Autora
Wagner de Paula Gusmão dos Anjos
Coordenador de Desenvolvimento de Produto Riber KWS Sementes
O ponto de partida para obter sucesso no manejo de qualquer cultura é a semeadura ou plantio. Ambas são operações extremamente delicadas que não permitem erros.
A atenção durante todas as fases destas operações é de extrema importância, e erros cometidos durante o processo de semeadura poderão interferir negativamente na produtividade, principalmente em semeadura de culturas de verão e milho safrinha, que possuem altos investimentos em insumos.
Entre os fatores que mais afetam o processo de germinação e emergência das plântulas, pode-se destacar: viabilidade da semente, temperatura do solo, disponibilidade de umidade no solo, disponibilidade de ar no solo, resistência do solo, salinização do fertilizante e danos mecânicos ocasionados pelo mecanismo distribuidor.
A semeadura marca o início de uma nova safra – se ela for satisfatória, a lavoura começa com todo o potencial, mas se cometermos erros, estaremos, desde o início, limitando o potencial produtivo da cultura, conforme demonstra a tabela a seguir, com os percentuais médios de perda com cada fase do processo de semeadura, e qual o impacto que estas atividades podem ter no estabelecimento da lavoura e na produtividade final.
Tabela 1 – Perdas no potencial produtivo durante a semeadura
Potencial produtivo: 8.000 Kg.ha-1 | ||
Condições desfavoráveis | Perdas | Potencial |
Manejo da área | 5% | 7.600 |
Manutenção da semeadora | 2% | 7.448 |
População de plantas inicial | 8% | 6.852 |
Mecanismo distribuidor da semente | 3% | 6.647 |
Mecanismo distribuidor de fertilizante | 4% | 6.380 |
Profundidade de semeadura | 2% | 6.253 |
Velocidade de semeadura | 5% | 5.940 |
Perdas: 2.059 kg (34,3 sacas)
Independentemente do nível tecnológico do agricultor e do sistema de cultivo, podemos destacar que os cuidados com as manutenções e regulagens da semeadora, antes, durante e após o processo de semeadura influenciam diretamente para amenizar as perdas de potencial produtivo das culturas a serem instaladas.
Regulagem de semeadoras adubadoras
Velocidade de semeadura: a velocidade de operação é um fator determinante para quantificar a capacidade operacional de semeadura. Também é considerada um dos principais fatores que interferem na qualidade de distribuição de sementes e dos fertilizantes. Isso ocorre devido ao sistema utilizado em 95% das semeadoras, que é acionado por roda motriz de terra, ou seja, quanto maior a velocidade, maior será a exigência do mecanismo distribuidor de sementes e fertilizantes, ocasionando oscilações na dosagem do produto que se deseja aplicar.
Por isso, é importante que o produtor saiba determinar a velocidade de trabalho a campo passo a passo, eliminando uma variável, dentre muitas existentes no sistema de semeadura com máquinas.
Conforme trabalhos de pesquisa, existem algumas velocidades pré-determinadas para cada cultura, conforme a tabela abaixo:
u Milho e girassol: 4,0 a 5,0 km/h.
u Soja, feijão, sorgo e milheto: 5,5 a 6,0 km/h.
u Culturas de inverno: 6,0 a 7,0 km/h.
É importante que o produtor esteja sempre monitorando a velocidade média de plantio para certificar-se que está dentro da velocidade média recomendada. O estabelecimento da população final de plantas e o número de falhas e duplas presentes na lavoura está diretamente ligado à velocidade de semeadura utilizada.
Veja a seguir o exemplo de algumas situações de campo, e como calcular a velocidade média da semeadora:
1ª situação: possui o tempo gasto para percorrer a distância de 50 m, mas quer saber quantos km/h esse tempo representa.
Calcular pela equação:
Tempo médio para percorrer 50 m: 30 s
Km/h: (distância percorrida x 3,6)/tempo gasto para percorrer a distância
Km/h: 180/30
Km/h: 6
2ª situação: possui a velocidade (km/h) teórica, mas precisa saber o tempo(s) que represente a mesma, na distância percorrida.
Calcular pela equação:
Velocidade desejada: 4,5 km/h
Tempo(s)/dist. percorrida: (distância percorrida x 3,6)/velocidade (Km/h) desejada
Tempo(s)/dist. percorrida: 180/4,5
Tempo(s)/dist. percorrida: 40 m
Regulagem da semeadora: para efetuar a regulagem do fertilizante, devemos levantar alguns dados, como:
_ A dose desejada (kg.ha-1): 300
_ Espaçamento entrelinhas (m): 0,80
_ Diâmetro da roda motriz da semeadora (m): 0,70m
_ A porcentagem de patinagem: 5%
1º passo: calcular a distância percorrida por volta da roda motriz, com a patinagem, por meio da fórmula:
Distância por volta (m) = diâmetro da roda (m) x 3,1416 x (1 + patinagem (%))
Distância por volta (m) = 0,70 x 3,1416 x (1 + 0,05))
Distância por volta (m) = 2,199 x 1,05
Distância por volta (m) = 2,31m
Obs: Pode ser realizado de outro modo, pela mensuração da circunferência da roda com uma trena, compensando a patinagem, caso já se conheça a mesma.
2º passo: calcular o número de metros de linha de semeadura por hectare:
Metros lineares de semeadura por ha = (1.0000/ espaçamento entre linhas (m)
Metros lineares de semeadura por ha = (10.000/0,80)
Metros lineares de semeadura por ha= 12.500 m
3º passo: calcular a dose do fertilizante por metro de linha:
Fert. por metro (g/m) = (dose de fert. (kg/ha) x 1.000)/metros de linha por ha)
Fertilizante por metro (g/m) = (300 x 1.000)/12.500)
Fertilizante por metro (g/m) = 300.000/12.500
Fertilizante por metro (g/m) = 24 g/m
4º passo: calcular a quantidade de fertilizante a ser coletado em 10 voltas da roda:
Fert. por volta da roda (g) = (Fert. por metro (g/m)) x distância por volta da roda (m))
Fertilizante por volta da roda (g) = 24 x 2,31
Fertilizante por volta da roda (g) = 55,42
Em 10 voltas = 554,4 g
Para acertar a dose, pode ser utilizado o cálculo da relação entre engrenagens que será a mais próxima do desejado, e assim permitir sua escolha.
Por exemplo:
Dose desejada: 56 g/volta da roda
Dose atual: 78 g/volta da roda
Engrenagens utilizadas: motriz 26 dentes e movida 18 dentes
Relação entre engrenagens atual = 26/18 = 1,44
Relação entre engrenagens desejada = (relação atual x dose desejada)/dose atual
Relação entre engrenagens desejada = (1,44 x 56)/78 = 1,03
Para obter uma dose mais próxima, poderia ser utilizada uma engrenagem movida de 25 dentes: 26/25 = 1,04
Trocando-se as duas engrenagens, poderia se chegar bastante próximo ao desejado: motriz de 25 e uma movida de 24 = 25/24 = 1,04
Cálculo da densidade de semeadura: o cálculo da quantidade de semente, nas semeadoras de precisão, é determinado em função da população de plantas que se deseja no campo. A população de plantas depende da cultura, condição de clima, solo, e finalidade a que se destina.
Uma vez definida a população, a densidade pode ser calculada, devendo ser levado em consideração alguns dados agronômicos da semente:
Por exemplo:
” População desejada de plantas (ha): 75.000
” Germinação: 95%
” Vigor: 85%
” Espaçamento entrelinha: 0,80m
” Patinagem: 5%
1º passo: calcular a distância percorrida por volta da roda motriz, com patinagem, pela fórmula:
Distância por volta (m) = diâmetro da roda (m) x 3,1416 x (1 + patinagem (%))
Distância por volta (m) = 0,70 x 3,1416 x (1 + 0,05))
Distância por volta (m) = 2,199 x 1,05
Distância por volta (m) = 2,31
Obs: Pode ser realizado de outro modo, pela mensuração da circunferência da roda com uma trena, compensando a patinagem, caso já se conheça a mesma.
2º passo: calcular o número de metros de linha de semeadura por hectare:
Metros lineares de semeadura por ha = (10.000/ espaçamento entre linhas (m)
Metros lineares de semeadura por ha = (10.000/0,80)
Metros lineares de semeadura por ha = 12.500m
3º passo: calcular o número de sementes por metro de linha:
Sementes por metro = (população desejadaa (ha)/metros de linha por ha)
Sementes por metro = (75.000/12.500)
Sementes por metro = 06
4º passo: corrigindo a germinação:
Sem/m corrigida: (Sementes por metro/germ. atual) x (germ. desejada)
Sem/m corrigida: ((6/95) x 100)
Sem/m corrigida: 6,3
Todo o potencial produtivo de um hibrido está na semente. A partir da semeadura, fatores externos começam a agir, reduzindo este potencial. Estes cuidados básicos na semeadura auxiliam no bom estabelecimento inicial da lavoura e na manutenção do estande de plantas desejado.
Certamente outros fatores, como o ataque de pragas e doenças e condições climáticas também irão influenciar no resultado final. O bom estabelecimento inicial, além de ser um dos poucos fatores em que o produtor pode influenciar diretamente, auxilia também no estabelecimento de plantas mais resistentes, e que podem suportar melhor estresses climáticos ou ataque de patógenos e pragas.