no máximo 10 cm de profundidade. Alguns estudos indicam gasto de 300 kg de rizomas por hectare no plantio direto, ou 100 kg no enviveiramento com rizomas de aproximadamente 10 cm de comprimento, ou dois a três pares de gemas.

Durante o cultivo a planta necessita de luz plena para se desenvolver, e o florescimento só ocorre quando é exposta a 12 horas diárias de luz. O espaçamento é outro ponto a ser ponderado no momento do plantio, pois em solos com maior fertilidade o espaçamento adotado pode ser de 0,7 x 0,3 m e em solos com menor fertilidade de 1,0 x 3,0 m.

Em hidroponia

Um dos principais motivos para o abandono do plantio de hortelã em território nacional foi a fertilidade insuficiente para a exigência nutricional da cultura. Nesse sentido, a hidroponia tem se tornado uma alternativa bastante interessante em relação ao cultivo tradicional feito no solo, pois permite o plantio durante todo o ano, além de facilitar o controle da parte nutricional. Mediante isto, a solução nutritiva deve ser formulada de forma que abranja todos os nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento da cultura.

O nitrogênio (N) é um elemento imprescindível, diretamente relacionado a rotas do metabolismo secundário. Seu fornecimento de forma controlada em sistemas hidropônicos traz não só aumento de produtividade, como uma melhor qualidade fotoquímica. Outro elemento que se comporta melhor neste tipo de sistema é o fósforo (P), essencial para o desenvolvimento pleno da parte aérea das plantas, uma vez que sua movimentação em solo é lenta.

Colheita

No Estado de São Paulo e no Norte do Paraná a colheita normalmente é realizada nos meses de novembro a janeiro, abril a maio e julho a agosto, quando as plantas atingem o florescimento, que pode ocorrer entre três a quatro meses (quando não há falta de chuvas). Nessa época, maior porcentagem de óleo é acumulada e o sabor e aroma são mais intensos.

É possível colher todas as hastes três vezes por ano, com os cortes realizados a cinco centímetros do nível do solo, por quatro a seis anos, sem a necessidade de replantio. É importante que a colheita seja realizada em períodos noturnos ou logo pela manhã, para que não haja perda de óleo essencial.

Custo envolvido

Após a colheita, para o beneficiamento das plantas medicinais, em geral, é necessário além de terra disponível e equipamentos de cultivo usuais, uma unidade de secagem e armazenagem.

Estima-se que os investimentos necessários para o plantio de uma área de 1,0 ha sejam de cerca de R$ 7 mil. Estes recursos abrangem os valores gastos no material de propagação (mudas), adubação e preparo do solo, plantio, manejo, tratos culturais e colheita.

Com relação à secagem, é indispensável se atentar à velocidade com que a água é retirada da planta, pois um processo muito rápido pode degradar os princípios ativos. Também não deve ser muito lento, porque pode ocorrer a proliferação de microrganismos indesejáveis.

Pesquisas

Em um estudo comparando a secagem de menta (Mentha piperita) e sálvia (Salvia officinalis) pelo método tradicional (secagem ao sol) e em secador solar com ar aquecido a 45ºC, os pesquisadores observaram que o teor de óleo essencial extraído da menta e da sálvia apresentaram um aumento, respectivamente, de 40 e 25% com a utilização da secagem em estufa solar, em relação à secagem pelo método tradicional.

Constataram também que o emprego da secagem em secador melhorou a qualidade do produto, intensificando a coloração e o conteúdo de seus princípios ativos. Contudo, cabe evidenciar que como a cultura da hortelã pode ser comercializada também na forma fresca, a implementação de uma unidade de secagem pode ser facultativa.

Vamos ao que interessa

O produtor que decide por implementar o cultivo da hortelã se beneficia com um retorno rápido, porque a planta possui ciclo curto e em torno de 40 dias após o plantio já estão desenvolvidas o suficiente para a colheita.

No Estado do Paraná, o preço de uma bandeja de 50 g é em média de R$ 1,50. Em São Paulo, o preço médio para um maço de 0,15 kg é R$ 4,40, podendo chegar a R$ 5,05. Pernambuco, por sua vez, tem o preço médio de R$ 5,00 para um molho de 0,185 kg. Logo, é importante conhecer o mercado local ou para onde se pretende escoar a produção.

 Em sistema hidropônico, a utilização de cultivo protegido favorece a alta produção por área, maior controle no fornecimento de água e nutrientes, manejo do estado fitossanitário, além de garantir melhor qualidade e maior possibilidade de oferta de mudas.

A hortelã já foi uma das ervas aromáticas mais cultivadas em território nacional, elevando alguns municípios ao status de ‘Capital da Menta/Hortelã’. É uma cultura rústica e muito versátil quanto ao destino final de seus produtos e subprodutos. Com o avanço de pesquisas na área de plantas medicinais e crescente interesse e consumo da população por produtos naturais, o cultivo de hortelã é um negócio rentável, promissor e inspirador.

Investimento que deu certo

Walace Ferreira da Silva é produtor de hortelã convencional e hortelã-pimenta na fazenda Ilha Grande, localizada em São Joaquim de Bica (MG), onde é produzido 1,0 hectare, com produtividade média de 150 molhos por dia, que rendem R$ 90,00 diariamente.

Ele conta que a hortelã-pimenta é uma erva híbrida que surgiu do cruzamento de diversas espécies de menta, conhecida por vários nomes, como hortelãzinha, hortelã de panela, hortelã-da-cozinha e hortelã de cheiro.

“O melhor período para se plantar a hortelã é no frio, nos meses de abril, junho e julho. Para uma boa produção são necessárias duas irrigações ao dia. A única dificuldade que vejo para plantar a hortelã é o aparecimento das moscas-brancas, mas até elas são fáceis de controlar, basta fazer uma mistura de cravo da índia moído com água e aplicar na lavoura, uma forma fácil, prática e econômica, além de ser um produto natural”, explica o produtor.

A hortelã, após ser plantada, demora em torno de 50 dias para chegar à fase de colheita. O adubo utilizado por Walace é o 12-6-12, aplicado de duas a três, e ainda esterco de galinha, de 10 em 10 dias, para enriquecer o solo com matéria orgânica. Ele indica que a adubação química seja feita após 15 dias, na lavoura.

A hortelã é uma planta que exige podas, e com o manejo certo, Walace garante que a planta chega a durar mais de 10 anos.

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